Cabo Verde: Ambiente de negócios pouco favorável apesar do discurso de crescimento económico
Apesar dos discursos do Governo sobre o crescimento económico e a redução de desemprego com contabilização de estágios profissionais, o ambiente de negócios é, segundo operadores económicos ouvidos por este jornal, desfavorável neste momento em Cabo Verde. Aliás, esta constatação - contrária as estatísticas contestadas do INE - foi já, esta semana, assumida pelos empresários da Boa Vista, como se pode ler na peça publicada neste jornal.
Mesmo na Praia, tida como motor da economia nacional, é já notável este ambiente desfavorável de negócios, traduzido principalmente por redução da facturação sobretudo a nível de pequenas e médias empresas e dificuldade de acesso ao crédito. Nas outras ilhas a situação é, segundo vários operadores económicos, muito mais pior.
Como consequência, algumas empresas estão a encerrar as portas - basta passar por Achada de Santo António, Palmarejo e arredores da cidade da Praia para se inteirar desta realidade no terreno - mesmo algumas unidades criadas recentemente. Outras estão a reduzir o seu pessoal para que possam manter em actividade. Ou seja, quem está mais a ganhar com actual política económica deste governo do MpD são, segundo os críticos, sobretudo as empresas estrageiras ou de direito cabo-verdiano dominado por capital estrangeiro - casos da Binter e de Cabo Verde Airlines que resultaram da privatização da TACV e a CV Inter-ilhas que explora as linhas marítimas inter-ilhas, algumas das quais com acesso ao crédito com aval do Estado, são apontados como exemplos.
Queda no Doing Business e Índice Global de Competitividade
Para observadores atentos, esta situação pouco favorável para negócios resulta do encarecimento dos factores da produção com a circulação restrita do dinheiro e das políticas públicas menos acertadas para o sector, provocando uma queda acentuada em indicadores importantes do país.
Recorde-se que, conforme o Banco Mundial referiu no seu Relatório do Doing Business 2020, Cabo Verde ocupa a posição 137, num universo de 190 economias avaliadas. Depois de ter caído 4 posições em 2019 ( de 127 para 131), em 2020 Cabo Verde caiu 06 posições (de 131 para 137). Ou seja, em dois anos, o País perdeu 10 posições no Ranking do Doing Business do Banco Mundial.
Mas o retrocesso do nosso país não ficou por aí. World Economic Forum (WEF) também publicou o seu Relatório sobre o Global Competitiveness Index (GCI) 2019, em que destacou a queda neste indicador. Cabo Verde caiu 01 posição no GCI 2019 (de 111 para 112), quando em 2018 tinha caído 06 posições (de 105 para 111). Portanto, em dois anos, o País caiu 07 posições no Índice Global de Competitividade.
Na ocasião, o atual Secretário-geral da Câmara de Comércio de Sotavento postou, na sua página de facebook, que a forte queda nos rankings do ambiente de negócios e da competitividade demonstra-nos que Cabo Verde está a perder o campeonato do doing business e a tornar-se um País menos competitivo, quando comparado com os seus concorrentes pela atracção de negócios e de investimentos empresariais privados. «O Governo augura-se de ser um reformador e fala de “reformar sem medo”. Contudo, para as autoridades competentes, é imprescindível analisar a eficiência, eficácia e efectividade das reformas realizadas, as reformas prioritárias, a lentidão na realização e implementação das reformas, sobretudo na regulamentação das leis e as prioridades estratégicas do País, mormente a nível de investimentos públicos prioritários e que, de facto, impactam a criação de factores de competitividade da economia cabo –verdiana», observou José Luís Neves.
Oxalá que, diante dos dados referidos, o governo de Ulisses Correia e Silva venha tomar medidas, antes que seja tarde e conforme as reivindicações dos empresários da Boa Vista, para melhorar o ambiente de negócios em Cabo Verde - todos ganham com isso!