Fogo: “Cabo Verde 1855 -1856- os anos de cólera” contém lições e conhecimentos actuais

Quem o diz é o apresentador da obra, o médico Luís Sanches, para quem o livro, que se baseou no relatório do médico cirurgião, José Fernandes da Silva Leão, traz uma componente de memória, mas também a vivência e a experiência.

Ao ler o livro, o médico observou que uma pessoa além de ver retratada a situação sanitária, tira lição e prepara as suas ações futuras.

O livro, explicou Luís Sanches, ajuda a traçar como caminhar na atualidade e futuramente evitando perdas que podem ser evitadas, sublinhando que o mais curioso deste relatório médico com cerca de 200 anos é o facto de conter muitas recomendações praticáveis no momento atual.

Para o apresentador, este relatório, agora editado em livro, é diferente dos demais que teve conhecimento durante a sua experiência profissional como médico, observando que o mesmo demonstra a componente técnica do relator que expôs de uma forma clara o impacto da pandemia de cólera que entrou na ilha do Fogo, na altura, a mais salubre de Cabo Verde.

Por outro lado, demonstra a paixão, o amor e a dedicação do cirurgião José Fernandes da Silva Leão em abordar outros aspectos sócio-sanitários da ilha do Fogo, expondo as suas potencialidades e dificuldades por que passavam, na altura, a população devido as pandemias de fome, varíola, dificuldades aos meios de tratamento, carência do pessoal médico e de saúde.

No dizer do mesmo, cerca de 200 anos depois e em pleno século XXI e com acesso a tecnologia, meios de comunicação, globalização, do relatório pode-se tirar lições positivas, mas também negativas do que não foram feitas, mas que se pode fazer de uma forma melhor.

Ana Cordeiro, responsável pela organização e edição do relatório em livro e que fez o enquadramento histórico do relatório, afirmou que se trata de “um relatório espantoso”, porque, explicou, “vai muito além daquilo que é uma descrição técnica de uma doença e acaba por fazer um estudo sociológico da ilha do Fogo em 1855”.

Através do relatório acaba-se por perceber como viviam as pessoas, as dificuldades, como era a alimentação, sublinhando que “é um retrato sociológico da época e como há muita pouca documentação sobre a ilha e Cabo Verde”, achou que valia a pena ser publicado.

Para Ana Cordeiro o livro mostra o que é a natureza humana e que ela não muda assim tanto ao longo do tempo, salientando que “as situações de crises e dificuldades trazem ao de cima aquilo que há de melhor e de pior nos seres humanos”.

O relatório dá conta de que muitas pessoas fugiram da ilha com medo, sobretudo as autoridades, mas também pessoas que ficaram e deram a própria vida para ajudar os outros e, neste aspecto, salientou Ana Cordeiro, “o livro continua extremamente atual”.

Igualmente permite perceber que quando há situação de crise sanitária, as condições económicas e sociais das pessoas são determinantes na forma como conviver com as doenças.

Para a organizadora da obra, o médico cirurgião José Fernandes da Silva Leão, que chegou à ilha cerca de 20 dias após a doença ter sido declarada, devido às dificuldades de transportes, fez um trabalho de investigação para saber exatamente por onde tinha entrado a doença que não era desconhecida.

O relatório, para Ana Cordeiro, tem um lado de quase romance pelo trabalho de investigação desenvolvido que o torna “tão interessante de ler” por ser quase uma “peça literária”.

A Semana com Inforpress

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