Presidente de Cabo Verde diz que mundo não se pode impressionar com discursos extremistas

Em entrevista à Lusa, logo depois de ter discursado na 77.ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, José Maria Neves disse acreditar que o diálogo continua a ser a solução.

"Não nos podemos impressionar com os discursos mais extremistas ou mais violentos. Temos de continuar a persistir na busca de soluções negociadas para os conflitos. Quando há guerra, quando há ausência do diálogo, todos perdem e é o que está a acontecer neste momento: a humanidade está a perder muito com esta guerra na Europa. É preciso - o mais urgentemente possível -, que todas as instituições internacionais e todos os principais países do mundo convirjam no sentido de pararmos esta guerra e encontrarmos soluções mais duradouras para o futuro", disse.

Na quarta-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a mobilização de reservistas para a guerra na Ucrânia, referendos para a anexação de territórios ucranianos e prometeu recorrer a "todos os meios ao seu dispor" para proteger a Rússia, numa alusão ao armamento nuclear, acrescentando: "isto não é bluff".

Sobre discurso que levou à Assembleia-Geral da ONU, José Maria Neves afirmou que quis passar ao mundo "uma mensagem de paz".

"O mundo está a atravessar um momento extraordinariamente difícil e complexo. Temos de apelar novamente para valores do multilateralismo e do respeito pela soberania dos Estados, do respeito pela integridade territorial dos países. E temos de apelar sobretudo ao diálogo, à solução negociada de conflitos e para o reforço da cooperação entre os países", afirmou.

O Presidente de Cabo Verde defendeu assim uma "cooperação voltada para o desenvolvimento", "para a dignidade da pessoa humana" e para "defesa da diversidade, do pluralismo, das liberdades e da democracia".

"É esta a mensagem de Cabo Verde, enquanto um pequeno Estado insular em desenvolvimento, que respeita o direito internacional e o multilateralismo, que trabalha para ser um país útil na rede internacional e para construir parcerias para o seu desenvolvimento", acrescentou.

Na intervenção, José Maria Neves declarou que Cabo Verde tem a ambição de integrar o grupo dos Pequenos Estados Insulares Desenvolvidos e libertar-se da necessidade de apoio externo.

Nesse sentido, o chefe de Estado insistiu na necessidade do apoio aos pequenos Estados insulares, que estão confrontados com múltiplas crises, como as alterações climáticas, a devastação provocada pela pandemia da covid-19 e toda a problemática associada à insegurança alimentar.

"É preciso um olhar diferente e atento aos pequenos Estados insulares em desenvolvimento. É claro que nós apelamos para que, sobretudo as grandes potências, possam promover parcerias para, juntos, combatermos efetivamente os efeitos das mudanças climáticas", exortou.

"Temos que acelerar o passo e com os problemas atuais fica ainda muito mais difícil encontrar uma solução que seja consensual. É preciso continuar a fazer esse apelo e insistir nesta necessidade, porque, caso contrário, estamos a caminhar para o fim, para a destruição do planeta Terra. É preciso insistirmos nesta questão", reforçou o Presidente.

Um dos focos desta 77.ª Assembleia-Geral da ONU tem sido a necessidade de uma reforma do Conselho de Segurança, frequentemente rotulado de obsoleto devido à falta de representatividade.

Ao discursar na ONU, o Presidente norte-americano, Joe Biden, apoiou o aumento de membros permanentes e não-permanentes no Conselho de Segurança e apelou para inclusão de África.

Também José Maria Neves concordou com esse posicionamento de Biden, avaliando que a guerra na Ucrânia evidencia essa necessidade de reforma.

"Veja que a Rússia, que invade a Ucrânia, é um dos membros permanentes do Conselho de Segurança e tem poder de veto e é claro que há outras áreas geopolíticas, como a África, como América Latina, como outros continentes, designadamente a Ásia, que estão sub-representados", sustentou.

"Então, as Nações Unidas, a sua estrutura, não respondem hoje à geopolítica mundial. É preciso uma reforma profunda da ONU, desde logo pela mudança do Conselho de Segurança. Também temos feito um apelo nesse sentido. É claro que, enquanto parte da União Africana estamos a propugnar uma participação da África enquanto membro permanente do Conselho de Segurança", frisou o governante.

A Semana com Lusa

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