Jovens cabo-verdianos em França não querem esperar pela reforma para voltar a Cabo Verde

"Passei o confinamento em França em 30 metros quadrados em Lyon e pensei que não queria viver mais assim. [...] Não queria esperar como os nossos pais pela reforma e não queria que tudo que é bom no nosso país pertença aos estrangeiros", disse Djone Tavares, proprietário da empresa Jet Ski Rent.

A associação Nostalgia di Cabo Verde organizou este domingo a conferência "Volta pa nos terra", em Saint-Denis, na região parisiense, onde vários empresários franco-cabo-verdianos partilharam com os jovens da diáspora a sua experiência com os seus investimentos em Cabo Verde.

A experiência para Djone Tavares tem sido positiva, tendo definitivamente cessado a sua atividade em França, onde vive desde os 09 anos, e tendo agora cinco motas de água e um barco no Tarrafal e na Ilha de São Vicente, tendo ideias já para expandir o negócio.

"Estou a crescer pouco a pouco. Comecei a minha atividade em 2021, depois da covid-19, e já comecei tarde, mas correu logo tudo bem, fiz um bom verão este ano e está a ser um bom inverno", explicou Djone Tavares, que já emprega quatro pessoas.

Entre as principais informações partilhadas neste encontro, as questões administrativas foram debatidas, com dicas como a importância de ter uma boa rede de contactos já em Cabo Verde e de compreender as necessidades do terreno, assim como ter paciência.

"Ninguém consegue fazer nada sozinho, é preciso paciência e não se pode chegar com aquela arrogância de quem vem de França ou que é melhor em França. Mas é possível desenvolver um projeto encontrando as pessoas certas", declarou Telma Semedo Gonçalves, que tem uma agência imobiliária em França e uma em Cabo Verde, estando agora a finalizar um empreendimento de 10 apartamentos na Praia.

Na audiência, a curiosidade dos jovens, muitos deles nascidos em França, era grande. Cátia nasceu em Portugal e veio para França com sete anos, tendo uma vontade crescente de voltar para Cabo Verde, mesmo tendo um bom trabalho no setor dos recursos humanos em Paris.

"Eu gostava desde já comprar uma casa, e vi que os preços estão a subir, mas gostava de ver algum negócio que exista aqui na Europa e não em Cabo Verde e que se possa desenvolver. Gostava de criar algo que funcionasse e que desse emprego às pessoas lá", contou.

É exatamente no setor dos recursos humanos, que muitos empresários declaram haver algumas dificuldades, sendo difícil, por vezes, encontrar pessoas com a mesma visão de negócio, aconselhando a haver uma maior flexibilidade quando se recruta em Cabo Verde.

"O problema que eu encontrei a nível dos recursos humanos foi a dificuldade de a mentalidade ser diferente e encontrar alguém que tenha uma visão de gestão como a minha foi impossível, portanto acabei por suspender a minha atividade lá quando voltei para França", explicou Vahine Mendes, que nasceu em França e durante dois anos teve uma empresa de limpeza no Tarrafal, tendo voltado recentemente para terras gaulesas.

Para os jovens com maior motivação, os empresários franco-cabo-verdianos incentivaram este tipo de investimento, já que Cabo Verde é um dos países mais estáveis em África.

"Ao investirem em Cabo Verde, vocês estão a investir no equivalente aos Campos Elísios, em comparação com os países que tiveram uma colonização francesa, nós temos uma avenida completamente aberta. É um país estável, com uma democracia estável e onde não há uma corrupção ativa", concluiu Mickael Varela, proprietário da empresa MVS Invest. A Semana com Lusa.

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