Cabo Verde negoceia capacidade de compra e armazenamento de produtos com Portugal

"O Governo já está a tomar medidas, a encetar contactos, para, junto de alguns países, conseguirmos aumentar a nossa capacidade de ter acesso a ’stock’, sem termos de fazer investimentos nesta fase, porque não vai ser possível, porque é de emergência, para aumentar a capacidade de ’stockagem’ no país", afirmou o chefe do Governo, Ulisses Correia e Silva, citado pela Lusa.

O chefe do Governo reagia na Assembleia Nacional às perguntas colocadas pelo deputado Rui Semedo, líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), que, tendo em conta a conjuntura internacional, devido à guerra na Ucrânia, recordou que o arquipélago já tinha vivido de novembro a janeiro últimos uma rutura de ’stock’ de milho, cereal essencial no país.

"Não há perigo iminente de rutura de ’stock’", insistiu Ulisses Correia e Silva, neste debate mensal no parlamento, esta tarde, depois de garantir que o Governo cabo-verdiano está em contactos com vários países, apontando concretamente Portugal, para ter acesso às compras necessárias em conjunto e a capacidade de armazenamento, fora do arquipélago.

"Portanto, temos de comprar fora, ’stockar’ fora e fazer trazer para o país, nas melhores condições, conforme as necessidades que temos", apontou.

"Que haja sossego relativamente a esta matéria", insistiu.

Lembra a Lusa que, durante a manhã de hoje, no arranque deste debate, o primeiro-ministro já tinha anunciado que Cabo Verde vai aplicar medidas de "estabilização" de preços de vários produtos, como combustíveis, trigo, milho, óleo ou leite em pó, e reforçar a capacidade de armazenamento de cereais.

"Mais uma vez, o Governo vai adotar medidas mitigadores da crise. Ainda esta semana, iremos apresentar em detalhe um pacote de medidas", disse Ulisses Correia e Silva.

De acordo com o chefe do Governo, esse plano prevê, em concreto, medidas de "estabilização de preços de combustíveis, do trigo, do milho, do arroz, do óleos e leite em pó", bem como o "reforço da capacidade de ’stockagem’ de cereais a granel".

Avançará ainda o "reforço de ações de fiscalização para evitar o açambarcamento de produtos de primeira necessidade e a especulação de preços".

"A guerra na Ucrânia está a impactar a nível mundial, ameaçando a segurança alimentar e a segurança energética. Os preços dos combustíveis e de produtos alimentares que estavam a aumentar com a pandemia, aumentaram ainda mais com a guerra. Há uma grande volatilidade dos preços dos combustíveis e riscos de rutura de fornecimentos a nível mundial", sublinhou o primeiro-ministro, perante os deputados.

Acrescentou que Cabo Verde importa todos os combustíveis e 80% dos produtos alimentares que consome, pelo que "é obvio que o aumento de preços nos mercados internacionais afeta o nível de preços" no arquipélago.

Os preços em Cabo Verde aumentaram 0,7% no mês de fevereiro e acumulam uma subida de 7,1% face ao mesmo mês de 2021, indicam os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) cabo-verdiano.

Segundo ainda a Lusa, esses aumentos generalizados em Cabo Verde estão a ser mais visivelmente sentidos nas últimas semanas em produtos alimentares de primeira necessidade, como o pão ou o óleo.

O preço médio dos combustíveis aumentou mais de 4% este mês em Cabo Verde, conforme novos valores máximos definidos pela agência reguladora do setor, e acumularam uma subida de quase 46% em todo o ano de 2021.

Já as tarifas da eletricidade, igualmente condicionadas pelos preços dos combustíveis — Cabo Verde depende da produção de eletricidade em centrais a gasóleo -, aumentaram em média 30% em outubro passado.

Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.

O país registou em 2020 uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB. O Governo cabo-verdiano admite que a economia possa ter crescido 7,2% em 2021, impulsionada pela retoma da procura turística, e prevê 6% de crescimento em 2022, escreve a Lusa.

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