Crise de preços tira 94 milhões de euros às reservas de Cabo Verde
De acordo com dados compilados hoje pela Lusa a partir do mais recente relatório de política monetária do BCV, apesar dessa redução, o ’stock’ das reservas internacionais líquidas de Cabo Verde deverá "garantir 5,8 meses das importações de bens e serviços projetadas para 2022".
Cabo Verde terminou 2021 com 65.630 milhões de escudos (595,6 milhões de euros) de reservas internacionais líquidas, um aumento de 2,7% face a 2020, que então representou uma queda de 12,4% tendo em conta os dados do ano de 2019, em que esse ’stock’ foi de 72.912 milhões de escudos (661,7 milhões de euros).
O arquipélago não tem capacidade de refinação e importa todos os combustíveis de que necessita, incluindo para a produção de eletricidade (para produzir quase 80% da eletricidade), além de 80% de todos os alimentos que consome, compras fortemente condicionadas nos últimos meses devido às consequências da guerra na Ucrânia, segundo dados do Governo.
Ainda de acordo com o relatório do BCV, o "agravamento" do défice da balança comercial do país, "refletindo a deterioração dos termos de troca na sequência do choque sobre os preços dos produtos importados", a redução esperada nas transferências oficiais correntes em donativos, bem como "o aumento previsto no pagamento de juros da dívida externa pública, deverá deteriorar o défice da balança corrente", passando de 13,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 para 15,7% em 2022.
"Por outro lado, espera-se uma redução nos influxos líquidos de financiamento da economia devido, sobretudo, à queda nos desembolsos líquidos da dívida externa pública, tendo em conta o esperado aumento do serviço da dívida externa pública", acrescenta o banco central.
Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística — setor que garante 25% do PIB do arquipélago — desde março de 2020, devido às restrições impostas para controlar a pandemia de covid-19.
O país registou em 2020 uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento económico de 7% em 2021, impulsionado pela retoma da procura turística no quarto trimestre.
Entretanto, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, o Governo cabo-verdiano reviu de 6% para 4% a perspetiva de crescimento económico em 2022.
A Semana com Lusa