Chefe do Exército de Myanmar diz que ONU "não tem o direito de interferir" no país
"Nenhum país, nenhuma organização e nenhum grupo tem o direito de interferir" na política de Myanmar, disse o general Min Aung Hlaing, citado no jornal oficial do exército.
A ONU exige que seis altos oficiais do exército, incluindo Min Aung Hlaing, sejam processados por "genocídio" contra a minoria muçulmana.
Num relatório entregue na terça-feira, os investigadores da ONU apelam ao Conselho de Segurança para recorrer ao Tribunal Penal Internacional através de uma resolução ou para criar um tribunal internacional `ad hoc`, como no caso do Ruanda ou da ex-Jugoslávia.
No mesmo relatório, as Nações Unidas pediram ao governo civil de Myanmar para afastar as Forças Armadas "da vida política" do país pela implicação no "genocídio" da minoria rohingya.
O documento, de 444 páginas, detalha os abusos cometidos contra aquela comunidade, cujos elementos não são reconhecidos como cidadãos nacionais desde 2011, sendo que a maioria dos casos está concentrada nas regiões de Kachin, Shan e, sobretudo, em Rakain, no norte do país.
A investigação tem como base 800 entrevistas a sobreviventes dos massacres, mas inclui também fotografias e imagens captadas por satélite que demonstram a campanha de "terra queimada" levada a cabo pelas autoridades e os militares.
O relatório concentra-se na vaga de violência ao longo dos anos, mas sobretudo desde 25 de agosto de 2017 na região de Rakain e que provocou a fuga de mais de 800 mil pessoas para o Bangladesh, onde passaram a viver como refugiados.
Em concreto, a missão considera que "o balanço mais conservador" aponta para o assassinato de, pelo menos, dez mil pessoas durante as operações de limpeza étnica ocorridas em 2017.
A líder de Myanmar (chefe do governo em funções) e Prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi é igualmente responsabilizada porque não utilizou o cargo e autoridade moral para travar os acontecimentos ocorridos na região de Rakain, no ano passado.