Cabo Verde realiza primeiro encontro nacional de batuco a pensar em património mundial

“O IPC [Instituto do Património Cultural] até agora já fez um inventário, temos mais de 100 grupos em todo o território nacional, corresponde a mais de 1.000 pessoas que praticam este género”, respondeu Vandrea Monteiro, assessora de projetos do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, em conferência de imprensa, na cidade da Praia, para apresentar o primeiro encontro nacional de batuco.

Denominado de “Maior tereru di batuku du mundo” [maior terreiro de batuco do mundo], o evento vai realizar-se durante todo o dia de quinta-feira, na rua pedonal em Assomada, concelho de Santa Catarina de Santiago, colocando na mesma roda cerca de 700 elementos de 54 grupos de todos os nove municípios de Santiago e do Maio, ilhas onde esta manifestação cultural é praticada, maioritariamente por mulheres, mas já atrai também homens e crianças.

“Numa simbiose cultural, com o propósito de valorizar e preservar este género musical”, afirmou a responsável sobre o batuco, que já é classificado como Património Imaterial Nacional, mas o Estado cabo-verdiano pretende a sua elevação a Património Imaterial da Humanidade.

Segundo a assessora, vai ser um “evento enorme”, com orçamento de 3,8 milhões de escudos (34,4 mil euros), que conta com parceria de várias empresas e instituições locais, esperando também o apoio das câmaras municipais para o transporte dos grupos até Assomada.

Vandrea Monteiro explicou ainda que o encontro não se num palco, mas sim todos à volta, numa espécie de quintal, para “celebrar o batuco”, e também não haverá concurso, nem prémios. “Vamos ter os 54 grupos juntos, unidos, onde todos cantam a música de todos”.

No último Edital Resgate e Promoção da Música Tradicional Cabo-verdiana, apresentado há um mês pelo ministro da Cultura, Abraão Vicente, dos 34 projetos de gravação de singles e videoclipes de música tradicional, quase metade dos quais de grupos de batuco.

A porta-voz do Ministério da Cultura revelou que foram registadas “dezenas e dezenas” de pedidos de financiamento por parte de grupos, o que levou o Ministério a começar a investir mais nesses neles, algo que promete continuar no próximo ano.

“O propósito é começar por aí, termos um inventário, e este evento é um arranque, nós precisamos começar de algum ponto, e o objetivo é claro, é sermos ainda maiores”, almejou Vandrea Monteiro, para quem o segundo encontro poderá ser em 31 de julho de 2023, dia em que no ano passado foi instituído como Dia Nacional do Batuco, a assinalar anualmente.

“Temos este propósito, já que temos uma data para comemorar, então por que não? Vamos começar agora, este primeiro evento está a ser muito positivo, porque sabemos onde é que os grupos estão, quem é que está disponível, quais é que já não funcionam, ou que precisavam, se calhar, de uma motivação para recomeçarem”, afirmou.

O encontro de batuco está enquadrado na política de incentivo às economias criativas, através de realização de atividades culturais e de turismo alternativo e segundo a assessora pretende também dinamizar a e economia local, explicando que todas as empresas contratadas e voluntários são de Santa Catarina.

Além da roda de batuco, haverá ainda workshops com vários praticantes e amantes deste género, numa “festa bonita”, espera Monteiro.

O batuco é uma manifestação cultural secular que nasceu na ilha de Santiago, essencialmente apresentado por mulheres, conhecidas como batucadeiras, que combina percussão, canto e dança, em que a mulher é a corista e canta sobre o dia-a-dia, mas também de política e cultura, por vezes com crítica.

Com a proibição do uso de tambores durante o período colonial, as mulheres passaram a ‘batucar’ em peças de tecido, denominadas de “Txabeta”, que ainda se mantêm, juntamente com os tambores.

A Semana com Lusa

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