PAICV acusa Governo de destruir ganhos alcançados no sector da Cultura durante a governação do partido
A Segundo a Infiorpress, a acusação foi feita pelo líder da bancada parlamentar do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV-oposição), Rui Semedo, que considerou que qualquer ganho sobre a cultura cabo-verdiana deve partir do pressuposto básico de que o país tem um grande património construído com a contribuição de todos.
Do nosso ponto de vista do PAICV, prosseguiu, os titulares da pasta da Cultura deveriam todos partir do princípio que herdaram um bem, muito precioso, não para inventar, mas sim para fazê-lo valorizar ainda mais e entregar ao seu sucessor um produto com maior valor acrescentado pronto para receber novos ganhos.
Rui Semedo lembrou, neste sentido, que quem faz a cultura é o povo e o titular da pasta da Cultura deveria ser um elemento facilitador para permitir a realização do produto cultural no mercado doméstico e em todos os palcos mundiais para a divulgação e promoção dos resultados.
“Senhor Ministro, estou a confrontá-lo com estas ideias para fazê-lo ver que gerir a cultura é pegar no existente e continuar a caminhada, é somar ganhos, é preservar as conquistas, é caminhar para frente e nunca destruir e estribar-se na perniciosa ou peregrina ideia de que para se avançar tem que se destruir os outros e os seus legados ou perseguir as sombras”, declarou segundo a mesma fonte.
“Este pode ser um caminho, mas, seguramente, com cortes, com perdas,
com descontinuidade, com prejuízos e com desvalorização das conquistas”,
ressalvou, responsabilizando o ministro Abraão Vicente de estar a
colocar em causa tudo o que
encontrou.
O que o ministro destruiu
Rui Semedo fez questão de recordar todos antigos ministros da Cultura, rendendo-lhes uma justa homenagem. «Falo do David Hoppfer Almada, falo do Corsino Fortes, falo do António Jorge Delgado, falo do Jorge Tolentino, falo do Manuel Veiga e falo do Mário Lúcio. Todos eles colocaram as suas pedras nesta caminhada de identificar e valorizar o que somos e o que produzimos. Podíamos estar a falar de toda a geração de técnicos que ajudaram a pôr de pé a Instituição que cuida das questões culturais cujo trabalho e capital merecem e devem ser reconhecidos e valorizados».
O deputado lembrou o que o ministro Abraão Vicente encontrou e destruiu. «Encontrou lançadas as sementes para a construção de uma rede de museus parece que as destruiu e o que colocou em cima da mesa como alternativa? Ou será que para V. Excia os museus não são importantes e não contam? Ou ainda para si os museus não constituem instrumentos para a valorização da memória? Encontrou, em fase já reconhecida de montagem, a Orquestra Nacional, cancelou o projeto e o que é que colocou em cima da mesa como alternativa? Ou será que para V. Excia sonhar ter neste nosso Chão uma Orquestra Nacional é um luxo? Não seria um grande ganho começar a invadir o mundo com as mornas, também, cantadas e tocadas pela Orquestra Nacional? Encontrou em montagem o Ballet Nacional que também não escapou a sua sanha destruidora. O que colocou em cima da mesa para substituir esta iniciativa? Ou também para V. Excia o ballet é coisa apenas de gente fina, de gente farta que se preocupa com as coisas da alma e do espírito?.Sei que chegou a evocar razões de ordem financeira mas sabia, por acaso, que se fosse por estas razões mesquinhas Cabo Verde não sonharia com a sua independência?», destacou.
Mas, segundo o parlamentar tambarina, a ação destruidora de Abraão Vicente não ficaram por aí. «Encontrou no AME uma grande janela de promoção da nossa cultura e do próprio país do mundo e, todos nós, ouvimos de si, de forma categórica, que era um projeto que deveria ser descontinuado tendo em conta os custos da sua continuidade. Não fosse a pressão e exigência dos privados, fazedores da cultura, hoje outros já teriam agarrado esta oportunidade que V. Excia(minstro) não quis valorizar. Encontrou a estruturar-se o projeto do Conservatório. O que fez dele? Ou acha que é um desperdício investir na formação de músicos para continuar a produzir e interpretar as nossas magníficas músicas de todos os géneros?Encontrou, de pé, as chamadas Curadorias e extinguiu-as a todas. Quais as alternativas apresentadas?», enumerou.
Para além desta saga de destruição dos vestígios dos seus antecessores, diga-se de passagem, na contramão do que a Cultura valoriza porque uma das dimensões da valorização da cultura é investigar, valorizar e preservar os vestígios, Semedo questiona o que é, de estruturante, que protagonizou protagoniza para o Sector que dirige.
Reação do MpD e da UCID
Por seu turno, o deputado do Movimento para a Democracia (MpD) Alcides de Pina destacou o trabalho que este Governo tem feito na promoção dos sectores da cultura, comunicação social e das indústrias criativas.
“A cultura constitui, sem margens para dúvida, um dos pilares da governação do MpD que lhe atribui uma atenção muito especial e a razão provem da cultura ser a alma deste arquipélago”, disse o deputado, segundo ainda a Inforpress, referindo, que o programa do Governo contém estratégias “claras e assertivas” e que os resultados estão a vista de todos.
Lembrou, neste sentido, que foi com os ministros do MpD que Cabo Verde, como nunca visto, soube aproveitar e promover a cultura enquanto seu bem maior, desfazendo assim o mito de que o PAICV era o partido que mais promovia o sector através do seu programa de governação.
No sector da comunicação social, destacou, o Governo decidiu por bem fazer a separação da RTC e Inforpress, tratando-se, no seu entender, de uma medida adoptada para corrigir um erro estratégico que prejudicou os trabalhadores das duas empresas.
Destacou os ganhos alcançados a nível da liberdade de imprensa com a governação do MpD realçando, que isto mostra que Cabo Verde é um país credível que respeita e promove a liberdade de expressão e de pensamento.
Por sua vez, a deputada da União Cabo-verdiana Democrática e Independente (UCID) Dória Oriana apelou a conservação de todos os monumentos históricos em todas as ilhas, reforçando que os mesmos são fontes importantes que fazem parte da história cabo-verdiana.
Chamou ainda a atenção para a valorização oficialização da língua materna, perspectivando, por outro lado, que o debate com o ministro da Cultura possa revelar todas as acções e políticas que vem sendo implementadas na promoção do sector.
Por seu turno, o ministro da Cultura recusou responder as declarações do líder da bancada parlamentar do PAICV considerando que quatro anos depois, o PAICV está ainda ancorado no debate de diabolização do ministro que tutela o sector da cultura e das indústrias criativas.
“Podemos não concordar, podemos não estar dispostos em reconhecer o mérito das acções e prácticas de um partido político, que não faz parte da nossa escola ideológica, podemos não estar dispostos em reconhecer publicamente no debate parlamentar, agora vir quatro anos depois perguntar quais são as alternativas do actual Governo”, questionou, estranhando, por outro lado, o facto de Rui Semedo não ter falado nada sobre o sector da comunicação social, que tutelava na governação do PAICV.
Segundo a Inforpress, destacou ainda as medidas implementadas na restruturação da Agência Cabo-verdiana de Notícias – Inforpress, com o actual Governo e os ganhos registados nas diferentes áreas do ministério sob a sua responsabilidade.
Durante a primeira sessão plenária haverá ainda, perguntas ao Governo, e aprovação de iniciativas legislativas como a proposta de lei que cria e regula o estatuto de projecto de mérito diferenciado, que cria o Conselho de Finanças Públicas, o Conselho de Prevenção da Corrupção, entre outros pontos.