Morreu Humbertona, músico, diplomata e gestor

Conforme oficialmente confirmado, vítima de doenças prolongadas, Humberto Bettencourt Santos faleceu ontem no Mindelo, onde se encontrava a residir. Com a data do funeral ainda por indicar, o seu falecimento, com 83 anos de idade, constitui, segundo os homens da cultura, uma grande perda para a cultura cabo-verdiana.

Em sua homenagem, publicamos a seguir, uma resenha biográfica de Humbertona, enquanto músico, diplomata e gestor extraído da publicação «Nós Gente».

Humberto Bettencourt Santos – O músico, o diplomata e o gestor.

É uma das maiores referências do violão cabo-verdiano. Solista de excelência, Humberto Bettencourt Santos (Humbertona) é possuidor de um virtuosismo nato na execução e ao qual impõe um estilo característico e diferenciador. Na história da morna cabo-verdiana, para sempre ficarão na memória de todos temas como Sodade, Dispidida ou Miss Perfumado. Mas nem só de música é feita a carreira deste notável cabo-verdiano. De embaixador, a chefe de missão junto das Nações Unidas, Humbertona foi ainda membro da delegação responsável pelas negociações com Portugal dos termos e acordos para a Independência Nacional. Foi ainda gestor empresarial e presidente do conselho de administração da CV Telecom durante mais de dez anos. É atualmente cônsul honorário da Holanda e Bélgica, consultor e membro da comissão de honra da candidatura da morna a Património Imaterial da Humanidade.

Nasceu em 1940 em Santo Antão. A mãe, professora de profissão, conseguiu transferência para São Vicente, o que fez com que, com apenas dois anos de idade, Humbertona passasse a morar na ilha que, fruto da vivência e do ambiente que na época se vivia, ir-lhe-ia despertar a paixão pela música cabo-verdiana. O gosto que sentia pelos ritmos e músicas tradicionais era tal que, com apenas 12 anos de idade, trocou a sua e fiel espingarda de caça submarina por uma guitarra. Foi o seu primeiro violão, aquele que lhe iria despertar o virtuosismo na execução e na interpretação das mornas de Cabo Verde. Esta apetência natural para o violão não passou despercebida à sua mãe que, reconhecendo no jovem qualidades de exceção, o mandou aprender com o violinista e guitarrista Malaquias Costa.

Humbertona assimilou a experiência durante um mês e, a partir daí, sozinho ou com os primos, não perdia uma oportunidade para praticar. Aos 16 anos de idade era, em São Vicente, já considerado um promissor “tocador”.

A paixão pela música tradicional cabo-verdiana

Estreou-se em 1957, no mítico Éden Park, no coração do Mindelo, ao lado de Valdemar Lopes da Silva. Seguiram-se outras experiências musicais, nomeadamente com um grupo de talentosos jovens alunos do liceu Gil Eanes. Depois de cumprir o serviço militar em Angola, Humbertona, em conjunto com o pianista Tony Marques, forma, em 1964, o conjunto Ritmos Caboverdianos, no qual optaria por utilizar a guitarra elétrica. Os Ritmos Caboverdianos fizeram grande sucesso. Além de Humbertona e Tony Marques, compunham ainda o grupo os músicos Djosa (bateria), Lulu no acordeão e percussão, Djack de Câmara no baixo elétrico e Longines na voz. Fizeram digressões à Guiné-Bissau e ao Senegal. Atuaram ainda em Portugal onde gravaram o seu único disco. Foram dos primeiros grupos com instrumentos eletrificados a fazerem sucesso em Cabo Verde. Humbertona, que era o viola solo do conjunto, teve um papel fundamental na adaptação inicial da guitarra elétrica à música de Cabo Verde, que até então era esporadicamente utilizada.

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