Ministro do Mar quer fábrica de transformação e conserva de pescado na Praia

“As pescas já contribuem com mais de 80% da exportação de Cabo Verde, creio que é um valor para subir. Aquilo que Cabo Verde exporta é produtos transformados do mar a partir de apenas três empresas. Duas em São Vicente e uma em São Nicolau [ilhas a norte]”, recordou Abraão Vicente, à margem de uma visita que está a realizar a várias infraestruturas portuárias em Santiago, ilha a sul e onde se localiza a Praia, a capital.

Abraão Vicente, que completa em 06 de dezembro o primeiro ano como ministro do Mar – após a demissão de Paulo Veiga deste cargo passou a acumular com as funções de ministro da Cultura -, explica que constatou ao longo destes meses “claramente a ausência de infraestruturas de apoio em terra”.

Também a falta de infraestruturas de logística, nomeadamente frio, congelamento e produção de gelo, bem como “uma deficiente ligação entre as comunidades piscatórias e os centros comerciais, os grandes mercados: Santa Catarina, Praia e São Vicente”.

A norte do arquipélago, a aposta passa pela construção do ‘hub’ da economia azul em São Vicente, “numa lógica” de ser a região em que o setor da pesca “representava” aquela área.

“Contudo, os dados demonstram que também temos que alavancar a região sul do país, dado que o censo sobre o setor das pescas é muito eloquente: A cidade da Praia tem a maioria dos armadores de pesca, tem a maioria dos pescadores artesanais, tem a maioria de pescadores e peixeiras”, apontou Abraão Vicente.

A prioridade, disse, passa por “desencravar e ligar as regiões não só a partir do transporte marítimo, mas através de um sistema de frio e congelamento que permita aos armadores da região sul” pescar e depositar “num centro logístico que depois poderá levar o pescado ao norte do país”.

“Mas também há o plano B, que devia ser também um plano A no processo de industrialização no setor das pescas: Santiago e a região sul do país terão que ter uma fábrica de transformação e conserva do pescado, dado que temos uma grande capacidade de peixe”, sublinhou.

“Basta ir ao porto da Praia e perceber que às vezes temos 10, 12 barcos com pescado a chegar. Claro que o mercado interno consome bastante, mas a nossa capacidade aumentará se fizermos rapidamente a transição do artesanal para o semi-industrial e com isso o Governo terá também que pensar por parte das verbas que estamos a mobilizar”, acrescentou.

Também reconheceu a necessidade de “descongestionar o porto da Praia”, melhorar o “défice crónico de infraestruturas de pesca” no norte da ilha de Santiago e apostar na logística interna para alimentar o mercado nacional como um todo.

“E essa logística passa por criar pequenos portos nas zonas pesqueiras”, apontou igualmente.

Abraão Vicente recordou que nos finais dos anos 1990 o Estado comprou alguns barcos de pesca industrial, de mais de 20 metros, “colocando-os à disposição de cooperativas de pesca para uma exploração mais eficiente”. Defendeu que é agora “preciso não só um novo olhar” para o setor das pescas, mas um “olhar mais inteligente, mais empresarial”.

“Vamos trabalhar afincadamente para que deixemos de falar do setor da pesca como um setor de sobrevivência que é neste momento pelo menos na região sul”, acrescentou.

“Contribuir de uma forma mais eficiente para a industrialização do setor, valorizando a região norte, valorizando as fábricas que já existem e a dinâmica que existe em São Vicente, mas também valorizando aquilo que já existe com cadeias de valor a sul do país”, concluiu.

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