Trump poderá ser interrogado sobre alegada interferência russa nas eleições

O jornal The Washington Post revela que a equipa de advogados do Presidente norte-americano está em conversações para uma “entrevista presencial” com Robert Mueller, o procurador que lidera a investigação sobre o alegado conluio com Moscovo nas eleições presidenciais de 2016. O Presidente norte-americano poderá ser interrogado por Robert Mueller nas próximas semanas, no âmbito da investigação sobre a alegada interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos.  
Segundo o jornal The Washington Post, Robert Mueller esteve reunido com advogados do Trump no final do mês de dezembro para discutir as condições para uma eventual entrevista, como parte das investigações do Departamento de Justiça.

O diário norte-americano cita um responsável muito próximo do chefe de Estado – em condição de anonimato - e conta que o encontro juntou Mueller, James Quarles, responsável pela investigação à Casa Branca neste processo, e ainda John Dowd e Jay Sekulow, advogados do Presidente.  

A notícia não foi confirmada pela equipa de advogados de Donald Trump, mas o Post revela que o Presidente norte-americano se sente “confortável” perante a possibilidade de interrogatório e acredita mesmo que iria esclarecer todas as dúvidas sobre a alegada coordenação entre a sua campanha e responsáveis russos. 

No entanto, os advogados do Presidente estão relutantes em permitir um interrogatório aberto sem qualquer definição prévia dos assuntos a discutir. A equipa que defende Trump está a mobilizar esforços para que o chefe de Estado possa responder às perguntas por escrito, tal como aconteceu com Ronald Reagan, durante o caso Iran-contra, nos anos 80. 

A equipa de advogados - a mesma que na semana passada tentou impedir a edição do livro polémico de Michael Wolff - exige ainda a Robert Mueller que comprove que a entrevista com o Presidente é fulcral para o decorrer da investigação. Em breve, os advogados de Trump e a equipa do procurador voltam a reunir-se para discutir a possibilidade e os termos de um eventual interrogatório.  

No último sábado, em resposta aos jornalistas numa conferência de imprensa em Camp David, o Presidente norte-americano mostrou-se aberto a um interrogatório.

“Entendam que não houve conluio, não houve crime, e em teoria toda a gente me diz que não estou sob investigação. (…) Não fiz nada de errado, por isso vamos ser transparentes e acabar com isto. Porque, honestamente, isto é muito, muito mau para o país. Faz com que o nosso país pareça ridículo”, considerou o Presidente. 
Interrogatório não seria inédito

Solomon Wisenberg, responsável que interrogou Bill Clinton em 1998, refere ao Post que a investida de Mueller pode significar que a investigação à alegada interferência russa durante as eleições de 2016 “está próxima do fim”, até porque qualquer investigador “gostaria de saber o máximo possível antes de chegar ao Presidente”.

Desta investigação já se sabe que o antigo diretor de campanha, Paul Manafort, é acusado de 12 crimes no âmbito da colaboração com o Kremlin, entre os quais o crime de conspiração contra os Estados Unidos e branqueamento de capitais.

Em dezembro, Michael Flynn, ex-conselheiro de segurança de Trump, admitiu ter mentido ao FBI acerca de conversas com Sergei Kislyak, antigo embaixador da Rússia nos EUA, e aceitou cooperar com a investigação liderada por Mueller.

No início do mês, Paul Manafort decidiu processar o procurador Robert Mueller e o procurador Rod Rosenstein, acusando-os de terem excedido a sua autoridade, alegando que alguns crimes de que é acusado nada têm a ver com a campanha presidencial de 2016, o único tema sobre o qual estão autorizados a investigar. 

Robert Mueller foi diretor do FBI durante 12 anos, entre 2001 e 2013. Em maio de 2017 foi nomeado pelo Departamento de Justiça para coordenar a investigação à alegada interferência russa nas eleições presidenciais. Isto depois da polémica decisão de Trump de demitir James Comey, ex-diretor do FBI e antigo responsável por este mesmo inquérito. 

A acontecer, o eventual interrogatório presencial ao Presidente dos Estados Unidos não será inédito. Aconteceu em 1998, no caso que envolveu o então chefe de Estado Bill Clinton e Monica Lewinsky, e também com George W. Bush, que se voluntariou em 2004 para uma entrevista sobre a revelação indevida por parte de um membro da Administração da identidade de Valerie Plame, ex-agente da CIA, depois de o marido ter criticado abertamente a Guerra do Iraque. 

Antes, também Ronald Reagan foi interrogado em várias ocasições, presencialmente e por escrito, durante e já depois de terminar o segundo mandato na Casa Branca, no âmbito do escândalo Iran-contra. Em 1975, o republicano Gerald Ford foi inquirido na investigação sobre uma tentativa de assassinato de que fora alvo por parte de uma seguidora de Charles Manson, um dos criminosos mais conhecidos da história dos Estados Unidos.

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