Mercado mundial: Preços de exportação de cereais, soja e açúcar registaram baixa em Julho deste ano
De acordo com o Relatório recentemente divulgado pelo Secretariado Nacional para Segurança Alimentar e Nutricional (SNSAN), em Julho deste corrente ano, os preços médios de exportação dos três principais cereais registaram as variações médias de +1,6% para o arroz, -2,2% para o milho e -4,2% para o trigo.
O estudo aponta que os movimentos no mercado internacional do trigo foram marcados por uma redução dos preços mundiais de exportação, sustentada pelo aumento da oferta sazonal e pela fraca procura global, tendo os preços mundiais deste cereal de inverno dos Estados Unidos da América (EUA) registado as maiores quedas. A previsão de grandes áreas de culturas na União Europeia (EU), bem como noutros grandes exportadores, justificou também a tendência de baixa dos preços.
Refletindo a fraca dinâmica nos mercados de exportação das Américas, os preços mundiais de exportação do milho também recuaram face ao mês anterior, com maiores descidas registadas na Argentina e no Brasil, devido ao aumento da disponibilidade deste produto. Nos Estados Unidos, os preços foram impulsionados pelas condições climáticas favoráveis à colheita.
“Num mês de poucos movimentos no mercado internacional, os preços mundiais de exportação do arroz foram mais firmes, com as perdas na Tailândia e Índia a serem compensadas por ganhos noutros países!”, indica o documento.
Já na Tailândia, a queda das cotações de exportação do arroz foi atenuada sobretudo pelas preocupações com a colheita devido às condições de seca nas principais regiões. Nos Estados Unidos, a perspetiva de menores resultados para a safra de 2019/2020 ditou a alta dos preços.
Açúcar
Conforme o SNSAN, os preços mundiais de exportação do açúcar recuaram, registando em Julho deste corrente ano, uma baixa de 4,4%, face ao médio do mês anterior. A queda dos preços foi justificada, essencialmente, pela grande disponibilidade do açúcar na Índia. Entretanto, esta foi atenuada pelo ritmo acelerado da produção do etanol no Brasil e interesse da Índia e Tailândia em investir também nesta linha de produção. Relativamente ao mês homólogo de 2018, o preço médio de Julho corresponde a uma redução de 3,2%.
Trigo
Estimada em 763 MT, a produção mundial do trigo foi diminuída em cerca de 1% face ao mês de Junho passado, com baixas para a União Europeia, Canadá e Rússia parcialmente compensadas pelos aumentos para Estados Unidos e China. Apesar desta revisão de baixa de cerca de 6 MT, é expectável que a produção mundial venha a registar um nível jamais alcançado.
Importação e consumo mundial
Para o consumo mundial, é mantida a previsão de alta, cerca de 2% acima do valor estimado no 2018/19. A grande disponibilidade do trigo a preços competitivos em relação aos produtos alternativos, justificaram a perspetiva de aumento para o consumo humano, animal (rações) e para o uso industrial.
Com cerca de 173 MT, o comércio mundial foi revista em baixa face ao
mês de Junho, mas ainda assim, correspondendo a um aumento de cerca de
2% em relação ao ano 2018/19. Perspetivas de aumento de importação são
apontadas para o Extremo Oriente Asiático, Marrocos e África Subsariana,
prendendo-se muito com o crescente interesse em produtos à base de
trigo e do potencial deste para o uso animal (ração). De ressaltar que a
Rússia deverá manter a sua liderança na exportação do trigo, com uma
participação de 20% do mercado mundial.
Ainda, segundo o documento, a projeção para o final de 2019/20 (270 MT)
poderá representar um nível recorde do stock mundial, apesar de
corresponder a um corte de 5 MT face ao previsto no mês anterior. Esta
perspetiva de aumento anual deverá ser impulsionada, quase inteiramente,
pelos aumentos das reservas da China e Índia.
Preço
O preço médio do trigo regista em julho uma redução de 4,2% comparado ao médio de Junho. Em particular, verifica-se redução em todas as variedades, face ao médio de Junho, sendo -7,8% no trigo da França, -5,6% no trigo da Alemanha, -4,4% no Soft Red Winter (SRW), -3,4% no Hard Red Winter (HRW) e –0,2% no trigo da Argentina. Comparado ao período homólogo de 2018, o preço médio de Julho passado corresponde a uma redução de 7,1%.
