Ex-autarca diz que Câmara Municipal da Praia tem um governo sombra gerido pelo próprio presidente
Segundo a Inforpress, António Lopes da Silva fez estas declarações à margem da primeira sessão do Fórum Poder Local, em que foi um dos oradores, organizada pela Comissão Política Concelhia da Praia (CPC-P) do Movimento para a Democracia (MpD) para assinalar os 30 anos sobre as primeiras eleições autárquicas realizadas em Cabo Verde.
“Eu não consigo compreender hoje como é que se pode ter essa situação na Câmara Municipal da Praia. A minha intervenção vai também neste sentido de mostrar como é que nós começamos a fazer uma gestão democrática do município da Praia em que os vereadores tinham toda a liberdade, na base do plano de actividades, do orçamento, do programa, portanto do governo local, de fazer a gestão democrática da sua vereação, o que, pelos vistos, não está a acontecer agora”, disse.
Conforme a fonte referida, António Lopes da Silva axrescenta que hoje a Praia tem um presidente que, às tantas, é ele quem gere toda a câmara municipal, só com dois vereadores, chegando ao ponto de fazer “uma coisa muito complicada” que é criar um governo sombra para o governo dele.
“Neste momento, nós temos um governo que está a governar a cidade da Praia, que não foi eleito, só com dois vereadores. São vereadores que estão próximos do presidente. Daí que a minha intervenção vai neste sentido de mostrar que, de facto, qualquer tipo de gestão camarária tem que basear-se na democracia plena, numa democracia que a legitimidade é-lhe dada e conferida na votação”, acrescentou.
Este antigo vereador nos últimos mandatos do MpD na Câmara Municipal da Praia frisou ainda que o que se está a ver aponta para um retrocesso na gestão daquela autarquia.
“As pessoas falam muito em obras, mas não é só uma questão de obras. Obras também são importantes que apareçam, é necessário que a Praia continue nessa dinâmica. Por exemplo, em termos culturais a Praia está parada em termos daquilo que sempre desenvolveu. Não temos mais actividades que marcaram e que transformaram a Praia numa cidade pertencente à rede das cidades criativas da UNESCO”, afirmou.
António Lopes da Silva exemplificou, prossegue a Inforpress, actividades como o Kriol Jazz Festival, a Noite Branca e “todas as actividades que davam a Praia uma dinâmica extremamente forte”, acautelando que é verdade que a covid-19 tem tido o seu impacto, mas realçando que o se se está a sentir “é que a organização da câmara está completamente parada”.
“Não se pode gerir uma câmara com dois vereadores, não é possível. Uma câmara da capital de Cabo Verde, um presidente consegue chegar a um ponto de ter só dois vereadores para fazer uma gestão de toda uma cidade”, queixou-se.
Tudo isto, disse o ex-vereador da Cultura, evidentemente traz aquilo que está acontecendo que é “não ter reuniões da câmara” e que quando há “a ordem de trabalho é informações e diversos”.
“Você não pode levar o orçamento para a assembleia porque não conseguiu a aprovação desse orçamento, portanto uma câmara que não tem orçamento, não tem um plano de actividades, não tem uma equipa que foi eleita, tem uma equipa em que o presidente consegue nomear directores gerais, coordenadores, gente que não foi eleita, ele está a fazer uma gestão através de um governo sombra”, acrescentou.
Finalizando, este antigo vereador defendeu ser necessário que, na base da legislação que existe, haja um posicionamento no sentido de esclarecer o que está a acontecer na cidade da Praia, concui a Inforpress.