Comitiva do Carnaval do Mindelo chegou ao Brasil mais de 24 horas após iniciar viagem em São Vicente
A comitiva do Carnaval do Mindelo chegou ao fim da tarde de hoje ao Rio de Janeiro (Brasil), para um intercâmbio de 10 dias, numa viagem que se iniciou em São Vicente na tarde de sexta-feira.
Os dez elementos dos grupos carnavalescos do Monte Sossego, Vindos do Oriente, Cruzeiros do Norte, Flores do Mindelo e Samba Tropical, e demais integrantes da caravana, num total de 17, tiveram, assim, que “gramar” uma viagem de mais de 24 horas até ao destino final (Rio de Janeiro).
Inicialmente, o programa da viagem contemplava uma escala técnica de pouco mais de quatro horas em Lisboa (Portugal), contudo o voo TAP que deveria seguir para o Rio de Janeiro, com saída prevista para as 23:20 (menos uma hora em Cabo Verde), viria a ser cancelado.
A companhia portuguesa justificou o cancelamento do voo com “falta de tripulação”, mas que a viagem seria retomada na manhã do dia seguinte.
Predispôs-se a alojar a caravana em hotéis, contudo, sem visto para entrar em território português, pois nem era necessário, à partida, porque, afinal, tratava-se de uma escala técnica, a comitiva mindelense teve, então, que se acomodar como pôde nas cadeiras da zona de embarque do aeroporto de Lisboa, até às 08:55, hora em que partiu o voo Lisboa Rio de Janeiro.
Apesar do contratempo e do cansaço estampado no rosto de cada um dos integrantes da caravana, à chegada ao Brasil, após um voo que durou 10 horas, o certo é que continua a reinar a boa disposição.
Aliás, é grande a expectativa dos responsáveis dos grupos carnavalesco de São Vicente relativamente aos “ganhos” que se poderão alcançar em direcção ao Carnaval do Mindelo com esta viagem que, ademais, tem o sugestivo slogan “Rumo ao Rio de Janeiro – aprimorando o Carnaval mindelense”.
Por exemplo, Josina Freitas, do grupo Vindos do Oriente, considerou que veio ao Rio de Janeiro “beber na fonte” para melhorar e, porque não, questionou-se, para mostrar aos brasileiros um outro destino, uma outra forma de fazer o Carnaval.
“O nosso objectivo não é fazer como o Rio, mas sim aprender como é que o Rio conseguiu fazer uma indústria à volta do Carnaval, porque acreditamos que a festa do Entrudo tem pernas para andar em Cabo Verde, como indústria e produto em São Vicente”, concretizou Josina Freitas.
A ideia do grupo passa também, acentuou, por observar a forma como ser “tão criativo”, que nem as escolas de samba brasileiras, com os materiais que utiliza no Carnaval.
“Também queremos aprender nesse sentido como forma de aproveitar a nossa matéria-prima, que isso é o mais importante de tudo”, lançou ao mesmo tempo que destacava que esta missão está a mostrar que é também possível fazer um trabalho de equipa, porque, afinal, concluiu, o objectivo é “vender e melhorar” o nosso Carnaval mindelense.
O presidente do Grupo Carnavalesco do Monte Sossego, António Duarte, por seu lado, disse à Inforpress que a expectativa é a “maior possível não só porque o intercâmbio vai permitir visitar os barracões das escolas de samba, as quadras e os estaleiros, como também manter um encontro com o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), que visa “beber da experiência” desta agremiação, no momento em que os grupos de São Vicente estão em vias de legalizar a liga recém-criada.
“Tudo isso quando estamos numa fase crucial de preparação do nosso Carnaval”, concretizou a mesma fonte, que sublinhou que a estada no Brasil será aproveitada ainda para a compra de “algum material” que possa “ser útil” para o desfile no próximo ano.
“Contudo temos alguma limitação com o peso, mas ainda assim vamos à procura de materiais diferenciados, inovadores, que possam incrementar alguma qualidade ao nosso Carnaval”, lançou Patcha, como é também conhecido.
Jailson Juff, presidente do grupo Cruzeiros do Norte, preferiu destacar o “momento novo” que se vive no seio dos grupos de Carnaval, ou seja, sintetizou, a união dos grupos à volta de um mesmo objectivo, uma “experiência de união” nunca dantes vista.
Por isso, lançou, a expectativa “é alta” para “aprender e conhecer mais” em prol do Carnaval do Mindelo.
Da parte do grupo Flores do Mindelo, Nuno Costa, director e mestre de bateria, explicou que esta digressão dá continuidade aos workshops do Verão passado, ministrados pela equipa do brasileiro Dudu Nobre, no Mindelo, e que agora o objectivo é “recolher subsídios para melhorar o desempenho” dos grupos mindelenses.
“Vamos tentar estabelecer algum acordo de parceria com alguma escola de samba do Brasil, contactar os fornecedores, já que os materiais são importantes”, lançou, destacando que “o mais importante” é observar “os bons exemplos” e trazer para o Carnaval nacional.
Da comitiva, figura ainda a Escola de Samba Tropical, que não concorre aos prémios no Carnaval do Mindelo, mas que vê com “muito bons olhos” esta deslocação ao Brasil, por estar a operar “algo” que a festa do Entrudo necessitava em São Vicente, que é, precisou o presidente David Leite, a união dos grupos à volta do propósito do Carnaval.
A Escola de Samba Tropical chega, por isso, com “enorme expectativa” ao Brasil num “momento crucial” do Carnaval do Rio de Janeiro, com “toda a máquina em andamento e na sua máxima força”, desde os ensaios, os artesões, as costureiras, os estaleiros.
“Para nós, vai ser uma experiência inédita conseguir numa semana apreender todas as áreas de um Carnaval do nível do de Rio de Janeiro”, sobretudo, assinalou David Leite, num nível que acumula experiência tanto em reciclagem como na utilização de materiais de baixo custo.
“Em Cabo Verde ainda construímos as nossas peças a um custo elevado”, concluiu o presidente do Samba Tropical, certo de que os resultados desta visita “não vão ser automáticos”, mas acreditando que será notada “uma diferença clara” no Carnaval 2018 por causa dos workshops do Carnaval de Verão e com esta continuidade no Rio de Janeiro.
Chefia a delegação mindelense o presidente da câmara Augusto Neves, secundado pela vereadora da Cultura, Solange Neves.
Inforpress