Milho - Previsão Ano Agrícola 2019/20
O Relatório do SNSAN aponta que a produção do milho, a nível mundial, foi revista em 1.092 MT, representando um recuo de cerca de 3% face ao ano 2018/19, sustentado principalmente pelos resultados aquém das expetativas de grande parte dos produtores do Hemisfério Norte. Nos EUA, a previsão de queda acentuada da produção deverá ser, sobretudo, devido às incertezas sobre a área de cultivo, o nível de abandono e ao potencial do rendimento. “As projeções foram melhoradas para Argentina, Ucrânia e Brasil, mas não foram suficientes para compensar as reduções previstas para a China e a Rússia”.
Após altas sucessivas nos três anos anteriores, prevê-se que o consumo mundial em 2019/20 caia marginalmente, cerca de 0,3% (1.141 MT contra 1.144 MT do ano de 2018/19). Esta revisão reflete, essencialmente, as perspetivas de cortes na procura do milho para o consumo animal e uso industrial. Também está prevista uma diminuição de cerca de 1% na procura do milho para o consumo humano por parte dos três principais consumidores deste produto, nomeadamente, China, União Europeia e Estados Unidos.
Preço
Com todas as variedades em baixa, o preço médio do milho, regista em Julho uma redução de 2,2 % face ao médio do mês anterior. Em particular, regista-se no mesmo período, as seguintes variações em relação ao mês anterior: -4,0% no milho de Argentina, -1,5% no dos Estados Unidos e -1,3% no milho do Brasil. Comparado ao período homólogo de 2018, o preço médio do mês de Julho, representa um aumento de 9,6%.
Arroz - Previsão Ano Agrícola 2018/19
Com base nos estudos realizados pelo SNSAN, a produção mundial de arroz expandiu-se para um novo máximo (499 MT), com as previsões a serem mantidas para o ano de 2018/19, cerca de 1% acima do ano anterior, sustentadas, principalmente, pelo aumento da colheita na Ásia, incluindo uma temporada de produção recorde na Índia.
Isso, permite afirmar que a grande disponibilidade do arroz e aumento das populações nas principais regiões consumidoras poderão impulsionar o consumo mundial para um novo pico (492 MT), cerca de 1% acima de 2017/18.
“Entretanto, os ganhos poderão ser acentuados na Índia em função dos programas ampliados de segurança alimentar do governo, após a implementação da Lei de Segurança Alimentar. Por conseguinte, está prevista uma queda acentuada nas exportações da Tailândia e um aumento marginal nas do Vietname”, diz a fonte, sublinhando que com uma perspetiva de produção superior à procura, o stock mundial em 2018/19 pode chegar aos 157 MT, cerca de 5% acima do registado no ano de 2017/18.
Projeção - Ano Agrícola 2019/20
Ainda de acordo com o Relatório referido, a projeção do mês de Julho para a produção mundial foi mantida em 503 MT, excedendo em cerca de 1% ao ano anterior. Esta revisão foi justificada, em grande parte, pela expansão das áreas de cultivo na Ásia, principalmente nos principais exportadores. Isso deverá mais do que compensar as reduções em outras regiões. “A perspetiva de crescimento populacional nas principais regiões consumidoras da Ásia e da África poderá sustentar o aumento do consumo mundial, ficando 1% acima de 2018/19”.
Todavia, as perspetivas para o comércio mundial em 2020 permanecem provisórias, dependendo de uma série de fatores, incluindo balanços e políticas regionais de oferta e procura. Entretanto, este foi projetado em 47 MT, sustentado, em parte, pela previsão de grande disponibilidade mundial e exportação recorde para a África. “Com 162 MT, o stock mundial deverá atingir um novo recorde em 2019/20, impulsionado principalmente pelos novos acumulados de reserva da China e da Índia”.
Em termos de variedades, verifica-se em Julho deste corrente ano as seguintes variações, comparadas ao médio de Junho passado: -0,5% no arroz Thai 100% Grade B, +0,2% no Viet 5% Broken, +4,5% no arroz USA Nº 2,4%. Face ao mês homólogo de 2018, o preço médio de julho corresponde a uma redução de 4,2%.
Soja
Comparado ao mês anterior, os preços mundiais de exportação da soja caíram ligeiramente. Para já, segundo o estudo, nos EUA, as cotações de exportação permaneceram estáveis, apesar das condições meteorológicas inconstantes. Enquanto que no Brasil, os movimentos cambiais e a redução do interesse de compra pela China ditaram a baixa dos preços. Na Argentina, a queda deveu-se ao ritmo mais lento da procura.
