Macron recebe primeiro-ministro italiano em Paris apesar das tensões


O encontro marcado para sexta-feira entre Giuseppe Conte e Emmanuel Macron vai mesmo realizar-se, segundo confirmaram as autoridades dos dois países esta quinta-feira através do mesmo comunicado.




Antes, o executivo italiano tinha ameaçado que cancelaria a reunião na ausência de um pedido de desculpas por parte do chefe de Estado francês, tal como fora exigido pelas autoridades italianas.

 
Na quarta-feira, um porta-voz do Governo francês acusava o executivo italiano de “cinismo e irresponsabilidade face a uma situação humanitária dramática”, em referência ao navio “Aquarius", que transporta mais de 600 migrantes e que foi rejeitado por Roma no início da semana.  
 
A resposta chegou pela voz de Matteo Salvini, ministro italiano do Interior, que destacou a “história de solidariedade, generosidade e voluntariado” de Itália.  
 
“Espero que (os membros do Governo francês) venham pedir desculpas oficiais o mais depressa possível”, exigiu o responsável.  
 
O comunicado desta quinta-feira salienta que o Presidente francês esclareceu por telefone que não pretendia “ofender a Itália ou os italianos” com as declarações e recorda ainda “que sempre defendeu a necessidade de uma maior solidariedade europeia para com o povo italiano”.  
 
O comunicado das autoridades francesas e italianas refere que os líderes dos dois países acordaram a manutenção do encontro de amanhã também devido ao Conselho Europeu, que se realiza nos dias 28 e 29 de junho, e que deverá ser dominado pela temática da imigração.  
 

“A Itália e a França devem aprofundar a cooperação ao nível bilateral e europeu de forma a conduzir a uma política migratória eficaz com os países de origem e de trânsito, para uma melhor gestão europeia comum das fronteiras e de um mecanismo europeu de solidariedade para com os refugiados”, refere o texto divulgado esta quinta-feira pelas duas lideranças.




O encontro de sexta-feira decorrerá durante o almoço e será seguido de conferência de imprensa conjunta, refere ainda o texto.    Cumplicidade francesa?


A querela franco-italiana, como lhe chama a agência France-Presse, teve origem depois da crise com o navio Aquarius. No domingo, o governo italiano recusou-se a receber a embarcação, que transporta imigrantes ilegais resgatados de barcos de borracha no Mar Mediterrâneo por organizações não-governamentais.

 
A bordo seguem 629 migrantes, entre os quais mais de 123 menores desacompanhados, onze bebés e pelo menos sete mulheres grávidas.  
 
Depois da recusa por parte do recém-empossado Governo italiano, conotado com as forças da extrema-direita – Matteo Salvini, ministro do Interior, é o líder da Liga – também Malta rejeitou a atracagem do barco no seu porto, alegando que recebe muitos mais migrantes que Itália, tendo em conta a proporção dos dois países.  
 
Perante o impasse, o Governo espanhol ofereceu-se na segunda-feira para acolher o navio parado no meio do Mar Mediterrâneo. O Aquarius é agora aguardado no porto de Valência e a chegada está prevista para o próximo sábado durante a noite. Com ele seguem outros dois navios da Guarda Costeira e da Marinha italiana, para os quais foram deslocados alguns dos mais de 600 migrantes.  
 
Na quarta-feira, em resposta às declarações proferidas pelo porta-voz do Governo francês, o ministro Matteo Salvini acusou Paris de não cumprir com as quotas de acolhimento de migrantes definidas por Bruxelas.  
 
“Peço ao Presidente Macron que passe das palavras aos factos e que acolha, amanhã de manhã, os nove mil migrantes que França prometeu acolher”, apontou o ministro.  
 
Emmanuel Macron foi igualmente criticado pela classe política francesa por não ter mostrado a disponibilidade de França para acolher o barco errante. Para muitos, as autoridades francesas foram as grandes ausentes na resolução desta crise, e as reprovações saíram desde logo do partido La Republique En Marche!, fundado pelo Presidente francês, na voz de figuras como Fiona Lazaar, Sonia Krimi ou Anne-Christine Lang.
 
Também a representação dos Médicos Sem Fronteiras em França criticou a reação do Presidente francês, que se recusa a reconhecer como crimes contra a humanidade a “persecução dos migrantes na Líbia” e que se “absteve” no caso do Aquarius, arriscando “ser cúmplice” na ausência de assistência aos migrantes. 

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