PAICV aponta dívida de 2,4 milhões de dólares para suspensão da Cabo Verde Airlines
“O facto é que essa suspensão, feita pela
IATA, veio demonstrar que o que está em causa é uma dívida de, aproximadamente,
2,4 milhões de dólares [2,2 milhões de euros] com a IATA”, apontou, em
conferência de imprensa, na cidade da Praia, o vice-presidente do Partido
Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Nuías Silva.
A reação do PAICV surge dois dias após a
Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) anunciar a suspensão da
Cabo Verde Airlines (CVA) do BSP (Billing and Settlement Plan) em Portugal,
tendo convidado os agentes a suspenderem imediatamente todas as atividades de
emissão de bilhetes em nome da companhia aérea.
Para o dirigente partidário, essa suspensão
é “gravíssima e traz grandes danos para o país”, já que, justificou, em regra,
a IATA só adota esta postura quando as companhias estão em vias de falência.
Por isso, Nuías Silva entendeu que por trás
da aceleração da decisão estão declarações feitas pelo Governo, através do
ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos, numa entrevista à Rádio de
Cabo Verde, a 8 de abril, onde aborda o risco da não sobrevivência da Cabo
Verde Airlines, após esta paragem, por causa da pandemia do novo coronavírus.
“Estas declarações graves, vindas de um
membro do Governo, terão despertado uma atenção especial dos vários credores da
CVA, de entre os quais a IATA”, sustentou o político, notando, por outro lado,
que a situação da empresa é grave “e não é de hoje”.
“E a realidade também tem demonstrado que,
após a privatização, com a nova gestão da CVA, os problemas se agravaram, as
dificuldades aumentaram, as dívidas e passivos foram se acumulando e o Estado
continuou a injetar recursos e capitais, quer de forma direta, quer de forma
indireta - através das garantias e avales, para empréstimos junto do sistema
financeiro”, mostrou.
Para o PAICV, essa situação poderia ser
evitada “caso houvesse maior transparência e responsabilidade do Governo na
condução deste dossiê".
O partido entende também que a suspensão e
comunicação da IATA mancham o bom nome e a credibilidade de Cabo Verde, pois
caso a situação não seja regularizada, dentro de 30 dias, com a retirada do
Código VR, a CVA fica impossibilitada de toda e qualquer operação comercial.
“Tal situação de suspensão, para além de
afetar diretamente a imagem do país e da CVA, impacta diretamente as agências
de viagens nacionais e clientes individuais, pois a suspensão inclui as vendas
pendentes e reclamações de reembolso também pendentes que já não serão
liquidadas pela IATA”, prosseguiu Nuías Silva, na conferência de imprensa,
dizendo que o partido quer, por isso, esclarecimento do Governo sobre a real
situação da empresa.
Numa nota enviada à imprensa, a
administração da Cabo Verde Airlines avançou que está em negociações com IATA
para resolver a questão da suspensão de emissão de bilhetes “o mais rápido
possível”.
Também avançou que está a “trabalhar
arduamente para responder a todos os requisitos e obrigações mandatórios para
regularizar todos os processos”.
“A disseminação do coronavírus, COVID-19,
tem implicações importantes para as companhias aéreas e para os seus clientes e
a Cabo Verde Airlines não está imune a esta realidade”, sublinhou, indicando
que todas as companhias aéreas do mundo estão a perder receitas “sem
precedentes”.
A companhia aérea de bandeira foi
privatizada em março de 2019, com a venda de 51% do capital social a
investidores islandeses, liderados pela Icelandair. Durante o ano de 2019
avançou ainda a venda de 10% a trabalhadores e emigrantes, e estava prevista a
venda da restante participação a investidores institucionais.
A 18 de março, a companhia aérea , que
conta atualmente com 330 trabalhadores, suspendeu todos os voos comerciais,
quando o Governo interrompeu todos os voos internacionais devido à pandemia de
COVID-19.
A CVA pretende retomar os voos domésticos a
01 de julho próximo.
Em 22 de março, em entrevista à Lusa, o
primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, afirmou que a CVA será uma das
empresas objeto de medidas de apoio à economia e que a alienação dos 39% que o
Estado ainda detém na companhia será adiada.
O presidente da Cabo Verde Airlines (CVA),
Erlendur Svavarsson, disse também à Lusa que os acionistas islandeses trabalham
numa solução financeira de longo prazo e acreditam que, apesar de afetado, o
projeto não está em causa, embora precisem do apoio do Governo cabo-verdiano. A Semana
com Lusa