Dilma Rousseff apelida Governo de Bolsonaro de "neofascista"
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25/09/2019 07H34
A grande reportagem publicada em junho pelo jornal eletrónico The Intercept,
na qual foi colocada em causa a imparcialidade da operação Lava Jato,
que resultou na detenção de Lula da Silva, foi um dos temas em destaque
na entrevista a Dilma Rousseff.
Para a antiga Presidente brasileira, “em qualquer outro país os envolvidos deveriam ter sido interrogados e até julgados”, uma vez que “cometeram irregularidades e uma série de ações ilegais”. “E, ainda mais grave, essas conversas privadas demonstram que não existiam provas contra Lula e que as alegações de então foram forçadas e são falsas”, defendeu.
“Além disso, atuaram de forma política”, considerou. “A Justiça brasileira ficou comprometida. Um juiz não pode comportar-se como um acusador. Não sei como irá desenvolver-se esta situação, num Governo neofascista como o atual, que ataca todos os setores”.
“As instituições judiciais transformaram-se numa empresa e, com Sergio Moro como chefe do Ministério Público de Curitiba, foi desencadeada a operação Lava Jato. É certo que descobriram muitas coisas, mas a questão é sobre quem se focaram: Lula”, atirou a antiga Presidente.Bolsonaro e a Amazónia
Aos 71 anos, aquela que foi a primeira mulher eleita para governar o Brasil manifestou-se ainda sobre a desflorestação da Amazónia e o envolvimento de Jair Bolsonaro, que considera “não só estar a destruir a Amazónia, como a soberania do Brasil”.
“O país tem uma área de preservação 11 vezes maior do que toda a Espanha e tudo isso está a ser ameaçado. Tudo começou com o governo anterior, de Michel Temer, mas às escondidas”, salientou.
“Com Bolsonaro não. Bolsonaro teve atitudes gravíssimas, tal como a de encerrar o Conselho Nacional para o Meio Ambiente. É uma política deliberada, Bolsonaro deixou explícito o seu objetivo de exploração mineira da zona. A Amazónia é uma epifania”.
“Uma peça de teatro”
Quanto ao processo de impeachment de que foi alvo há três anos, Dilma considera que tal foi “uma injustiça” e um “golpe de Estado”.
“A minha destituição foi o primeiro ato de uma peça de teatro. O segundo ato foi eleger um Governo que adotou (…) uma reforma laboral que precariza o trabalho, algo que o nosso Governo não teria feito. E foi isso que criou o ambiente para a chegada de Bolsonaro”, declarou.
Sobre o Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff admitiu uma derrota. “Perdemos, ficámos em segundo lugar, mas somos os únicos que sobreviveram à razia da extrema-direita, com 47 milhões de votos, 44,8 por cento”.
“O Partido dos Trabalhadores manteve a sua dignidade. Cometemos erros mas também tivemos sucessos. Impedimos a chegada do neoliberalismo”, assegurou, acrescentando que se mantém ativa na política. “Acredito na política no sentido grego, como serviço público”.
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