Transportadora cabo-verdiana espera retomar este ano voos para Boston, Paris e Brasil

Em resposta a uma pergunta dos deputados durante uma audição na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Nacional à privatização da companhia de bandeira nacional, Sara Pires recordou que a empresa iniciou em finais do ano passado uma retoma "muito tímida", apenas com um voo semanal Praia—Lisboa, que aumentou para dois.

Além disso, avançou que posteriormente foram introduzidas as rotas de São Vicente e do Sal, "tudo em passos firmes" para evitar erros. "E as metas é introduzir paulatinamente, conforme for as condições do mercado, nomeadamente a rota de Boston, de Paris e do Brasil ainda este ano", acrescentou.

Para isso, a empresa está em processo para alugar um aparelho, o que deverá ser feito à maior empresa de aluguer de aviões do mundo, cujos representantes estiveram recentemente em visita de trabalho na cidade da Praia.

"Poderá ser também uma possível empresa a alugar aparelhos à TACV", previu a dirigente, indicando que todos esses aparelhos vão juntar-se a um Boeing 737-700 fornecido pela angolana TAAG, em regime de ’leasing’.

Sara Pires disse que após conclusão do processo de certificação, o avião está a operar desde 25 de março, com voos de e para Lisboa, com tripulação angolana, e há uma semana que tem matrícula cabo-verdiana e em regime de ’dry lease’, ou seja, com tripulação cabo-verdiana e todos os restantes custos pagos por Cabo Verde.

Num balanço aos quase cinco meses da retoma das operações, a presidente disse que têm estado a decorrer num bom ritmo, com uma "excelente taxa de ocupação" na rota de e para a Praia, com média de 80%, mas que reduz para 70% na rota Lisboa—Praia.

A responsável justificou essa redução com as limitações com os meios de pagamento, garantindo que brevemente a empresa vai poder realizar os seus pagamentos via cartão de crédito com um novo provedor.

Em relação aos voos de e para São Vicente, avançou que têm tido uma taxa de ocupação média à volta de 75%, considerada boa, mas o mesmo já não se pode dizer para o Sal, entre 45% e 50%.

Sara Pires justificou essa baixa taxa com o facto de Sal, que começou em fevereiro, ser um mercado turístico e não da "saudade", mas garantiu que já há um operador turístico que comprou os voos de verão, como forma de rentabilizar a rota aérea.

"É preciso continuar a operar para que o mercado veja a companhia a operar, para que exista um sinal ao mercado para que este possa aderir, e já estamos a colher frutos, com os voos de verão que já estão com uma boa taxa de ocupação", manifestou.

Para Sara Pires, o grande desafio da companhia nesta altura é continuar a operar, quanto mais não seja por o aumento do preço dos combustíveis agravar ainda mais a situação financeira da empresa.

Cumprir com as obrigações com os fornecedores e os parceiros, ter os trabalhadores motivados e retomar todas as rotas ditas como rentáveis foram outros desafios traçados pela dirigente.

Neste momento, a TACV tem um total de 204 trabalhadores, mas que ainda é um número excessivo, sobretudo na área operacional, esperando reduzir em 45 para estar num nível desejável, que deverá acontecer via rescisão por mútuo acordo, pré-reforma, bem como afetação a áreas com défice, garantindo que a rescisão unilateral é o "último recurso".

Em agosto de 2017, o grupo Icelandair, da Islândia, assumiu a gestão do negócio internacional da companhia aérea pública cabo-verdiana e em março de 2019 o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da TACV por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde.

A empresa é detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da Cabo Verde Airlines — nome comercial da companhia) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).

Entretanto, na sequência da paralisação da companhia durante a pandemia de covid-19, o Estado cabo-verdiano assumiu em 06 de julho de 2021 a posição de 51% na TACV, alegando vários incumprimentos na gestão, e dissolveu de imediato os corpos sociais.

Em 26 de novembro de 2021, a Loftleidir Cabo Verde anunciou que deu início a um processo arbitral contra o Estado cabo-verdiano alegando "violação dos acordos celebrados entre as partes", face à renacionalização da companhia aérea de bandeira.

A TACV suspendeu os voos comerciais em março de 2020, devido às restrições para conter a pandemia de covid-19 e só retomou a operação, já de novo nas mãos do Estado cabo-verdiano, em dezembro de 2021, apenas com um avião e duas ligações semanais entre a Praia e Lisboa.

A CPI foi solicitada pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição desde 2016), conta com deputados do Movimento para a Democracia (MpD, no poder) e um da União Cabo-verdiana Independente e de Democrática (UCID, oposição) e durante os próximos dias vai ouvir diversas personalidades ligadas à empresa e ao processo de reestruturação/privatização. A Semana com Lusa

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