Cabo Verde e Portugal querem combate ao racismo "todos os dias" com serenidade e inteligência
“O combate pelo respeito do outro, da diferença, pela integração, pela inclusão, pela fraternidade é um combate de todos os dias, tem de se fazer todos os dias na vida social porque é um combate cultural e cívico. Tem de se fazer com bom senso, com serenidade e evitando escaladas e certo tipo de reações que são contraproducentes”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República falava aos jornalistas, na Casa do Alentejo, em Lisboa, ao lado do homólogo cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, no final de uma conferência para assinalar os 50 anos da Associação Caboverdeana de Lisboa, durante a qual as dificuldades de integração e os obstáculos colocados pelo racismo centraram a parte dos debates.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu um combate “pela positiva” a manifestações racistas e discriminatórias.
“O nosso papel é fazer pedagogia positiva, do respeito das constituições, dos mesmos valores da democracia, do estado de direito, da igualdade, da fraternidade, da não discriminação e da não intolerância”, disse.
O chefe de Estado cabo-verdiano, a quem coube encerrar a conferência, alertou na sua intervenção para o agudizar das “dificuldades de inserção social” dos cabo-verdianos, sobretudo os mais jovens, em Portugal, indicando como expressões dessas dificuldades “o desemprego, o aumento do número de descendentes de cabo-verdianos nos estabelecimentos prisionais, o insucesso e o abandono escolar e uma certa conflitualidade emergente” com as autoridades locais.
Jorge Carlos Fonseca apontou também a “existência de manifestações de racismo e intolerância”.
“Essas situações que resultam de uma multiplicidade de fatores e que são protagonizadas por setores minoritários, devem ser combatidas, com determinação, muita inteligência, serenidade e em articulação estreita com as numerosas organizações portuguesas que se posicionam claramente contra elas”, defendeu.
O debate sobre o racismo intensificou-se nos últimos tempos em Portugal com a mediatização de episódios envolvendo cidadãos africanos, de que o caso do futebolista do FC Porto, Marega, é o exemplo mais recente.
O assunto não passou ao lado da conferência organizada para assinalar os 50 anos da ACV, com a deputada do Bloco de Esquerda, Beatriz Dias, a defender, durante um painel sobre integração das novas gerações de africanos, que há “manifestações de um racismo bastante enraizado e bastante naturalizado” na sociedade portuguesa.
A parlamentar, nascida no Senegal e de ascendência guineense, considerou que uma das maiores dificuldades nesta matéria é o “reconhecimento de que as manifestações de racismo configuram obstáculos aos direitos e à emancipação dos negros em Portugal”.
“Existem manifestações de racismo e essas manifestações são uma das causas da desigualdade e da exclusão social”, adiantou.
Beatriz Dias encontra muitas das origens deste racismo no processo colonial português, defendendo a necessidade combater o eurocentrismo no ensino da História desse período, bem como de promover uma “justiça histórica” para o continente, as civilizações e as culturas africanas para combater a ideia de “inferioridade biológica e cultural” que continua a existir na sociedade portuguesa. A Semana com Lusa