Cabo Verde em negociações com Portugal para conversão da dívida
Cabo Verde está a ultimar negociações com Portugal para a conversão da dívida de 600 milhões de euros. A moratória concedida pelo Governo de Lisboa por causa da Covid-19 termina no final deste ano.
Sabe-se que o dossier está a ser tratado, no plano técnico, entre as instituições financeiras dos dois países, tendo esta matéria sido abordada na semana passada num encontro de trabalho, em Lisboa, entre o Primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva e o seu homólogo português, António Costa.
No final, o chefe do Governo da Praia confirmou, em declarações aos jornalistas, que a reconversão da dívida está a ser discutida a pensar em várias soluções: "A moratória é uma delas. A transformação da dívida em investimentos é outra perspetiva. Estamos na fase de conclusão e de fecho desse dossier. A moratória é um procedimento mais simples. O processo mais complexo é a transformação da dívida em investimentos, nomeadamente na ação climática, que nós introduzimos também como a ser desenvolvida", indica.
O desafio da estabilidade financeira
Em entrevista à DW, em Lisboa, o governador do Banco de Cabo Verde, Óscar Santos, considera o investimento estrangeiro “imprescindível” para o crescimento económico do país. "Também é uma grande responsabilidade do Banco de Cabo Verde (BCV) dar confiança ao mercado. O regime cambial vai manter-se como está e a estabilidade financeira é fundamental para podermos ter condições de ter mais investimentos e mais emprego", mostra.
"Se o retorno do investimento nos Estados Unidos ou na Inglaterra é cerca de 4%, o retorno do investimento em Cabo Verde pode ser de 10 a 15%. E aí está, com todas as condições de estabilidade, a lógica de mais investimentos em Cabo Verde; acho que nós estamos em condições de avançar muito no setor turístico. E o setor de negócios é a parte que falta ser desenvolvida", revela.
Além da inflação, o governador do Banco de Cabo Verde insiste que o desafio mais importante é a estabilidade financeira: "Estamos a viver num período de pandemia com moratórias, que levou à suspensão do crédito bancário por causa da baixa da atividade económica. Portanto, nós vamos saber que empresas são viáveis e que devem ser financiadas. A questão da estabilidade financeira é importante", sublinha, acrescentando que, “apesar disso, com todas as análises e todos os testes que fizemos, o sistema financeiro cabo-verdiano tem mostrado muita resiliência. Mas isso não significa que devemos baixar a guarda. Devemos estar sempre atentos, acautela".
O último relatório de política monetária apresentado recentemente pelo Banco Central prevê, em 2021, o crescimento da economia cabo-verdiana em cerca de 6,6", diz Óscar Santos. "Sabendo que 2020 foi um ano atípico, um ano difícil, é normal que nós tenhamos essa taxa de crescimento de 6,6%", refere.
"A economia mundial também vai crescer – entre elas as principais economias relevantes para Cabo Verde, nomeadamente os EUA, a Zona Euro e o Reino Unido – e isso terá um impacto positivo na economia cabo-verdiana", afirma Óscar Santos no exclusivo à DW.
Retoma em 2023
O governador refere que, em relação a 2022, o crescimento poderá baixar ligeiramente para 5,6%, afetando também a inflação devido a factores externos como o aumento do preço do combustível, das matérias-primas e de bens alimentares. Apesar deste registo, acrescenta, Cabo Verde só retomará os níveis do volume de crescimento do PIB em 2023.