Governo de Cabo Verde desafia empresas a pagar melhor para reter quadros

Quando falamos da livre circulação de pessoas e bens, temos de assumir isso em todas as suas consequências”, respondeu Olavo Correia, ao ser ouvido pela Comissão Especializada de Finanças e Orçamento (CEFO) da Assembleia Nacional, no âmbito da proposta de lei do Orçamento do Estado para 2023.

A resposta a um deputado da comissão surgiu numa altura em que se multiplicam ações de recrutamento de empresas portuguesas no arquipélago, em áreas como hotelaria, restauração ou motoristas, com milhares de candidatos cabo-verdianos a comparecerem a entrevistas para algumas dezenas de vagas, na sequência da alteração da ratificação do acordo de mobilidade na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da alteração da lei de vistos em Portugal.

Segundo o também ministro das Finanças, todos estão a “gritar” pela mobilidade e livre circulação na CPLP, mas quando isso acontece todos voltam a fazer o mesmo.

E deu o exemplo dos portugueses, que emigram para Espanha, Alemanha, França, Estados Unidos da América, para dizer que a saída de trabalhadores de um país para o outro é normal.

“Portugal desapareceu? Não. Mas os portugueses estão todos os dias a emigrar”, insistiu Correia, considerando que as empresas em Cabo Verde têm é de aumentar a produtividade para poderem remunerar adequadamente os seus colaboradores e reter os melhores.

Não se pode manter os trabalhadores à custa de um salário baixo e da precariedade a nível salarial. Esta é uma vantagem da mobilidade laboral. As pessoas com uma remuneração condizente nunca vão deixar Cabo Verde para trabalhar noutras paragens”, considerou, prevendo um efeito inicial destas saídas, mas que posteriormente vai normalizar.

Considerando que “isso não é mau”, o vice-primeiro-ministro disse que o país deve agora aproveitar essa oportunidade para fazer de Cabo Verde um ‘hub’ de formação, para fornecer mão-de-obra qualificada ao mercado nacional e ao externo.

E neste sentido, recordou um acordo assinado em outubro com Portugal, para reforçar a parceria no âmbito da formação profissional, dando continuidade ao apoio técnico e financeiro ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Cabo Verde.

No mesmo mês, os dois governos assinaram, na Praia, um memorando de entendimento sobre mobilidade laboral, em que querem centrar a condução desses processos nos respetivos institutos de emprego para evitar redes, abusos ou exploração em Portugal.

“Acho que esta é uma grande oportunidade para Cabo Verde, e não só”, insistiu Olavo Correia, lembrando que a Europa está num cenário de diminuição da sua população, enquanto o continente africano tem uma demanda enorme de jovens para o mercado de trabalho.

Se nós regularmos isso bem, formarmos adequadamente, criamos um contexto de mobilidade sem estarmos a provocar problemas de mercado interno”, prosseguiu, dizendo que esta questão não deve ser dramatizada, uma vez que os cabo-verdianos sempre saíram do país à procura de melhores condições de vida noutros países.

O governante advogou que se aproveite essa oportunidade para os jovens cabo-verdianos e africanos “poderem qualificar-se e ir para o mercado europeu, depois voltar para o mercado cabo-verdiano e reter aqueles que são bons e querem ficar em Cabo Verde, com trabalho qualificado, bem remunerado e com uma formação adequada”, notando também que à medida que se vão formando, os jovens já não querem qualquer tipo de trabalho. A Semana com Lusa.

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