Estudantes e professores da Universidade Lusófona de Cabo Verde descontentes com aulas online
Na Cidade da Praia, as medidas de combate à pandemia do novo coronavírus mantêm milhares de estudantes e docentes universitários em casa. São tempos estranhos e a situação é única, mas o ensino em tempos de isolamento não funciona de maneira igual para todos.
Segundo apurou este jornal, o problema maior é que a implementação dos cursos à distância não agradou alunos de algumas instituições de ensino que laboram na capital do País. Pelo menos, muitos professores e estudantes da Universidade Lusófona de Cabo Verde mostram-se indignados com esta medida e denunciam a falta de diálogo e de condições para aquisição de equipamentos informáticos para acompanhar as aulas on-line.
Com medo de represálias por parte da instituição, alguns estudantes preferem não se identificar. Eles relatam a este diário digital que, além de mudar as aulas de presenciais para virtual, não possuem condições económicas para a aquisição de um computador ou um tablet, mormente para aceder à internet.
“São muitos que vieram de outras ilhas ou do interior da ilha para estudar na Universidade Lusófona de Cabo Verde e a maioria beneficia de apoios das Câmara Municipais ou da FICASE por causa da vulnerabilidade familiar. Aliás, temos outras despesas familiares, nomeadamente pagamento de renda, alimentação, transporte entre outras básicas”, desabafa uma aluna do Curso de Gestão e Contabilidade.
Esta realidade se repete para outros estudantes matriculados noutros cursos da ULCV. Outra aluna da ULCV de 23 anos e que mora em Santiago Norte, disse ao Asemanaonline que em casa da família onde mora, não tem acesso à internet. “Estou passando os dias de quarentena com os meus pais. Aqui não há internet rápida e o sinal do celular oscila, só funciona em alguns lugares”, contou, acrescentando que não conseguirá assistir a nenhuma aula e nem saberá como será avaliada, porque ninguém lhe disse nada sobre isso.
Para outro aluno do curso de Design, o principal problema da implementação do ensino à distância é a ausência de comunicação entre universidade e alunos. “O que mais incomoda é a falta de diálogo. Se não houver a participação dos alunos, muitas incertezas aparecem. Não tenho acesso à internet e infelizmente, não tenho computador. Só tenho o celular e não tenho como participar das aulas on-line que a universidade nos oferece pelo aplicativo", disse.
Por conta dessa situação, muitos estudantes já analisam a possibilidade de abandonarem os cursos ou transferência para outras universidades da Cidade da Praia, que ofereçam cursos verdadeiramente presencial. “O problema é a ineficácia das aulas à distância para quem não tem acesso à internet. As atividades on-line, por meio da plataforma, com um computador e aplicativo para celular permite que o estudante entre com login e senha, num espaço que possa visualizar turma e os componentes curriculares respectivos a cada série, mas o acesso à Internet está difícil e nem todos podem ter oportunidade de comunicar com os docentes”, aponta um aluno do 3º ano do curso de Direito.
Os sentimentos de muitos professores são semelhantes aos dos alunos. “Esta preocupação, não só reina no seio dos estudantes, como também no dos professores. Estudar em casa sozinho, sem auxílio do professor é difícil porque a maioria se perde no que está estudando. Do nosso ponto de vista, a aula presencial é muito importante, principalmente para os alunos que terminam o curso este ano e as modalidades de avaliação de aprendizagens não terão peso credível e nem terão impactos que satisfaçam os estudantes”, indica um professor com largos anos de docência, sublinhando que os alunos têm um contrato com a universidade para assistência de aulas presenciais e não à distância. “Para já, o País ainda não está preparado para aulas on-line e medidas do tipo não devem ser tomadas sobre joelho, sem que se reúna com toda a comunidade académica. Além do mais, a maioria dos docentes nunca deu aulas à distância”, conclui o porta-voz dos professores.
Posição da Universidade
Enquanto a pandemia do novo coronavírus avança a passos largos, com mais de 200 mil contagiados globalmente, universidades do nosso País tentam mudar suas rotinas e modos de ensinar para proteger a comunidade académica.
Em conversa com uma fonte próxima da Direção da Universidade Lusófona de Cabo Verde (ULCV), na Cidade da Praia, o Asemanaonline conseguiu saber que as plataformas digitais não substituirão as aulas presenciais e que o calendário deverá ser revisto para que se cumpra a carga horária dos dias letivos exigidos por lei. “Os alunos seguem um cronograma diário de atividades pelas plataformas, as atividades são programadas para manter o ritmo de seus estudos, mas não substituem o ensino presencial. Aliás, o ensino à distância ocorre de forma virtual, via internet, à qual os alunos e professores têm acesso, enquanto se perdure o período do estado de imergência no País, e esta medida tomada é uma das alternativas para repor as aulas”, destaca a fonte, que não quis gravar esta entrevista.