Deputada de origem cabo-verdiana em Sesimbra lamenta fraca participação dos migrantes na política

O lamento foi expressado à Inforpress, em Lisboa, pela deputada, que já vai no seu segundo mandato no município de Sessimbra, iniciado em 2021, depois do primeiro [2017-2021], tendo explicado que está “nas lides políticas” desde 2013, quando lhe foi feita um convite para se candidatar para a Junta de Freguesia em Quinta do Conde, onde mora.

“Os migrantes estão ainda demasiados longe dos centros de decisão e é no mínimo triste, que depois de tantos anos da emigração, nós continuamos a ter ainda alguns problemas de há 20 anos, como do da documentação, quando existem leis extremamente favoráveis. Somos poucos cabo-verdianos integrados no sistema político, comparado com aquilo que é a percentagem de cabo-verdianos e africanos”, lamentou.

Para Andredina Cardoso, a política é um “instrumento social e é uma forma de organizar a sociedade” para se conseguir construir “sociedades mais equilibradas”, algo que acredita ser possível fazer de várias formas, como sendo com uma profissional de saúde, numa estrutura associativa ou estrutura política.

“A vantagem é que a estrutura política tem o poder de decidir, mas as pessoas não pensam muito disso. Mesmo sabendo que são elas a decidir tudo, normalmente colocam a política sempre no patamar “eles”. E se deixarmos, são sempre eles é que vão decidir a nossa vida”, frisou, lembrando que a política é feita de números, nomeadamente para aprovar propostas de leis para as comunidades emigradas.

Andredina Cardoso vai mais longe, sublinhando que “há um conjunto de pessoas que vai continuar a não beneficiar totalmente do seu direito, a não ter oportunidade de exercer a plena cidadania, porque não há lá [centro de decisões] outras pessoas com a mesma linha de pensamento para fazer passar uma lei”.

A deputada municipal, de 50 anos, e que chegou a Portugal com 3 anos com os pais, defendeu que “quanto mais pessoas estiverem colocadas em lugares de decisão, mas fácil vai ser a integração da sociedade como um todo”.

Andredina lembrou ainda que em Portugal não há ninguém de origem cabo-verdiana no Executivo português, sendo que como vereadores “são poucos”, assim como deputados municipais ou nas juntas de freguesias.

No entanto, lembrou que como deputada na Assembleia Nacional, esteve durante 18 anos a Celeste Correia e Manuel Correia, que fez um mandato, acrescentando que este cenário representa duas coisas, “que a política não se aproxima da comunidade ou a comunidade não se aproxima da política como devia”.

No seu entender, as estruturas políticas sabem que ter um cabo-verdiano ou uma pessoa de origem africana nas suas listas “é um chamariz para os votos”, por isso convidam um conjunto de pessoas para essas listas, mas em lugares não ilegíveis.

“Enquanto nós, como comunidade, não fizermos este movimento de perceber como é que as coisas funcionam e de nos disponibilizarmos para dar uma contribuição mais assertiva dentro deste próprio sistema, fica difícil as coisas mudarem”, reconheceu, concluindo que “falta organização dentro das comunidades”.

A Semana com Inforpress

Categoria:Noticias