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Sistema financeiro mantém resiliência em 2024, apesar de vulnerabilidades estruturais

Publicada em: 24/09/2025 10:26 -

Segundo o documento, o Índice Agregado de Estabilidade Financeira registou evolução favorável, reflectindo a solidez das instituições bancárias e uma ligeira melhoria do clima económico externo. O rácio de solvabilidade do sistema bancário atingiu 23,9%, muito acima do mínimo regulamentar de 12%, enquanto o rácio de alavancagem subiu para 9,8%. A liquidez manteve-se confortável e a rendibilidade apresentou ganhos expressivos, sustentados pelo aumento dos resultados líquidos.

Apesar deste quadro positivo, o relatório alerta para vulnerabilidades estruturais persistentes, entre as quais a elevada concentração de crédito e depósitos, a forte dependência dos recursos do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) — que representa quase 15% dos depósitos totais — e a exposição significativa ao risco soberano, equivalente a 48,4% do crédito total.

A qualidade da carteira de crédito registou evolução mista: o incumprimento global subiu para 7,9% do total, reflectindo sobretudo dificuldades no sector público empresarial e em algumas empresas privadas. Contudo, houve melhoria no crédito às famílias, sustentada pelo aumento do emprego formal e pela contenção da inflação. O sector imobiliário continua a ser um ponto de atenção, representando 43,3% do crédito total, com uma taxa de incumprimento de 12,6%, acima da média do sistema.

Os testes de stress realizados em 2024 confirmaram que, embora o sistema bancário se mantenha solvente, choques severos de crédito e liquidez poderiam criar pressões significativas sobre o capital em algumas instituições, evidenciando a necessidade de reforço de capital.

Nos sectores não bancários, o mercado segurador mantém riscos sistémicos baixos, mas com elevada exposição ao sector bancário, dado que 96,9% dos seus investimentos em acções estão concentrados em instituições de crédito. O mercado de capitais apresentou evolução positiva, com a capitalização bolsista a crescer 65%, mas continua a ter um peso reduzido na economia (1,09% do PIB).

O relatório destaca ainda o cibercrime como risco emergente. Em Cabo Verde, registaram-se tentativas de intrusão nos sistemas de pagamento sob gestão da SISP, todas neutralizadas, mas o FMI alerta que a resiliência cibernética exige estratégias nacionais robustas e protocolos de resposta eficazes.

Em termos de medidas macroprudenciais, o BCV iniciou em 2024 a constituição da reserva de conservação de capital para bancos de importância sistémica doméstica (D-SIBs), concluída em Maio de 2025, reforçando a capacidade de absorção de choques.

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