Lagos artificiais permitem a agricultor cabo-verdiano multiplicar cultivo após chuvas

“Ainda não sei quanto terreno iremos ocupar para produzir com toda a água disponível. Temos em média 2.000 pés de pitaya, 5.000 pés de morangos e temos vindo a ampliar a produção de hortaliças e tomates e iremos ampliando a produção para ver até onde chegamos”, expõe Amílcar Lopes, na ilha de São Vicente, em declarações à Lusa.

Esta expansão seria improvável de ser projetada por este agricultor de 61 anos se os lagos não fossem construídos e atribui à água que caiu nos últimos dias em São Vicente, após um período de quase quatro anos de seca em Cabo Verde, o poder de ser o maior impulsionador para o seu crescimento.

“Para mim seria impossível conseguir comprar tanta água assim e para chegarmos a uma produção multiplicada em dez vezes era preciso muita água. E já a temos. Nesta primeira fase temos cerca de 20 toneladas de cebola para cultivar, temos em média 1.000 pés de papaia e 1.000 de banana”, garante o agricultor, que pretende abastecer os mercados locais com mais produtos nacionais.

Entre os produtos que cultiva escolheu introduzir no mercado nacional a pitaya, fruta tropical que pretende direcionar ao turismo, que acredita irá interessar aos visitantes do arquipélago.

Quando, em 2020, construiu o primeiro destes lagos conseguiu armazenar 4.000 toneladas de água e triplicou a produção no seu terreno. A atual época de chuvas já deixa o empresário e agriculturor com grandes expectativas de mais crescimento.

“Em 2020 investi 180 mil escudos [1.620 euros] e comecei com lagos com capacidade para 4.000 toneladas e a água durou até ao mês de maio [sete meses]. Tinha ideia que teria sucesso e a intenção desde o início foi de ampliar a capacidade para mais três lagos, para chegar a 12 mil toneladas”, sublinha o agricultor, que pretende ainda ter mais 3.000 toneladas de água com a previsão de chuva para os próximos dias e assim armazenar água até agosto do próximo ano.

A sua fama pelos lagos artificiais já atraiu curiosos e interessados em adotar esta estratégia em Cabo Verde, face à escassez provocada pela seca. Além de poder levar novos lagos a outros locais, pretende que os mesmos possam servir de viveiros de peixes de água doce e assim representar uma alternativa.

“Muita gente me contacta de todas as ilhas a perguntar pelos lagos, de como são feitos e a minha ideia sempre foi replicá-los pelas outras ilhas. Não é um projeto caro, o problema encontra-se nos materiais e na importação dos mesmos”, explica.

A chuva que há praticamente quatro anos não tinha chegado com tanta intensidade, estando o país mergulhado numa forte seca apanharam desprevenido até o agricultor, que não esperava em algumas horas conseguir a quantidade de água que previa reter em dias.

No entanto, em 11 de julho, as autoridades cabo-verdianas anunciaram a previsão de uma época mais chuvosa este ano e mesmo a ocorrência de eventos extremos, como chuvas intensas, depressões tropicais, ventos fortes e agitação marítima.

Amílcar Lopes, que possui cinco hectares de terreno de zona rural, nasceu em São Vicente e esteve emigrado 17 anos, antes de “preparar terreno” para regressar ao país.

“Desde pequeno que gosto de trabalhar com a terra, apesar de viver no início na cidade, minha família costumava cultivar no Monte Verde. Voltei e a primeira coisa que fiz foi comprar uma horta”, disse.

No início tentou carreira como torneiro mecânico, mas foi a trabalhar na terra que se sentiu mais realizado. Garante que a ideia dos lagos artificiais foi vista com descrédito por algumas pessoas, que hoje o felicitam: “Quando falei, muitos duvidaram, mas eu sabia o que queria. Não gosto dessa política de desviar a água para o mar, porque água é vida, não deve ser desperdiçada”.

Enquanto esta mudança não chega, o agricultor vai colhendo os frutos proporcionados pela sua visão. Por semana já comercializa 60 quilogramas de pitya, 30 de morango, além da papaia, banana, tomate e maracujá.

A Semana com Lusa

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