Paralisia Cerebral Infantil: Cabo Verde tem ainda “um longo caminho a percorrer”
A presidente da Acarinhar, Teresa Mascarenhas, considerou hoje que
Cabo Verde, apesar de alguns ganhos, tem ainda um longo caminho a
percorrer em relação à melhoria de condições das crianças com paralisia
cerebral, nomeadamente na questão da educação.
Fazendo uma retrospectiva, em entrevista à Inforpress, esta responsável da Associação das Famílias e Amigos das Crianças com Paralisia Cerebral (Acarinhar) observou que a situação dessas crianças em Cabo Verde nunca esteve na medida dos desejos desta associação, tendo em conta um conjunto de barreiras que tem impedido que elas vivam de acordo com as suas necessidades específicas.
Entretanto, comparando a situação com a de há 16 anos, em que essas crianças viviam praticamente escondidas, afirmou que agora são feitas muitas dinâmicas junto das próprias família como também institucionais, realçando igualmente leis que têm beneficiado as crianças com paralisia cerebral, como por exemplo a que lhes dão direito a uma pensão social.
“O que neste momento mais dificulta as crianças com paralisia cerebral é o acesso à educação, tendo em conta que se fala muito da questão de inclusão das crianças com e sem deficiência no mesmo sítio, na mesma escola, por exemplo, temos poucas crianças com paralisia cerebral que vão para escola, devido a dificuldades”, salientou.
Isto porque, segundo Teresa Mascarenhas, factores como limitações motoras, com a maioria a viver em zonas de difícil acesso, tornam a locomoção desta camada da população mais difícil, dificultando muito a vida dessas crianças, jovens ou adultos.
Por isso considerou que nesta matéria Cabo Verde tem ainda um longo caminho a percorrer, apontando outros desafios como a falta de cadeiras de rodas adaptadas às suas necessidades, daí que, frisou, transportar a criança ao colo, ao mesmo tempo que transportar a cadeira, fica complicado.
Para Teresa Mascarenhas, para além de barreiras físicas, as barreiras psicológicas são as mais graves, porque, segundo disse, normalmente as pessoas pensam que as crianças com paralisia cerebral também têm dificuldades intelectuais, o que, advertiu, não é verdade.
“Na maioria dos casos as crianças com paralisia cerebral têm inteligência normal ou acima do normal. O problema que se põe é a impertinência muscular que impede que elas consigam expressar, quando utilizam a fala de uma forma natural como as pessoas normais”, assegurou.
Lamentou, entretanto, a carência enorme do pessoal técnico especializado, como terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala, e mesmo a nível da fisioterapia, que existem em número reduzido, e, por conseguinte, as crianças com paralisia cerebral dificilmente têm acesso a esses profissionais, e sendo que a maioria vive com as mães solteiras sem apoio de pais e nem cobertura do INPS, a dificuldade torna-se maior.
“A Acarinhar, ao longo deste percurso, conseguiu muitas coisas, inclusive na altura em que nasceu ainda as crianças não tinham o direito a pensão social, apenas só a partir dos 65 anos é que as pessoas com paralisia cerebral tinham este direito, mas fomos colocando as nossas pedrinhas, até surgir uma lei que agora dá direito às crianças e pessoas com menos de 65 anos de beneficiar de pensão social”, explicou, regozijando-se com este grande ganho que vem ajudar um pouco as mães que vinham a assumir toda a responsabilidade dos seus filhos com paralisia cerebral.
Teresa Mascarenhas manifestou ainda que a Acarinhar continua a sonhar, no futuro, em ter um verdadeiro centro de acolhimento de crianças e jovens com paralisia cerebral, com mais recursos económicos, mais recursos a nível do pessoal, por defender que esta é uma área que exige muito das pessoas, ou seja, praticamente para cada criança um técnico, ou no mínimo quatro crianças um técnico.
A responsável afirmou que trabalham com mais de 100 crianças, só no município da Praia, pelo que só conseguem realizar actividades com pequenos grupos de oito a dez crianças, informando que neste momento estão a preparar para, no próximo mês de Junho, inaugurar a sede que irá albergar a sala de intervenção, no âmbito do protocolo com o Ministério da Família.
Com esta espera ter melhores condições para acolher os meninos e mobilizar mais parceiros, apelando aos que podem colaborar, até oferecer uma manhã de trabalho, como artistas plásticos, pessoas na área de dança, da música, que estão abertos para os acolher.
“Com o novo espaço temos um projecto na mira, um dos nossos grandes desafios é pegar num grupo de jovens que estão em situação muito precárias, que ficam em casa sozinhas quando as mães saem para trabalhar e outros que ficam na rua, com a insegurança, e nós queremos organizar um projecto de acolhimento desses jovens durante todo o dia”, avançou.
Para o efeito, informou que estão na fase de sensibilização dos parceiros para a instituição na implementação deste projecto, uma vez que o subsídio do Governo, 58 mil escudos mês, é irrisório, o que não dá para fazer funcionar toda a instituição.
Porque, salientou, os meninos também precisam da presença de pessoas, de técnicos, mas acima de tudo o querer fazer com amor, apelando a mais colaboração dos jovens e engajamento de todos nesta causa “tão nobre”.
Inforpress