Efeito dominó das alterações climáticas são uma séria ameaça
Uma equipa internacional de investigadores alerta no estudo "Trajetórias do Sistema Terreste no Antropoceno",
publicado esta segunda-feira, que o aumento das temperaturas globais em
dois graus acima dos níveis pré-industriais desencadeará o colapso dos
sistemas naturais.
Estes sistemas, como é o caso das florestas da Amazónia, do gelo do Mar
Ártico e Manta de Gelo da Gronelândia, absorvem carbono, evitando que
este siga para a atmosfera. Por essa razão, estes sistemas têm ajudado a
evitar os piores impactos do aumento da temperatura no planeta.
Os cientistas receiam que, caso um desses sistemas venha a colapsar
devido ao aumento das temperaturas, todos os outros sistemas sejam
destruídos no chamado “efeito dominó”.
Por exemplo, o degelo da Manta de Gelo da Gronelândia poderá despoletar
uma mudança na Circulação Meridional do Oceano Atlântico. Esta mudança
abriria a possibilidade de um aumento do nível dos oceanos e a
acumulação de calor no Oceano Antártico, o que poderia levar ao degelo
no este da Antártida.
O que é o mesmo que dizer que ainda que os países cumpram com as medidas
estabelecidas no Acordo de Paris (2015), as consequências continuarão a
ser catastróficas.
”O que estamos a dizer é que, quando passarmos os dois graus de
aquecimento, podemos chegar a um ponto em que entregamos o mecanismo de
controlo ao próprio planeta Terra”, explicou Johan Rockström, co-autor
do estudo, à BBC.
A eminência de uma “Terra Estufa”
Um aumento de temperaturas desta magnitude levaria a um cenário a que os
cientistas apelidaram de “Terra Estufa”. Nesta situação, abater-se-iam
sobre o planeta as temperaturas globais mais altas dos últimos 1,2
milhões de anos.
“A nossa sociedade não poderia continuar a viver da mesma forma, com um
aumento das temperaturas médias de quatro a cinco graus e um aumento do
nível dos oceanos entre 10 e 60 metros”, afirmou Katherine Richardson,
co-autora do estudo, à CNN.
Os autores admitem que as temperaturas atuais podem não implicar
diretamente esse risco de ultrapassar a marca dos dois graus. Deixam,
contudo, o alerta para a possibilidade de a Terra estar mais sensível ao
aquecimento global. “Devemos aprender com estas temperaturas e tomá-las
como um aviso para sermos mais cuidadosos”, apontou Johan Rockström.
O estudo indica que temos de “adotar passos para reduzir os impactos
perigosos no planeta Terra”, o que inclui parar de queimar combustíveis
fósseis, proteger as florestas e desenvolver máquinas que eliminem o
carbono do ar.
Há, no entanto, quem sugira que não se pode confiar nas populações para
que alterem os seus modos de vida: “Dadas as evidências da história
humana, isso parece-me uma esperança ingénua”, afirmou Chris Rapley, da
University College London.