Epidemia coronavírus: OMS declara emergência de saúde pública global. O que traz esta decisão?

Enquanto governos e empresas de todo o mundo já estão a lutar para travar a doença, este movimento preventivo pode acelerar a resposta ao surto, de várias maneiras. Ao passar a mensagem de que se trata de uma emergência de saúde pública grave, a OMS incentiva as nações a cooperar ao máximo, coordenando recursos humanos e materiais, bem como fundos, sempre com a agência das Nações Unidas especializada em saúde no comando.

Nos países infetados, os cidadãos vão ser aconselhados a seguir recomendações de saúde e higiene e o Comité de Emergência da OMS ganha autoridade para emitir alertas sobre os perigos de viagens para determinadas cidades, regiões e países. Ainda assim, só se costuma recorrer a este tipo de aviso quando se tratam de surtos rápidos e agressivos, como foi o caso da epidemia de SARS que, em 2002, afetou 29 países e matou 774 pessoas numa questão de meses.

Uma declaração de emergência de saúde pública global pode ter implicações para as companhias aéreas. No caso do coronavírus em concreto prevê-se que as mais afetadas sejam a Emirates - a maior transportadora de longa distância do mundo -, a Etihad e a Qatar Airways, que têm cerca de 160 voos semanais para a China e Hong Kong.

Além disso, a OMS tem poder para rever as medidas de saúde pública apresentadas pelos vários países para garantir a sua validade científica. Se um determinado país impuser restrições de viagem e comércio que ultrapassem as recomendações, como recusar a entrada a pacientes suspeitos, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde pode exigir uma justificação científica.

Devi Sridhar, professor de Saúde Pública Global na Universidade de Edimburgo, não deixa esquecer, em declarações à Bloomberg, que uma decisão desta envergadura envolve sempre política. Em 2014, os países da África Ocidental desencorajaram que fosse emitida uma PHEIC depois de terem sido atingidos pelo maior surto de ébola alguma vez registado. Por trás desta atitude estavam preocupações de nível económico.

Os Estados-Membros das Nações Unidas, em que Portugal está incluído, estão vinculados a regulamentos internacionais de saúde que têm de cumprir. Recusar fazê-lo, de acordo com Rebecca Katz, professora e diretora do Centro de Ciência e Segurança Global da Saúde da Universidade de Georgetown, pode tornar-se numa questão de direito internacional.

"Há aqui uma preocupação no que respeita a pandemia"

Francisco George, antigo diretor-geral da Saúde, não ficou espantado com a decisão da Organização Mundial de Saúde em avançar com a declaração de emergência de saúde pública global por causa do novo coronavírus.

"Uma situação esperada atendendo à situação que tem sido relatada na China e à possibilidade de novos casos surgirem noutros continentes. Há aqui uma preocupação no que respeita a pandemia e é preciso que todos saibam que a pandemia significa a propagação da epidemia simultaneamente em mais do que um continente", explicou à TSF Francisco George, antigo diretor-geral da Saúde.

O ex-diretor-geral da Saúde não tem dúvidas: os países devem unir esforços para tratar desta epidemia.

"O nível de alerta subiu. Todos os Estados-Membros têm de pôr em ação medidas de prevenção e controlo que estão previstas pelos respetivos departamentos dos Ministérios da Saúde dos diferentes países.

Número de mortes sobe para 212 - Em 24 horas morreram 42 pessoas

Entretanto, segundo noticias de ultima hora da NM, o número de pessoas que morreram, na China, na sequência do novo coronavírus, subiu para 212, na noite desta quarta-feira. O número de diagnosticados com o ’2019-nCoV’ também subiu para 9042.

De acordo com as Autoridades de Saúde da Província de Hubei, cuja capital, Wuhan, é o epicentro do surto, hoje bateu-se um recorde trágico. Em 24 horas, morreram 42 pessoas.

Recorde-se que, também esta quarta-feira, a Organização Mundial de Saúde declarou emergência de saúde pública internacional devido à propagação do vírus.

Coronavírus teve origem em morcegos

Cientistas chineses concluem que o vírus teve origem em morcegos, que por sua vez, transmitiram a um animal selvagem, ainda desconhecido. Doença já provocou a morte a 212 pessoas na China.

Segundo a Lusa, um estudo genético esta quarta-feira divulgado confirma que o novo coronavírus com origem na China terá sido transmitido aos humanos através de um animal selvagem, ainda desconhecido, que foi infetado por morcegos.

O estudo, conduzido por cientistas chineses, incluindo do Centro de Prevenção e Controlo da Doença da China, analisou o genoma do coronavírus de nove doentes diagnosticados com pneumonia viral, na cidade de Wuhan, onde começou o surto em dezembro.

Conforme a mesma agência de notícias, o trabalho, divulgado na publicação médica britânica The Lancet e que valida em laboratório uma tese assumida por especialistas, sugere que o novo coronavírus, designado provisoriamente pela Organização Mundial de Saúde como "2019-nCoV", teve como hospedeiro inicial um morcego e foi transmitido às pessoas através de um animal selvagem, ainda desconhecido, que era vendido no mercado de animais vivos de Huanan, em Wuhan, capital da província de Hubei, no centro da China.

Embora com cautelas, os autores do estudo admitem que o novo coronavírus não é resultado de uma mutação genética de outro coronavírus, mas pode ter entrado nas células humanas da mesma forma que o coronavírus que causou a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), também identificada pela primeira vez na China, em 2002 e 2003.

Os investigadores analisaram amostras de genomas (informação genética) do "2019-nCoV" - oito sequências completas e duas parciais - recolhidas dos nove doentes com pneumonia viral. Oito dos pacientes frequentaram o mercado de Huanan, o restante esteve num hotel próximo antes de ficar doente.

De acordo com a equipa científica, as amostras das sequências genéticas são quase idênticas, pelo que o coronavírus terá emergido nos humanos muito recentemente e sido detetado rapidamente.

Além do território continental da China, foram reportados casos de infeção em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Austrália, Canadá, Alemanha, França, Finlândia, Itália e Emirados Árabes Unidos. Fontes: TSF/LUSA/NM;Imagem: Luca Zennaro/EPA (foto principal)

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