Cabo-verdiano que vive no Brasil traz experiência de criação de florestas com plantas trepadeiras produtoras de feijão e frutas
Zé Luís Romão, natural de São Domingos, ilha de Santiago, conta que estudou transformação de rochas ornamentais e se tornou artesão em Portugal, tendo no ano de 2012 viajado para o Brasil onde, juntamente com a rochagem, iniciou o trabalho de adaptação de plantas trepadeiras para a criação de florestas controladas e arborização de cidades.
“Montei um campo de teste com canavalia gladiata (feijão espada). Durante o crescimento analisei alguns factores, tais como estresse hídrico, temperatura, excesso de água, alteração da microbiologia do solo, FBN, sequestro de dióxido de carbono, cobertura do solo e outros pontos de interesse. Adaptou bem ao estresse hídrico, mostrou-se resistente a seca”, contou à Inforpress.
“Através da fotossíntese ela teve bom desempenho no sequestro de dióxido de carbono, a cobertura do solo com a queda de folhas velhas é excepcional, alterando o teor do solo que ficou mais esponjoso com capacidade de filtrar a água, evitando a erosão do solo e contribuindo para o reabastecimento de lençóis freáticos”, disse.
Zé Luís Romão, que em 2017 esteve em Cabo Verde, conta que, recentemente, apresentou o projecto ao Ministério de Agricultura e Ambiente de Cabo Verde, na pessoa do ministro que, de pronto, mostrou interesse no projecto.
O produtor conta que após pesquisas dos técnicos do INIDA, de produção e consumo em outras regiões, manteve um encontro via vídeo conferência com os responsáveis cabo-verdianos onde apresentou a planta (feijão espada) e os produtos desenvolvidos entre os quais farelo de casca, ração farelada da casca e milho, vagens tenras para cozidos e saladas, folhas empanadas fritas, entre outros.
“A partir daí iniciamos uma conversação para montar um projecto piloto em Cabo Verde, numa primeira fase para produção de três milhões de sementes para serem distribuídas aos agricultores para a sementeira”, contou, indicando que está de viagem marcada para Cabo Verde já no mês de Julho.
Zé Luís Romão explicou que sendo a planta uma trepadeira, torna necessário criar uma sustentação de apoio para o seu crescimento, pelo que a sementeira vai acontecer em juntamento com as árvores já existentes em Cabo Verde ou nas casas de agricultores/ pessoas que têm alguma estrutura de apoio com árvores ou muros.
Outra solução, conforme indicou, passa pela criação de troncos artificiais que poderão funcionar como tutor e micro barragem, captando água das chuvas, que depois poderá ser usada na rega gota-a-gota.
“Neste modelo a planta será consorciada com o milho. O milho vai aproveitar o nitrogênio fixado pela leguminosa para ter um desenvolvimento adequado”.
Zé Luís Romão conta trazer ainda para Cabo Verde um projecto de dessalinizador solar que servirá para retirar sal da água de poços com alto teor de sal e para purificação da água para irrigação e consumo humano.
“Com este projecto pensamos fixar nitrogênio no solo, sequestrar o dióxido de carbono através da fotossíntese, dar vida ao solo com a proliferação de microorganismos, melhorar o ciclo hidrológico, melhorar a umidade do ar, incrementar os lençóis freáticos, melhorar o solo com a cobertura do solo, produzir pasto e ração para animal, produzir derivados para alimentação humana”, disse.
Na sua deslocação adianta que vai trazer 24 espécies nomeadamente kiwi, laranja, maçã, figo, amêndoa e café. A Semana com Inforpress