ENTREVISTA/Santiago Norte: Maioria dos doentes mentais está identificada e controlada
O director da Região Sanitária Santiago Norte (RSSN), João Baptista
Semedo, afirmou hoje que a maioria dos doentes mentais dos seis
municípios que compõem a região está identificada e controlada.
Em entrevista exclusiva à Inforpress, a propósito da saúde mental na região Santiago Norte, sem, no entanto, avançar números de doentes por cada município, o também médico informou que a abordagem/tratamento destes pacientes se dá em dois momentos, ou seja, a nível da atenção primária e a nível da atenção secundária.
Em relação à atenção primária, segundo ele, é a nível dos centros de saúde, onde existem todo o registo dos doentes crónicos com patologia mental nos diversos tipos, onde faz-se o seguimento mensal dos doentes, ou seja, ajuntou que todas as estruturas de saúde a nível dos seis municípios têm uma base de dados com todos os doentes mentais e os conhecem.
Aliás, informou que por causa dessa relação de proximidade é que as equipas de saúde mental de alguns municípios realizam actividades, por ocasião das datas que assinalam a saúde mental, e que passam por visitas às casas das famílias e sensibilização na própria comunidade sobre esta doença.
O segundo momento de atenção da abordagem dos doentes mentais, segundo a mesma fonte, é a nível da atenção secundária, onde os doentes quando estão descompensados são atendidos nas urgências do Hospital Regional Santa Rita Vieira (HRSRV), e também evacuados para o Hospital Regional Agostinho Neto.
Após o atendimento ou evacuação, acrescentou que estes doentes são avaliados para se saber se ficam internados ou se fazem tratamento agudo, de momento, ou se depois devem retomar o tratamento nas comunidades/municípios.
“A abordagem dos doentes mentais é mais ou menos assim. São doenças crónicas como hipertensão arterial e diabetes que deve ser feita a nível das comunidades e também se deve mobilizar toda a população, sobretudo a família, a Igreja e toda a sociedade civil organizada para apoiar e entender que os doentes mentais são pessoas como nós, e que carecem de apoios, sobretudo”, clarificou.
Nos centros de saúde, segundo João Baptista Semedo, os doentes mentais identificados fazem tratamento mensal e são atendidos pelos clínicos gerias que passam os medicamentos específicos ou renovam as receitas que estes trazem dos centros de psiquiatria.
Entretanto, acrescentou que em caso destes se descompensarem são referenciados para o Hospital Regional Santa Rita Vieira (HRSRV) ou para o Hospital Universitário Agostinho Neto (HUAN).
Por outro lado, lembrou que no HRSRV há um psiquiatra que dá apoio de forma descentralizada, ou seja, que dá consulta periódica em todos os seis centros de saúde da RSSN, visando reforçar o trabalho que os clínicos gerias fazem a nível da resposta dos doentes com problema de saúde mental.
No entanto, notou que, de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), os doentes mentais devem ser seguidos nas comunidades e que não se pode ir para o caminho de querer interná-los de forma obrigatória.
“É claro que há situação que são doentes descompensados e que vão necessitar de internamentos até que a situação se regularize. Mas, os doentes mentais quando estão controlados normalmente não são pessoas ofensivas à comunidade”, disse, alertando que “os doentes mentais são pessoas como nós e que qualquer um poderia estar nessa condição”.
Questionado sobre os doentes mentais que deambulam pelas ruas da cidade de Assomada, o responsável considerou “normal os mesmos estarem nas ruas, isto porque, ressalvou “é um direito deles e não podem ser enclausurados ou amarrados em casa”, citando recomendações da OMS.
“Há medidas de condição para os doentes descompensados, mas, que não passa pelo enclausuramento ou uso de forças ou violências”, insistiu Semedo.
Na ocasião, este responsável anunciou que a RSSN tem na forja dois projectos que visam tirar os doentes mentais das ruas, neste particular, das da cidade de Assomada, e para ajudar os doentes descompensados.
Trata-se, segundo ele, da transformação do ex-Centro de Saúde de Assomada, em Santa Catarina, no interior de Santiago, em Centro de Dia para doentes mentais, e da criação “para os próximos tempos” de uma enfermaria no Hospital Regional Santa Rita Vieira (HRSRV), em Santiago Norte, para os doentes mentais, ou seja, em caso de situação aguda/doentes descompensados.
Durante a entrevista exclusiva à Inforpress, o director da RSSN avançou que as doenças crónicas continuam a ser as que “mais afectam” a população da região Santiago Norte.
A RSSN conta com cinco delegacias de saúde, um hospital regional e um centro de saúde (São Salvador do Mundo) que depende da Delegacia de Saúde de Santa Catarina, e serve uma população estimada em 121 mil pessoas.
Inforpress