Covid-19/Fogo: Empresa suspendeu actividades e deixou perto de três dezenas de criadores em dificuldades

A empresa Suifogo, que labora na produção de derivados de pecuária, suspendeu as suas actividades há mais de uma semana devido às medidas de prevenção e combate ao novo coronavírus e deixou perto de 30 criadores em dificuldades.

Segundo alguns criadores/fornecedores da matéria-prima a esta empresa de transformação, desde início de Março, com restrição na entrada de turistas, a mesma racionalizou a produção com consequente redução na entrada de volume leite para fabrico de queijo e requeijão.

Para os criadores, há pouco mais de uma semana, com as medidas de prevenção do novo coronavírus (covid-19) a empresa paralisou a produção e todas as suas actividades, deixando assim os cerca de 30 criadores numa “situação complicada”.

João José de Andrade, também conhecido como Djoy, que antes da problemática do novo coronavírus fornecia perto de 50 litros diários de leite à empresa, à Inforpress avançou que com a paralisação e suspensão da produção ele e os demais criadores, que viviam situações difíceis decorrentes das secas consecutivas, estão agora “mais fragilizados e sem alternativas”.

Este disse que o sustento e a sobrevivência dele e da sua família dependia do pouco rendimento que obtinha com o fornecimento de leite à empresa.

Observou que a maior fatia deste rendimento destinava-se a alimentação dos próprios animais, devido a “ausência de pastos nas zonas sul e centro da ilha”, deixando claro que neste momento o que está em causa é a sobrevivência das famílias dos criadores e dos seus animais.

Este criador da zona de Jardim/Batente indicou que o problema é que “não há uma saída” e mesmo que os criadores queiram produzir o queijo nas suas residências não o podem fazêr, pois deparam com a questão da comercialização.

A nível local, o produto “não tem saída” porque o mercado “é exíguo e com muitos produtores” e não podem encaminhar o produto para a Cidade da Praia, o principal mercado, salientou a mesma fonte, acrescentando que os próprios estão impedidos de se deslocarem para vender o leite ou o queijo, devido ao estado de emergência em vigor.

“Nunca dependi do Estado, mas nesta situação os criadores precisam de algum apoio para sobreviverem com as suas famílias”, salientou Djoy, para quem o problema é ainda maior porque nas listas que estão a ser elaboradas para assistência “os pastores não estão a serem incluídos”.

Augusto, criador há vários anos e residente em Monte Grande, avançou, por seu lado, disse que a situação já era difícil para os criadores das localidades situadas entre Brandão (São Filipe) e Figueira Pavão (Santa Catarina), área de maior concentração de pecuária da ilha, devido a três anos de seca consecutiva, complicou ainda mais, deixando assim os criadores abandonados à sua sorte.

Este apontou que a empresa deixou de receber leite, com razão, e os criadores mesmo querendo produzir não tem alternativa, exemplificando que ele próprio está a confeccionar o queijo em casa, mas que o produto está a danificar-se por falta de mercado, por um lado, e, por outro, porque não podem sair para vender.

“Os criadores e agricultores foram esquecidos, já não fazem parte da lista dos cabo-verdianos”, desabafou o criador de Monte Grande, esperando que as autoridades tenham consciência da realidade vivida e tomem algumas medidas para garantir o sustento para as suas famílias e ajudar a salvar os seus animais, para que após a pandemia possam retomar as suas vidas.

Napoleão Centeio Alves, também conhecido como Nany, outro criador de Monte Grande (sul) que fornecia leite à empresa Suifogo, asseverou que com a paralisação da empresa os criadores ficaram “completamente bloqueados e sem alternativas”.

Depois de lutar, nos últimos três/quatro anos para salvar os seus animais, donde provem o sustento para muitas famílias, este explicou que a situação actual não garante a sobrevivência, pois, segundo o mesmo, os criadores não dispõem de reservas porque ao longo desses anos utilizaram “os parcos recursos” na aquisição de milho e ração para salvação dos seus animais.

“É necessário a prestação de assistência aos criadores para ultrapassar esta fase difícil”, defendeu Nany, sublinhando que ainda ninguém os apoiou pese embora está a circular informação de que o Ministério da Agricultura e Ambiente vai distribuir, a partir de 10 de Abril, os vales cheques, mas não sabe se é para milho ou ração, ou se para ambos.

“Contrariamente aos anos anteriores, hoje os criadores não estão em condições financeiras para completar o valor dos vales cheques para aquisição de milho e ração para alimentar os seus rebanhos”, avançou.

Um dos responsáveis da empresa Suifogo, contactado pela Inforpress, assegurou que a mesma suspendeu todas as suas actividades há pouco mais de uma semana devido a situação criada pela pandemia do novo coronavírus, indicando que os principais clientes, na Cidade da Praia, solicitaram o cancelamento no envio dos produtos, além de outros constrangimentos.

Antes da suspensão das actividades, a Suifogo transformava perto de 500 litros de leite/dia fornecido por uma média de 30 criadores da zona sul e centro da ilha em queijo e requeijão, além dos derivados de pecuária como linguiça, chouriço e bacon, que são comercializados nos mercados das ilhas do Fogo e de Santiago, referiu a mesma fonte.

JR/AA

Inforpress/Fim

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