Curdos acusam EUA de traição depois de terem combatido o Estado Islâmico

De acordo com Ancara, os turcos estarão a preparar uma operação militar no norte da Síria para criar uma zona de segurança na região, a leste do rio Eufrates, para a qual terão recebido “luz verde” dos Estados Unidos, apesar de não haver o envolvimento de tropas norte-americanas na intervenção.


A operação terá sido confirmada através de um contacto telefónico entre o Presidente Donald Trump e o seu homólogo turco Recep Tayyip Erdogan. “As forças norte-americanas não apoiarão nem se envolverão na operação. E as [nossas] forças que derrotaram o Estado Islâmico já não estarão na região”, explica um comunicado da Casa Branca, após o anúncio da operação pelo presidente turco.

Erdogan anunciou no sábado a iminência de uma intervenção contra as milícias curdas do YPG (Unidades de Proteção do Povo) e o seu braço político, o PYD (Partido da União Democrática), em território sírio: “Demos as ordens necessárias”.

O gabinete do Presidente Erdogan fez saber que a intenção é “limpar” a zona de elementos terroristas para estabelecer essa zona de segurança e poder fazer regressar cerca de dois milhões de deslocados sírios de forma segura. No mesmo passo, Ancara procura também reforçar a segurança da sua fronteira, acrescentou já esta segunda-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros Mevlut Cavusoglu.

Os Estados Unidos estão a ser atacados de ambos os lados: pelos turcos, que esperavam ter a ajuda norte-americana para a operação; mas mais ainda pela guerrilha turca que, durante anos, sacrificou os seus homens e mulheres – 11 mil combatentes, de acordo com a sua própria contagem – na luta contra as brigadas do Estado Islâmico que chegaram a dominar vastas zonas da Síria.

Os curdos encaram a retirada dos norte-americanos como uma facada nas costas depois de terem combatido do mesmo lado da barricada, não deixando contudo de ser verdade que o xadrez estratégico internacional (Washington, Moscovo e Damasco) que envolvia a confrontação do Estado Islâmico contra milícias curdas ou forças de libertação sírias tenha obrigado desde 2014 a uma grande ginástica política para se poder entender o conflito na Síria e no Iraque.
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