Médico avalia percurso na ilha e diz que situação “está melhor” apesar da necessidade de “trabalhar ainda mais”

Em entrevista à Inforpress neste Dia Nacional do Médico, Hélder Pires considerou também que até ao momento o seu maior desafio da carreira foi aceitar trabalhar no concelho da Brava, realçando ainda que quando chegou à ilha aconteceu uma “fatalidade” que foi a perda de um paciente na viagem para a ilha do Fogo.

“Aquela infelicidade foi um choque que me fez crescer e me fez aprender a ser um bocadinho mais forte, é claro que ninguém queria que acontecesse esta fatalidade, dei o meu melhor, no entanto, nem tudo dependia de mim e por isso, não conseguimos evitar o pior”, lamentou, garantindo que agora o processo de transporte de doentes está “realmente mais seguro”.

Hélder Pires ressaltou que nestes três anos de prática já trabalhou na região do Fogo e que neste momento se encontra na Brava, “um grande desafio”, como delegado de Saúde do concelho.

“Qualquer médico que for nomeado para trabalhar neste município tem que vir bastante preparado, tendo em conta que o concelho tem muitas dificuldades, a nível de condições medicinais e a população é bastante exigente. Por isso, estamos a ser desafiados a fazer as nossas funções da melhor forma possível e de maneira mais perfeita que é humanamente provável”, notou.

Outrossim, considerou que na Brava há o desafio do transporte de doentes para a ilha do Fogo, o que, às vezes, informou, a decisão tem que ser tomada instantaneamente ou até mesmo sob pressão.

Conforme explicou a mesma fonte, o processo de transferência de um paciente para a ilha do Fogo ou cidade da Praia só é permitido quando o hospital não tem condições de proporcionar ao doente o tratamento necessário, tendo em conta que, em vários casos no concelho, não existem meios de fazer o diagnóstico.

Pires sublinhou ainda a ideia de ter um ginecologista obstetra em tempo integral no município, o que, segundo o mesmo, ajudaria “e muito”, uma vez que alguns partos de cesariana seriam feitos aqui na ilha e não teriam necessidades de transportar o paciente para outro concelho.

Sobe a atuação da Ordem dos Médicos Cabo-verdianos (OMC), o mesmo considerou que sempre estão em contatos com os profissionais, no entanto afirmou que deveriam fazer “ainda mais pela classe”.

“A OMC tem estado a proporcionar-nos algumas formações, mas penso que podiam melhorar, ou seja, disponibilizar uma capacitação de especialidade, não uma formação de curta duração que realmente ajuda, mas não tem tanta aplicabilidade”, sublinhou.

O clínico afiançou ainda que o salário dos médicos em Cabo Verde “precisa ser melhorado”, visto que recebem “uma quantia miserável”.

“Se um médico não estiver num cargo de chefia, ou então não estiver a fazer hora extra, o salário não será grande coisa”, finalizou.

O Dia Nacional do Médico, 17 de Janeiro, foi aprovado pela Assembleia Nacional pela lei 12/VI/2002 de 15 de Julho, e tem como objetivo incentivar a criação de condições visando a motivação, a satisfação e a melhoria do desempenho dos médicos; assegurar o reconhecimento social da importância e necessidade do exercício da profissão médica.

A Semana com Inforpress

Categoria:Noticias