Preços a subir aumentam também apreensão no mercado da Praia

Filomena Lopes, 49 anos, vende legumes no principal mercado da capital há 30 anos e queixou-se à Lusa de "vendas fracas", por estes dias, em contraponto com a subida dos preços.

"Antes vendíamos mais, as pessoas compravam um quilo ou dois quilos de legumes, agora as pessoas compram meio quilo ou um quarto. A situação está complicada", admitiu, à espreita dos poucos clientes que chegam ao mercado municipal.

Sustenta a família com a venda de legumes, mas afirma que os poucos clientes têm estado a reclamar dos preços, o que faz com que comprem menos.

Ali próximo está Natalino Vieira, vendedor de carne salgada há 22 anos. Garante que o preço da carne está "acessível para todos", mas aponta uma quebra nas vendas, que justifica com a crise que Cabo Verde enfrenta desde o início da pandemia de covid-19, há precisamente dois anos.

Quanto aos preços, afirma sem hesitações que nunca viu uma subida como a que se assiste, de forma generalizada.

"Nunca tinha visto uma subida assim. Mas a situação não depende só de nós, mas do mundo também", lamentou.

Mais antiga no mercado é Maria Moreira, de 63 anos, desde os 20 a vender linguiça. Confessa, preocupada, que os alimentos "estão muito caros" e que os salários dos clientes "não sobem", aumentando as dificuldades das famílias.

"Não temos nada na nossa terra, então temos de buscar. As coisas estão a subir e se não buscarmos como é que vamos ter dinheiro para comprar, ainda mais agora que as coisas estão mais caras", observou.

Maria é também o exemplo de muitas mulheres chefes de família cabo-verdianas, que sustentam a família com a venda no mercado.

E se antes o negócio que ali faz permitia comprar o sustento para alimentar a casa, o aumento dos preços dos alimentos veio complicar a missão do mês: "Antes, com 5.000 escudos [45 euros] dava para fazer compras, e agora nem 10.000 escudos [90 euros] chegam".

Entre a azáfama que ainda assim nunca falta ao mercado, no interior e no exterior, a preocupação com os preços e a crise que está a gerar é partilhada por Austelina Silva.

Na rua, vende pão com fígado para sustentar a família, mas admite que a situação tem sido difícil, principalmente quando os clientes se queixam do preço, que teve de aumentar de 50 para 90 escudos (0,45 para 0,80 cêntimos), face aos aumentos dos restantes produtos, desde logo a carcaça de pão.

"Os clientes reclamam muito. As vezes nem têm 90 escudos para comprar o pão e tomo aquilo que me oferecem, porque não há solução", desabafa Austelina.

Para conter esta escalada, o Governo cabo-verdiano anunciou um programa de estabilização dos preços dos alimentos em Cabo Verde, que vai custar 4,3 milhões de euros, além de congelar o aumento no preço dos combustíveis.

Esse plano prevê, em concreto, medidas de estabilização de preços de combustíveis, do trigo, do milho, do arroz, do óleo e leite em pó, bem como o reforço da capacidade de armazenamento nos silos para cereais a granel.

Avançará ainda o reforço de ações de fiscalização para evitar o açambarcamento de produtos de primeira necessidade e a especulação de preços, entre outras medidas que tentam suster, nos próximos três meses, os impactos da crise provocada pela guerra na Ucrânia num país que importa quase tudo o que consome: A totalidade dos combustíveis e 80% dos alimentos.

Os preços em Cabo Verde aumentaram 0,7% no mês de fevereiro e acumulam uma subida de 7,1% face ao mesmo mês de 2021, indicam os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) cabo-verdiano.

A Semana com Lusa

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