Coronavírus: Pânico e aflição dominam os estudantes dos PALOP em Wuhan, Cabo Verde vai retirar seus estudantes

"Queremos que nos ajudem a sair desta cidade, mesmo que seja para outra cidade aqui da China. Só queremos sair daqui", conta desesperada Jéssica Mendes Silva. A estudante guineense vive no epicentro do coronavírus, a cidade de Wuhan, onde frequenta o terceiro ano do curso de tecnologia.

"Nem dá para receber comida. Não há comida. Para comprar comida aqui é difícil. Há uma semana que o meu pai não consegue mandar dinheiro porque os bancos estão fechados. Realmente estamos aflitos", diz em entrevista à DW África.

Na capital da província de Hubei, no centro da China, há três estudantes guineenses. Guilende Pereira é uma delas e está igualmente alarmada: "Olha, aqui a situação está muito crítica, não sabemos o que fazer. Não tenho muito o que dizer, mas estamos muito mal aqui."

Cabo Verde prepara retirada de estudantes de Wuhan

Entretanto, segundo a Inforpress, Cabo Verde está a preparar a retirada dos seus 16 estudantes que estão em Wuhan, epicentro do surto do novo coronavírus, com a parceria de Portugal, revelou hoje o director do Serviço de Vigilância e Resposta às Epidemias.

Domingos Teixeira deu esta informação em conferência de imprensa para informar sobre a activação da Equipa Técnica Nacional de Intervenção Rápida (ETNIR), face a propagação do coronavírus.

“Há hipótese de os estudantes voltarem para Cabo Verde conforme a evolução da situação. Já estamos a criar plano para como organizar o regresso dos estudantes cabo-verdianos. Temos informações que, eventualmente, a sair, sairão junto com os portugueses”, afirmou.

Os estudantes cabo-verdianos a residir na zona de Wuhan, em quarentena devido ao surto do novo tipo de coronavírus, podem fazer parte do plano de evacuação, através de Xangai, que está a ser preparado pelo Governo português.

Conforme a mesma fonte, Domingos Teixeira explicou ainda, que caso isso venha a acontecer só fará plano de viagem quem o Governo chinês autorizar.

No domingo, a embaixadora de Cabo Verde na China informou que está em contacto com os 16 estudantes cabo-verdianos que vivem em Wuhan, cidade onde eclodiu a doença, e que estes estão albergados em universidades diversas e nas respectivas residências.

Numa nota publicada, na página do Facebook, Tânia Romualdo reafirmou que continuam em contacto permanente com os estudantes, através do grupo “Cabo-verdianos na China” na plataforma WeChat. Na China, encontram-se mais de 350 estudantes cabo-verdianos, 16 dos quais em Wuhan, refere a mesma fonte cita pela Inforpress.

Em Pequim a situação é menos complicada

Quem vive fora desta região crítica não está, segundo a DW-Áfrcia, tão alarmado assim. Há muita preocupação, sim, mas a vida ainda é levada com alguma normalidade, conta-nos o estudante angolano Arnaldo Dala, que frequenta o curso de engenharia em Pequim: "Por eu estar em Pequim, que é a capital, o vírus não se alastrou de tal forma que os mercados tenham escassez de comida. Ainda há alimentos em supermercados e mercados informais."

O moçambicano Francisco Sitói Jr. também vive na capital chinesa. O estudante diz que está de férias, que deveriam terminar a 24 de fevereiro, mas, por causa da doença, as autoridades chinesas adiaram o recomeço das aulas para uma data a anunciar.

A rotina de Jr. mudou muito desde o dia 20 de janeiro, quando começou a haver muita informação acerca do coronavírus.

"A situação que estamos a viver agora é de pânico, está todo o mundo com medo desse coronavírus, que tem vindo a matar e a contaminar cada vez mais pessoas - até hoje são cerca de 4.000. Então, a situação é de pânico, alerta total. A rotina mudou muito, digamos que estamos numa prisão domiciliar, somos até impedidos de nos movimentar."

A maioria dos estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), está na China no âmbito de parcerias entre os seus países e o gigante asiático, beneficiando de bolsas de estudo.

"Embaixada de Angola devia olhar pelos estudantes em Wuhan"

Neste momento crítico, que apoio recebem os estudantes das suas embaixadas?

"Não tenho muito a dizer a cerca da embaixada, porque faz pouco tempo que recebi uma chamada deles a perguntar como eu estava e como se encontravam também os outros alunos da mesma faculdade que eu. Perguntaram-me coisas básicas, se estava a faltar-me alguma coisa", começa por responder Arnado Dala, de Angola, citado pela DW-África.

O estudante recomenta ainda: "Se for para fazer alguma coisa [a mais], penso que a embaixada devia olhar para os estudantes que estão na cidade mais assolada pelo vírus. Que eu saiba, a embaixada está a fazer tudo o que é possível, consoante as suas limitações, vendo que estamos num outro país, apesar de que eles podiam fazer mais, como os outros países estão a fazer: estão a tirar os seus concidadãos dos lugares onde o vírus é mais alarmante".

E Dala assegura: "Até agora tenho conhecimento que nenhum angolano que se encontra naquela cidade foi infetado pelo coronavírus".

Estudantes em permanente contacto com a embaixada de Moçambique

Conforme ainda a mesma fonte, Também os moçambicanos não se sentem desamparados, pelo menos os que não estão em Wuhan.

Francisco Jr. conta o que a embaixada moçambicana tem feito pelos seus concidadãos: "Apoio temos tido, em termos de informação. A embaixada disponibilizou até os números [de telefone] para que, em caso de emergência, a gente possa contactar, nesse caso o número das autoridades chinesas. Então, temos estado em permamente contacto com a embaixada, com quem temos falado sobre como podemos ultrapassar essa fase. E tem havido muita informação".

Pelo adiantado da hora na China, não foi possível falar com nenhuma embaixada dos PALOP, mas a DW conta fazê-lo em breve.

Há na China aproximadamente 475 estudantes moçambicanos, 30 dos quais em Wuhan, perto de 500 estudantes angolanos e cerca de 350 estudantes cabo-verdianos, 16 deles em Wuhan. Quanto aos estudantes são-tomenses, não deverão ultrapassar os 200. Fontes: DWÁfrica/Inforpress


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