Previsão - Ano Agrícola 2018/19
Conforme a fonte que vimos citando, com 363 MT, a produção mundial deverá atingir um novo recorde, correspondendo a um aumento de 6% em relação ao ano de 2017/18. Esta previsão reflete essencialmente os aumentos na colheita da Argentina e dos EUA que deverão compensar a ligeira redução prevista para o Brasil. Prevê-se que o consumo mundial avance para um nível recorde de 352 MT em 2018/19, mas, em termos anuais, estará abaixo da tendência dos últimos anos. Isso reflete os efeitos da febre suína africana e da contínua disputa comercial entre os Estados Unidos e a China.
De ressaltar que as perspetivas para o comércio mundial são reduzidas pelo quarto mês consecutivo, para 150 MT, uma queda de 2% face ao ano de 2017/18. Esta baixa foi sustentada pela redução das importações da China que são parcialmente cobertas pelo aumento das exportações para a Europa, África, Américas e outras partes do mundo.
Por outro lado, estima-se que o stock mundial, em 2019, venha a crescer cerca de 24% face ao ano anterior, impulsionado principalmente pela perspetiva aumentada de reservas dos Estado Unidos da América.
Projeção - Ano Agrícola 2019/20
Liderada pela perspetiva de queda de produção dos Estados Unidos, a produção global deverá atingir 348 MT em 2019/20. Com 359 MT, o consumo mundial foi revista em alta em relação ao mês de Junho, mas 2% abaixo da tendência anual.
O comércio mundial foi provisoriamente revisto em alta, com 151 MT, continuando a depender das necessidades de importações da China, que ainda são uma incerteza, devido à à disputa comercial com os EUA. Refletindo uma considerável contração nestes Estados, o stock mundial poderá cair cerca de 20%, pelo quinto ano consecutivo.
Ao nível de variedades, registam-se em Julho as seguintes reduções face ao médio de Junho passado: -2,7% na soja do Brasil, -2,0% na de Argentina e -0,2% na soja dos Estados Unidos. Em Julho, o preço médio regista redução em relação ao verificado no mês anterior (-1,6%).
Soja - Variação (%) do preço médio
Face ao mês homólogo de 2018, o preço médio da Soja em Julho apresenta uma redução de 6,6%. “As transações comerciais no mercado internacional durante o mês de Julho, foram em grande parte, condicionadas pelos movimentos na Índia, maior consumidor do açúcar e grande concorrente do Brasil na disputa pela liderança na exportação mundial do açúcar”, indica o documento.
De notar que na primeira quinzena de Julho, os preços mundiais do açúcar apresentaram tendência de baixa, em meio de condições climáticas favoráveis na Índia e alto nível do stock neste país, contribuindo assim para o aumento da sua disponibilidade. “A queda dos preços globais não foi mais acentuada, neste período, devido à manifestação de interesse dos produtores indianos em produzir etanol”.
Entretanto, a partir de segunda quinzena do mesmo mês, os preços globais do açúcar começaram a dar sinais de recuperação, sustentados pela intensificação da produção do etanol no Brasil. Neste país, a redução de 20% no preço da gasolina não foi suficiente para desestimular a produção do etanol, uma vez que este ainda tem proporcionado maior rentabilidade aos operadores económicos, do que a exportação do açúcar.
O interesse da Tailândia pela produção do etanol, também contribuiu para a subida dos preços mundiais do açúcar. Este país asiático considera a possibilidade de estabelecer uma cooperação com o Brasil, no sentido de conhecer a sua experiência na produção do etanol. A Tailândia pretende com esta produção, criar maiores oportunidades para os agricultores, reduzir a poluição do ar e a disponibilidade mundial do açúcar.
Convém salientar que a nível global, está previsto um deficit da produção na safra em curso, 2019/20, de cerca de 2 MT, segundo a Green Pool Commodity Specialist. Entretanto, esta avançou que dado ao alto nível do stock, será necessário um deficit maior, para que haja recuperação dos preços mundiais do açúcar.
Recorde-se que o Relatório Mensal do Mercado Internacional (RMMI) é uma publicação editada pelo Secretariado Nacional para Segurança Alimentar e Nutricional (SNSAN), entidade que tem por atribuição o seguimento do mercado dos Produtos Alimentares de Primeira Necessidade (PAPN). Trata-se de um documento que fornece informações sobre o comportamento mensal do Mercado Internacional dos cereais, oleaginosas e açúcar, tendo como fontes sites especializados acessíveis por assinatura.