Estudantes do Fogo em Santiago com dificuldades para alimentação e estadia

São mais de 300 estudantes da ilha do Fogo a viver em Santiago, nos concelhos da Praia e Santa Catarina. Alguns bolseiros e outros não, muitos são de famílias que não conseguem arcar com todas as despesas de estudo, estadia e alimentação dos filhos.

Estes estudantes, que frequentam universidades na Praia e na Assomada, estão passando por restrições impostas pelo novo coronavírus e pelo estado de emergência. Estão também expostos a vários tipos de necessidade, que vão desde a alimentação, renda de casa e gastos com internet para estudar a distância.

A maioria divide renda de casa com outros colegas e muitos estão mesmo a passar fome, segundo contou o porta-voz, Lúcio Baptista, ao A Semana online.

Alguns conseguiram regressar a sua ilha natal antes do estado de emergência. Os que ficaram pedem o apoio das autarquias dos seus concelhos de residência no Fogo e mesmo do Governo.

Segundo Lúcio Baptista, alunos dos concelhos de Santa Catarina e dos Mosteiros chegaram a receber algum apoio das câmaras municipais, mas, em relação a São Filipe, os estudantes naturais deste concelho ainda aguardam uma ação concreta da autarquia, que, entretanto, já manifestou interesse em ajudar.

“Estamos numa ilha que não é a nossa e em confinamento. Para muitos de nós falta o básico para garantir a alimentação, bem como a higiene pessoal e do espaço onde vivemos”, explicou Lúcio Baptista.

Muitos vivem em grupos de três ou quatro num único quarto e mesmo assim falta recursos para pagar a renda dos apartamentos. Na falta de outros apoios, a solidariedade entre colegas é o que os tem ajudado a se manter durantes este período.

Ao jornal A Nação, Flávio Monteiro, aluno do quarto ano do curso de Engenharia Informática, conta que está na Praia desde 2016 e vive num apartamento arrendado, junto com outros colegas.

Apesar de ser bolseiro da FICASE, a bolsa só se destina ao pagamento mensal de propina na universidade. Por conta disso, desde o mês de Março ele e os colegas estão com a mensalidade do apartamento atrasada, assim como as contas de eletricidade e água.

“Nossa sorte é que o dono da casa foi compreensível e entendeu a situação. Nos disse para pagar quando as coisas melhorarem ou assim que tivermos o dinheiro”, explica o estudante, lembrando que nem todos podem ter e mesma sorte.

A alimentação tem sido a base de géneros básicos, comprados com a ajuda de todos, que fazem uma espécie de “vaquinha” para conseguirem se alimentar.

Estes estudantes emitem um apelo às autoridades, para um apoio efectivo até superar o actual estado das coisas.

“É verdade que muitos de nós recebemos já um subsídio ou uma bolsa que serve para pagar parte ou totalidade da propina. Normalmente o resto é assegurado por nós ou pelos nossos pais. Mas com actual situação, nem nós nem os nossos pais estamos em condições de suportar estas responsabilidades”, sustenta Lúcio Baptista.

“Sem culpar ninguém”, Lúcio diz que o Governo e as autarquias traçaram uma série planos de contingência no âmbito da pandemia mas acabaram por esquecer dos estudantes que estão fora das suas ilhas, dependendo, muitas vezes, dos parcos recursos dos pais, que, infelizmente, o estado de emergência também anulou.

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