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Macron sob pressão. Mais de 600 médicos franceses ameaçam sair

Centenas de médicos franceses a trabalhar em hospitais daquele país ameaçam bater com a porta, caso o Governo não dê um passo atrás nos cortes orçamentais para a saúde. Os profissionais em protesto denunciam que o sistema público está a um passo do colapso.

“Os hospitais públicos em França estão a morrer”. É o que se pode ler numa inédita carta aberta assinada por 660 médicos - entre os quais chefes de serviços de unidades de saúde de toda a França - que se preparam para sair esta semana às ruas em protesto.

Ao cabo de nove meses de greves hospitalares, os clínicos signatários da carta aberta reclamam conversações urgentes com o governo tutelado pelo Presidente Emmanuel Macron. As paralisações tiveram início em março nos serviços de urgência, mas propagaram-se entretanto a unidades de pediatria ou psiquiatria.Há 19 anos, a Organização Mundial da Saúde classificava o sistema público de saúde de França em primeiro lugar, numa tabela de 191 países. Já em 2017, recorda o jornal britânico The Guardian, a revista Lancet reservou-lhe o 15.º posto em termos de qualidade dos cuidados médicos.

Na carta, os médicos advertem que os cortes orçamentais, a supressão de camas nos hospitais e as carências no domínio dos recursos humanos estão a empurrar o sistema público de saúde em França para o colapso, ameaçando mesmo as vidas de doentes.

“Hospitais públicos: uma emergência com risco de vida”, poder-se-á ler nas faixas que os médicos vão empunhar durante as manifestações previstas para terça-feira em todo o país.

As sucessivas greves no sistema de saúde, a par de outras paralisações como aquela que envolve os trabalhadores da ferrovia - em protesto contra a reforça do sistema de pensões - estão a acentuar a pressão em torno do gabinete de Emmanuel Macron.

O Presidente prometeu, há um mês, reforçar o financiamento dos hospitais e dos rendimentos dos profissionais, por via de bónus. Compromisso considerado insuficiente.

“Estabelecimentos de referência como Necker e Robet-Debré recusam-se a receber crianças que precisam de um enxerto, porque, com a epidemia de bronquiolite, já não têm camas de reanimação”, descreve ao diário francês Libération Michel Tsimaratos, responsável pelo serviço multidisciplinar pediátrico do hospital pediátrico de La Timone, em Marselha.

“E se lhes falta camas é porque lhes falta enfermeiros para que se ocupem delas”, acrescenta.

Véronique Leblond, chefe do serviço de hematologia de Pitié-Salpêtrière, em Paris, signatária da carta, faz um relato semelhante: “Num serviço muito especializado como o meu, o turnover dos enfermeiros é um drama”.

“Tenho cinco que partem em janeiro que não serão substituídos. Os interinos são nulos ao ponto de alguns doentes recusarem que eles entrem nos seus quartos. Tratar doentes que receberam um transplante de medula óssea não se improvisa. O que se está a passar é vergonhoso”, completa.


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