Carpinteiro de bares e restaurantes quer melhorar a habitação de Cabo Verde

Agora, estuda forma de aplicar a sua arte na melhoria das condições habitacionais de uma das ilhas com mais habitações precárias e inacabadas do arquipélago.

“Um cliente queria que eu construísse uma ‘casinha’ para colocar na Baía das Gatas, durante o festival”, contou à Lusa, a propósito do evento musical que todos os anos enche a ilha de visitantes durante o mês de agosto e atrai empresários da restauração.

“Este ano, fiz de novo, mas desta vez, maior”, a pedido do cliente satisfeito e que o pôs a pensar na expansão do negócio.

Odair Cruz usa madeira de paletes, uma matéria-prima económica e que lhe permite construir rapidamente.

O negócio de construção de estruturas desmontáveis começou em 2022, com inspirações trazidas de fora que foram adaptadas tanto no design, quanto nos materiais, na carpintaria instalada na zona periférica de Craquinha, Mindelo.

Por 200 a 400 escudos (menos de quatro euros), Odair consegue juntar a madeira de uma palete - estruturas usadas na indústria e comércio para transporte de carga - e algumas vigas, materiais encontrados no mercado local, o que torna este trabalho “mais económico e rápido”, descreve.

O cliente da Baía das Gatas contou-lhe que “mesmo com todo o investimento numa construção daquela espécie de ‘casinha desmontável’, conseguiu ter lucro e por isso aumentou a sua dimensão este ano”.

O bar encheu, o trabalho ganhou fama e agora Odair quer dar asas à veia de empreendedor: analisa oportunidades de mercado para “lançar a construção de casas pré-fabricadas de madeira, como já se faz noutras paragens, para investir neste mercado ainda pouco explorado no país”.

As estruturas assinadas pelo carpinteiro de ‘biscate’ - trabalhos esporádicos e muitas vezes informais - poderão ajudar a solucionar problemas habitacionais.

De acordo com dados do Ministério das Infraestruturas, Ordenamento do Território e Habitação, em 2019, havia 39.023 pessoas com problemas habitacionais, sobretudo nas ilhas de Santiago e São Vicente – as mais populosas.

Por outro lado, dados oficiais de 2021 indicam que dos cerca de 24 mil edifícios recenseados na ilha de São Vicente, cerca de um terço nunca foram concluídos, o terceiro pior registo dos 22 concelhos do país – agravado por um dos piores índices de barracas ou casas de bidão.

Números que não condizem com a vocação turística da ilha, uma das atrações de Cabo Verde e que Odair quer explorar para expandir a sua carpintaria, além da fama no apoio à restauração. A Semana com Lusa

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