Nações Unidas defendem perdão e reestruturação da dívida de pequenos países junto de organismos e instituições financeiras
As Nações Unidas defendem o perdão/estruturação de dívidas imediatas aos pequenos países que se esforcem para mitigar os efeitos da crise, junto da comunidade internacional e instituições financeiras como o Banco Mundial e FMI, para evitar a bancarrota.
A coordenadora residente das Nações Unidas em Cabo Verde, Ana Graça defendeu esta posição em entrevista exclusiva à Inforpress, argumentando que a tripla crise evidenciada pelas alterações climáticas, pandemia da covid-19 e mais recentemente com a Guerra da Ucrânia, está a ter um impacto “devastador”, a nível mundial.
“Naturalmente que países como Cabo Verde, mais ainda, países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos estão a ser extremamente afectados por estas crises múltiplas. No caso de Cabo Verde foram postas em práticas uma série de medidas desde o início da pandemia e agora com a Guerra da Ucrânia que têm mitigado o impacto destas crises nos mais vulneráveis”, esclareceu.
Apontou, ainda, medidas tomadas no arquipélago a nível da insegurança alimentar e da estabilização de preços em produtos como energia e combustíveis, “com encargos muito grandes para o Estado”, convicto de que não obstante apoios de parceiros e amigos, a situação de imprevisibilidade e sustentabilidade seja séria.
“É preciso que, tanto ao nível global, internacional, quando falámos do G20, do Banco Mundial, do FMI, das instituições financeiras, que a arquitectura financeira internacional perceba que se não tomar medidas imediatas em termos de perdão de dívida, reestruturação de dívida, aumento da liquidez financeira, todos estes países que estão a fazer um esforço grande para mitigar os efeitos desta crise podem não conseguir lá chegar”, alertou.
É que, para Ana Graça, estes pequenos países podem não conseguir aguentar o acréscimo que estão a fazer em termos de despesa pública para proteger as pessoas e se isto acontecer, acrescentou, muitos deles podem, realmente, entrar em bancarrota porque não conseguem manter o nível de acção ao nível local.
Por tudo isto, considerou ser preciso uma urgência muito grande da comunidade internacional e das instituições financeiras de apoiarem, cada vez mais, países como Cabo Verde e em desenvolvimento, para se conseguir ultrapassar esta tripla crise que é realmente avassaladora.
Nesta perspectiva, Ana Graça fez jus às preocupações levantadas pelo secretário-geral das NU, António Guterres, em como estima-se que actualmente mais de 70 milhões de pessoas estejam em risco de insegurança alimentar, a regressar ao estado de extrema pobreza, situação que a mesma classificou de “muito complexa”, com muitas ligações de natureza social, económica, geopolítica e com muita imprevisibilidade para o futuro.
A coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas, refira-se, rende-se ao nível do desenvolvimento de Cabo Verde, como um país “estável, democrático, de boa governação e que alinha” nos ideais desta organização intergovernamental, vocacionada para a cooperação internacional.