Barco-ambulância poderá estar na ilha Brava até ao final do ano
O “crowdfunding” começou no dia 8 de Agosto e a perspectiva é ter, até ao final do ano, o barco-ambulância à disposição do Serviço Municipal da Protecção Civil da ilha Brava. O mentor da iniciativa, Eliseu Teixeira, conta que a embarcação custa 150 mil euros e está equipada com “todos os meios necessários de suporte à vida e também terá uma maca especial preparada para o mar” e capacitada para absorver os movimentos e garantir tranquilidade e segurança aos pacientes.
“Estou em crer que no mês de Setembro, provavelmente, vamos estar para além dos 50 por cento disso [do financiamento total necessário]. O objectivo é de três meses, até Novembro, termos conseguido. A ideia é antes do final do ano a embarcação chegar a Cabo Verde”, explica Eliseu Teixeira.
O cabo-verdiano cresceu na Brava, viveu em Portugal e na Itália, mas reside na região de Paris, há dois anos. No início de Agosto, quando um adolescente de 14 anos morreu, na sequência da transferência de emergência para a ilha do Fogo, Eliseu Teixeira decidiu criar a campanha de angariação de fundos que está a decorrer nas plataformas online kauverdi.com, djudamli.cv e gofundme.com, com o nome Dja Braba Ambulance. Por outro lado, associações em França, Estados Unidos e Cabo Verde vão também mobilizar-se para realizar eventos culturais de angariação de fundos.
A ilha Brava é uma ilha praticamente subdesenvolvida. Falta muita coisa a nível das questões estruturais da ilha. Temos um problema muito grave com o transporte, não somente do pessoal, mas também transporte de pacientes que quando precisam de ser evacuados para a ilha do Fogo, há sempre algum problema. Neste caso, um adolescente, que foi dos Estados Unidos para Cabo Verde, precisou de ser evacuado para a ilha do Fogo e tivemos um contratempo muito grande e o adolescente sofreu duas paragens cardiorrespiratórias e chegou ao hospital praticamente em morte cerebral. É por isso que surgiu a ideia: por que não dotar a ilha Brava de um mecanismo de socorro eficaz, seguro e que possa trazer alguma tranquilidade à ilha?”, conta Eliseu Teixeira.
Eliseu Teixeira já entrou em contacto com o executivo cabo-verdiano para “agilizar todo o processo, desde o despacho, a licença, até à sua operação em Cabo Verde”. Mesmo que, entretanto, o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva tenha anunciado que vai disponibilizar um navio da Guarda Costeira para a Brava para dar resposta a casos de emergência, Eliseu Teixeira defende que este barco-ambulância é essencial.
“Na ilha Brava, os doentes eram transportados em embarcação de passageiros, mas o doente não tinha conforto, às vezes era levado numa maca e colocado no chão… Então, é um pouco humilhante para o paciente. Mesmo o navio da Guarda Costeira não é dotado de mecanismos de suporte à vida, não está preparado para tal. Dotando a ilha Brava de um barco-ambulância, o paciente terá todas as condições necessárias. O paciente que veio a falecer teve duas paragens cardiorrespiratórias durante a trajectória. Então, a embarcação não estava preparada para tal. Se fosse da Guarda Costeira, também não estaria preparada para tal, mas com um barco-ambulância sim. Terá todo o suporte à vida e será necessário mesmo”, acrescenta.
Em meados de Agosto, após a morte do adolescente, os bravenses residentes na capital cabo-verdiana saíram às ruas para pedir melhores condições de saúde e transporte.
Outro emigrante cabo-verdiano nos Estados Unidos da América, António Varela, anunciou que pretende adquirir um hidro-avião para resolver o problema crónico de transportes de e para a ilha Brava. “A ilha Brava ter um hidro-avião e um barco-ambulância trará alguma confiança e trará algum desenvolvimento à ilha”, assegura Eliseu Teixeira.
Na sua opinião, cabe também à sociedade civil e aos emigrantes terem “uma voz perante o governo e trazerem mais desenvolvimento à ilha Brava”. “Se repararmos, a ilha Brava tem uma média de 6.000 habitantes, mas, na diáspora, os últimos números dizem 50.000 – eu penso que é o dobro –de emigrantes bravenses que estão somente nos Estados Unidos da América. A diáspora precisa entender que trazer o desenvolvimento para a ilha, não é tarefa só do governo. É preciso mais iniciativas da sociedade civil, da diáspora e só assim é que teremos uma ilha Brava desenvolvida”, considera Eliseu Teixeira, sublinhando que os problemas crónicos de transporte acontecem também noutras ilhas e que se “fala muito na regionalização mas na prática não se vê nada”.
Eliseu Teixeira é informático, mas também formado em medicina natural. Neste momento, tem uma “start-up” que desenvolve sistemas informáticos, nomeadamente a pensar em Cabo Verde. Por exemplo, face aos desaparecimentos de muitos pescadores, desenvolveu “um sistema económico para dotar as embarcações de pesca de um mecanismo de geolocalização para serem localizadas em caso de emergência”.
A Semana com RFI