Oposição cabo-verdiana diz que situação na Praia está descontrolada

Num requerimento dirigido ao presidente da Assembleia Nacional, em que o líder parlamentar do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Rui Semedo, solicita uma interpelação ao Governo, lê-se que apesar dos esforços, a doença “conseguiu furar” as “fortalezas montadas para a sua prevenção” no arquipélago.

“E parece ter-se instalado no país, designadamente na cidade da Praia, onde a situação parece ter fugido ao controlo das autoridades”, refere o requerimento, que solicita essa interpelação ao Governo, a ter lugar na próxima sessão parlamentar, nos dias 13 e 14 de maio.

A cidade da Praia, capital do país, é o principal foco da doença em Cabo Verde, com vários casos positivos diariamente, a presença da covid-19 em pelo menos 25 bairros e um total de 156 doentes confirmados entre os 218 diagnosticados em todo o arquipélago desde 19 de março.

“As medidas de confinamento, de distanciamento físico e distanciamento social, de condicionamento de circulação e outras, que eram claramente necessárias, acabaram por impactar fortemente a frágil economia do país e a vida das pessoas que foram submetidas a um conjunto de dificuldades que vão perdurar por largos tempos”, acrescenta o requerimento do PAICV.

O partido tem vindo a criticar duramente a ausência dos habituais debates mensais com o primeiro-ministro – em março e abril -, devido à pandemia de covid-19 e ao decretar do estado de calamidade e depois do estado de emergência, defendendo neste requerimento a “firme convicção de que o parlamento deve estar atento”.

“E procurar envolver-se, o máximo que puder, para reflexões conjuntas com o executivo, mas também com a sociedade, para se desenhar as medidas mais acertadas para fazer face à pandemia e ao pós-pandemia. Daí a utilização do instituto de Interpelação ao Governo para se provocar um debate salutar em torno do que Cabo Verde está a fazer para enfrentar esta crise profunda que o mundo inteiro está a enfrentar e que tem fortes impactos nestas ilhas”, lê-se.

O requerimento é acompanhado das perguntas que o partido pretende colocar ao Governo – suportado pelo Movimento para a Democracia (MpD) -, como sobre “a situação real que o país vive nesta fase”, no combate à covid-19, qual o grau de implementação das medidas desenhadas para fazer face à pandemia “e quais são os seus impactos”, ou qual a “real situação da economia do país e que ações estão a ser desenvolvidas para a sua reanimação no pós-crise”.

O PAICV vai mais longe e quer explicações do Governo para o “facto de empresas públicas e algumas autoridades reguladoras estarem a despedir pessoas ou estarem a mexer nos salários dos trabalhadores” nesta fase de crise generalizada, com o país em estado de emergência desde 29 de março, empresas fechadas e a população obrigada ao dever de recolhimento.

“Qual o verdadeiro diagnóstico da situação das pessoas e das famílias que tiveram que enfrentar a situação de calamidade e o estado de emergência, sem estarem devidamente preparadas”, questiona ainda o PAICV, na interpelação que pretende fazer ao Governo.

Cabo Verde regista 230 casos acumulados de covid-19, distribuídos pelas ilhas de Santiago (171), Boa Vista (56) e São Vicente (03), mas 44 já foram considerados recuperados.

Em todo o país, duas pessoas acabaram por morrer, na Praia (Santiago) e na Boa Vista, e dois turistas estrangeiros, também infetados, regressaram aos países de origem, totalizando por isso 176 casos ativos em Cabo Verde.

As ilhas de Santiago e da Boa Vista, por concentrarem os casos de covid-19 em Cabo Verde (os três casos de São Vicente já foram dados como recuperados), são as únicas que permanecem em estado de emergência, até às 24:00 de 14 de maio.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 267 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios. A Semana com Lusa

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