Macron recebe primeiro-ministro italiano em Paris apesar das tensões
Na quarta-feira, um porta-voz do Governo francês acusava o executivo
italiano de “cinismo e irresponsabilidade face a uma situação
humanitária dramática”, em referência ao navio “Aquarius", que
transporta mais de 600 migrantes e que foi rejeitado por Roma no início
da semana.
A resposta chegou pela voz de Matteo Salvini, ministro italiano do
Interior, que destacou a “história de solidariedade, generosidade e
voluntariado” de Itália.
“Espero que (os membros do Governo francês) venham pedir desculpas oficiais o mais depressa possível”, exigiu o responsável.
O comunicado
desta quinta-feira salienta que o Presidente francês esclareceu por
telefone que não pretendia “ofender a Itália ou os italianos” com as
declarações e recorda ainda “que sempre defendeu a necessidade de uma
maior solidariedade europeia para com o povo italiano”.
O comunicado das autoridades francesas e italianas refere que os líderes
dos dois países acordaram a manutenção do encontro de amanhã também
devido ao Conselho Europeu, que se realiza nos dias 28 e 29 de junho, e
que deverá ser dominado pela temática da imigração.
A bordo seguem 629 migrantes, entre os quais mais de 123 menores
desacompanhados, onze bebés e pelo menos sete mulheres grávidas.
Depois da recusa por parte do recém-empossado Governo italiano, conotado
com as forças da extrema-direita – Matteo Salvini, ministro do
Interior, é o líder da Liga – também Malta rejeitou a atracagem do barco
no seu porto, alegando que recebe muitos mais migrantes que Itália,
tendo em conta a proporção dos dois países.
Perante o impasse, o Governo espanhol ofereceu-se na segunda-feira
para acolher o navio parado no meio do Mar Mediterrâneo. O Aquarius é
agora aguardado no porto de Valência e a chegada está prevista para o
próximo sábado durante a noite. Com ele seguem outros dois navios da
Guarda Costeira e da Marinha italiana, para os quais foram deslocados
alguns dos mais de 600 migrantes.
Na quarta-feira, em resposta às declarações proferidas pelo porta-voz do
Governo francês, o ministro Matteo Salvini acusou Paris de não cumprir
com as quotas de acolhimento de migrantes definidas por Bruxelas.
“Peço ao Presidente Macron que passe das palavras aos factos e que
acolha, amanhã de manhã, os nove mil migrantes que França prometeu
acolher”, apontou o ministro.
Emmanuel Macron foi igualmente criticado pela classe política francesa
por não ter mostrado a disponibilidade de França para acolher o barco
errante. Para muitos, as autoridades francesas foram as grandes ausentes
na resolução desta crise, e as reprovações saíram desde logo do partido
La Republique En Marche!, fundado pelo Presidente francês, na voz de figuras como Fiona Lazaar, Sonia Krimi ou Anne-Christine Lang.
Também a representação dos Médicos Sem Fronteiras em França criticou a
reação do Presidente francês, que se recusa a reconhecer como crimes
contra a humanidade a “persecução dos migrantes na Líbia” e que se
“absteve” no caso do Aquarius, arriscando “ser cúmplice” na ausência de
assistência aos migrantes.