Conferencista defende importante contributo de Cabo Verde e Portugal na união deste mundo “perigosamente dividido”
Estas declarações foram feitas por esta entidade, durante a sua intervenção na conferência intitulada “Como poderemos reunir um mundo perigosamente dividido”, que proferiu hoje, no quadro do primeiro ano de mandato do Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves.
Na ocasião declarou que Cabo Verde tem sabido fazer o seu caminho em condições naturais, mesmo sendo muitas vezes em condições adversas, que lhe tem permitido ser distinguido como uma das melhores democracias e mais estáveis democracias do mundo, um exemplo de boa governação em África, um membro responsável das Nações Unidas, entre outras.
Respondendo ao tema da conferência afirmou que em primeiro lugar é preciso notar que esta divisão não é de hoje, mas sim, são divisões históricas, segundo critérios de desigualdades, de dominação e distribuição assimétrica dos recursos que vem de muitos séculos.
"Estas divisões foram-se acentuando ao longo da segunda década deste nosso século e da década presente em que vivemos (…) porque há uma triangulação de competição estratégica que não pode ser ignorada entre os Estados Unidos, a China e a Rússia".
Na sua opinião essa competição tripolar tem diminuído a relevância, o espaço de manobra para actores tão importantes na senda mundial, que o são ou deveriam ser, como a União Europeia, a Índia, o Brasil, a América Latina ou a África.
“É por isso que a divisão que o mundo hoje experimenta é tão perigosa, por esta lógica de concentração e redução dos actores relevantes, temos de contrariar este risco, esta lógica que ao fim ao cabo estreita o mundo e os problemas que o mundo deve enfrentar e as condições que o mundo tem para enfrentar esses problemas”, justificou.
Entretanto, para contrariar este risco sugeriu um exercício, de modo a não esquecer os problemas do mundo, a não esquecer as outras partes do mundo, sublinhando que caso contrário, o risco de retrocesso torna-se muito perigoso.
Conforme indicou, corre-se o risco do enfraquecimento das Nações Unidas, do recuo no multilateralismo, do desrespeito sistemático pelo direito internacional, da perda de espaço e de recursos para responder às necessidades reais de milhares de milhões de pessoas.
Neste sentido, defendeu uma reforma nas Nações Unidas através do alargamento do número de membros permanentes, e assim, diminuir os poderes desses membros, uma vez que considera que é preciso reunir o mundo para reconquistar a unidade, incorporando todos os interessados, as suas visões, perspectivas e suas histórias.
“A minha ideia é que se nem em Portugal nem em Cabo Verde abundam riqueza económica, dotação de recursos, tamanho do território, tamanho da população e forças militares, abundam, por outro lado, as capacidades que tem a ver com as qualidades e não com as quantidades”, disse, apontando o exemplo do factor estabilidade política.
“E, portanto, eu creio que o contributo de Portugal e de Cabo Verde passa por este esforço, para este esforço daqueles que se recusam a pensar nas divisões antagónicas entre norte e sul, ocidente e leste e assim sucessivamente, que participam nos esforços para nós nos reunirmos e nos tornarmos a reunir em torno das agendas comuns”, acrescentou.
A proposta portuguesa, segundo o seu presidente da Assembleia Nacional, é ainda que o Brasil, a Índia e que um país da África façam parte também como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas contribuindo com outras perspectivas, outras histórias e, também, outros futuros. A Semana com Inforpress