Linha marítima S.Vicente-Santo Antão: Líder regional do PAICV denuncia situação de caos e afronta aos utentes


Para o dirigente tambarina, é natural que a empresa vencedora do concurso tenha, inicialmente, um período para se adaptar à nova realidade, mas o tempo vai se passando e não há sinais de melhorias, o que deixa qualquer filho desta ilha preocupado.

«De uma situação de 3 barcos que serviam essa linha, passamos a um único barco, agravado com a desorganização total dos serviços, uma enorme demora na venda das passagens porque o sistema é demasiadamente lento, aumento dos preços para transporte de viaturas, introdução de taxas de 250 escudos para os bebés de 0 -2 anos, crianças dos 2 aos 12 anos agora pagam 400 escudos, equivalente a uma meia passagem. Isto sem contar com a limitação do número de bagagens e uma desresponsabilização gritante do direito à informação, ou seja um dia dizem uma coisa outro dia dizem outra sobre o mesmo assunto», enumerou o líder da CPR de Santo Antão.

Segundo a mesma fonte, com esta situação, os trabalhadores, sobretudo os marinheiros e motoristas, viram os seus contratos alterados com a redução dos salários em alguns casos até de 20 mil escudos, e consequente precariedade laboral, passando de um contrato por tempo indeterminado com os anteriores armadores, para contratos de três meses. Isto numa fuga clara das responsabilidades fiscais, sem contar com o aumento da carga horária já que o navio Inter-ilhas passou a fazer quatro viagens diárias, o que naturalmente gera cansaço e o stresse nos tripulantes. «Esperemos é que o navio também não se canse, pois a acontecer a ilha de Santo Antão ficará, de vez, isolada», alertou.

O político do maior partido da oposição faz questão de salientar que aquilo que já representava um ganho para a ilha, e que constituía uma reivindicação da população e das autoridades locais, que é a pernoita de um navio no Porto do Porto Novo, para eventuais situações de emergência, foi retirado.

«É nossa preocupação, também, o facto de estar a circular informações de que a empresa pretende limitar o transporte de viaturas de cargas, deixando apenas viaturas de passeio, pois isso irá pôr em risco o ganha-pão de muitos proprietários de carrinhas que, com a introdução do sistema roll on roll off, viram esse canal como uma janela de oportunidade para se auto-sustentar a si e sua família, e recorreram à banca para concretizar o investimento. Alem de representar um retrocesso, desvirtua completamente o sistema roll on roll off, um dos maiores ganhos conseguidos no transporte de pessoas e bens», alerta.

Retrocesso e responsabilidades do governo

Saturnino Baptista diz acreditar que o bom senso impere e que esta medida, infeliz e absurda, não se concretize, porque iria “matar” a essência e o objectivo maior deste importante investimento que culminou com a instalação das referidas rampas, que há anos vem permitindo a circulação mais rápida, segura e eficaz de bens, mercadorias, produtos agrícolas e materiais de construção entre as duas ilhas vizinhas e complementares.

Baptista considera que a ilha está a retroceder com esta medida. «Entendemos que qualquer medida ou mudança possa, inicialmente, trazer algum constrangimento, mas as melhorias devem ser visíveis e, neste caso, infelizmente, o que é visível mesmo, é o retrocesso de um trabalho de dezenas de anos. Há muito que não se vivia um caos do tipo, no que diz respeito a ligação marítima entre essas duas linhas. Nota-se, sim, um descontentamento generalizado dos utentes e operadores que dizem sentir-se maltratados, injuriados e lesados económica e financeiramente».

Diante de tudo isto, diz ser urgente a adoção de medidas no sentido de aumentar o número de navios nessa linha, introduzir novos navios com caraterísticas de segurança e conforto, como prometido, organizar os serviços e retomar a pernoita de um navio no Caís acostável do Porto Novo.

«Caso a empresa não tomar essas medidas, em tempo oportuno, exige-se que o governo assume as suas responsabilidades para pôr cobro à situação indigna que afeta os utentes desse serviço e ameaça a economia da ilha», exige o líder regional do PAICV em Santo Antão.

Entende a mesma fonte que, perante toda esta “barafunda”, uma pergunta legítima, que todos fazem é a seguinte: porque ao inves de criar condições aos armadores nacionais visando melhorar e aprimorar um serviço que vinham prestando há muitos anos, decide-se contratar uma empresa estrangeira, apenas para lucrar no nosso país, uma vez que até agora não apresentaram um único barco, tendo optado pelo afretamento dos navios que já vinham prestando esse Serviço e que o próprio governo criticou por não preencherem os requisitos em termos de idade máxima de 15 anos, como exigido no Caderno de Encargos do concurso?

Rentabilidade da linha e afronta aos utentes

Para o líder da CPR do PAICV, linha marítima S. Vicente/Santo Antão/S. Vicente, além de ser a de maior fluxo de passageiros, portanto rentável, com as obras de extensão e modernização do Porto e construção de uma gare das mais modernas na África Ocidental, até 15 de agosto passado era também considerada a mais consolidada, pontual, previsível e segura, ou seja, prestando um serviço de qualidade e ser um exemplo a seguir em Cabo Verde.

Embora os contornos do Concurso Público Internacional, lançado em janeiro de 2018, não tenham sido suficientemente claros, nem conhecidos pela Sociedade Cabo-Verdiana, considera que a expetativa era de que com a nova Empresa “Cabo Verde Ineri-lhas”, criada na decorrência desse concurso, ia melhorar, ainda mais, o Serviço e os produtores e agricultores iam poder escoar o seu produto diretamente do porto do Porto Novo para os mercados das ilhas mais turísticas, em condições de segurança e em tempo útil.

«Ao contrário, para a frustração e desalento dos utentes, desde o mais simples cidadão, passando pelos operadores económicos, turistas e entidades, desde o tão esperado dia 15 de agosto que a ilha vive momentos de grande aflição, com recuos jamais vistos, desmoronando todo o trabalho feito e gerando um descontentamento generalizado, concretamente na Ilha de Santo Antão, pelos prejuízos que já se somam pelo não acesso ao serviço em tempo útil, de passageiros e cargas», denunciou.

Saturnino Baptista justificou que, perante essa tamanha afronta, a Comissão Política Regional do PAICV de Santo Antão - Órgão constituído por cidadãos, também utentes desse Serviço -, torna público a sua indignação e o seu descontentamento, juntando a sua voz a do povo, para exigir medidas urgentes para a resolução desses problemas que, com a entrada em funcionamento da nova empresa, vem afetando gravemente a ligação com a ilha de S. Vicente e, consequentemente, com outras ilhas e com o estrangeiro.


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