Companhia aérea cabo-verdiana TACV com prejuízos de 12,5 ME em 2021
De acordo com dados de um relatório daquele ministério sobre o desempenho do Setor Empresarial do Estado (SEE), compilados hoje pela Lusa, entre as 33 empresas analisadas a TACV foi a que apresentou os maiores prejuízos em 2021.
A TACV suspendeu os voos comerciais de 17 de março de 2020 a 27 de dezembro de 2021, devido às restrições impostas para conter a pandemia de covid-19, e segundo o relatório registou prejuízos superiores a 1.364 milhões de escudos (12,4 milhões de euros) no ano passado. Em 2019 e 2020, a companhia aérea apresentou igualmente resultados líquidos negativos, superiores a 6.571 milhões de escudos (60 milhões de euros) e 2.109 milhões de escudos (19,2 milhões de euros), respetivamente.
Em 2021, o volume de negócios da TACV foi de apenas 18,5 milhões de escudos (169 mil euros) e em 2020 (apenas os três primeiros meses) de mais de 1.902 milhões de escudos (17,3 milhões de euros). Em 2019, ano em que a TACV foi privatizada, passando a ser gerida pelo grupo Icelandair, o volume de negócios foi de 6.104 milhões de escudos (55,6 milhões de euros).
Conforme ainda a Lusa, o capital próprio da companhia tem vindo a refletir este desempenho e terminou 2021 em valores negativos, de 11.240 milhões de escudos (102,5 milhões de euros). Em 2020, o capital próprio da TACV foi negativo em mais de 8.654 milhões de escudos (78,9 milhões de euros) e em 2019 negativo em mais de 7.608 milhões de escudos (69,3 milhões de euros).
"O capital próprio tem sido negativo nos últimos anos, colocando a empresa numa situação considerada de falência técnica", lê-se no relatório.
O documento refere ainda que os indicadores de liquidez diminuíram no final de 2021 em relação ao período homólogo, "demonstrando que a empresa tinha capacidade de honrar com apenas 10% dos seus compromissos", e "um elevado nível de endividamento".
Acrescenta que a companhia aérea recebeu avales do Estado no valor de mais de 1.874 milhões de escudos (17 milhões de euros) até final de 2021, contribuindo para um ’stock’ de endividamento com garantia estatal superior a 5.826 milhões de escudos (53,1 milhões de euros).
"A nível de risco, nos períodos em análise, a empresa manteve a sua avaliação de ’very high risk’, obtida nos últimos anos, fazendo parte das empresas que representam o maior risco fiscal, com probabilidade de uma intervenção futura", admite o relatório.
A Lusa noticiou em 18 de março que a TACV transportou mais de 3.100 passageiros nos primeiros três meses de retoma de voos.
A TACV retomou as operações, depois de renacionalizada, no final de dezembro passado, ao fim de 21 meses sem atividade devido às restrições internacionais impostas com a pandemia de covid-19, inicialmente com um voo entre a Praia e Lisboa.
Posteriormente, a companhia alargou essas rotas semanais para a capital portuguesa também a partir das ilhas de São Vicente e depois do Sal, e prevê a retoma dos voos para Boston (Estados Unidos da América) em "meados de julho".
Em março de 2019, prossegiu a Lusa, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da TACV por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da Cabo Verde Airlines — nome comercial da companhia) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
Na sequência da paralisação da companhia durante a pandemia de covid-19, o Estado cabo-verdiano assumiu em 06 de julho de 2021 a posição de 51% na TACV, alegando vários incumprimentos na gestão, e dissolveu de imediato os corpos sociais.
Em 26 de novembro, a Loftleidir Cabo Verde anunciou que deu início a um processo arbitral contra o Estado cabo-verdiano, alegando a "violação dos acordos celebrados entre as partes", face à renacionalização da companhia aérea de bandeira TACV, refere a Lusa.