Queijo do Maio quer conquistar Cabo Verde, mesmo com futuro incerto

"Com o tempo pode acabar, sim, porque estamos a ver que os jovens não estão interessados", previu à Lusa Rosalina Cardoso, responsável pela Queijaria Dom João, na localidade com o mesmo nome, no leste do Maio, a cerca de 13 quilómetros da capital da ilha, o Porto Inglês.

Em Ribeira Dom João, a produção de queijo é antiga e quase todos já o fizeram em casa. A própria Rosalina Cardoso, 58 anos, aprendeu o ofício aos 12 anos, com a mãe.

As produtoras do queijo estavam inicialmente organizadas numa associação, com 16 pessoas, e em 2014 foi criada a queijaria, uma cooperativa que começou a produzir três anos depois.

Só que a pandemia de covid-19 irrompeu e obrigou a uma paragem prolongada, da qual só agora a cooperativa está a sair, retomando as atividades.

Nesta retoma, conta com apenas seis mulheres que tentam levar adiante a produção, cuja qualidade já foi reconhecida com apoios da Câmara Municipal do Maio e da União Europeia, que também notaram o potencial do produto alimentar, sobre o qual todos querem descobrir qual o "segredinho" da receita.

"Não há nenhum segredo, apenas cada pessoa tem a sua mãozada", salientou Rosalina, moradora da aldeia com cerca de 500 habitantes, em que as principais atividades económicas são a criação de gado, a agricultura e um pouco de pesca.

O processo de produção do queijo começa logo cedo, com a ordenha das cabras que os criadores pastoreiam nos campos dos arredores. Segue-se a coagulação, uma espera de duas horas numa sala fechada da queijaria.

É esse processo que torna o queijo do Maio tão especial, por ser natural, feito à base de estômago de cabrito recém-nascido - uma pitada seca e fervida para dar o toque especial -, conforme avançou Rosalina Cardoso.

O próximo passo é um processo manual de extração da água, enquanto a parte sólida é compactada minuciosamente, à mão, em várias formas, posteriormente temperada com sal, ficando a marinar no frigorífico por mais 24 horas.

Depois disso, são lavados, limpos e embalados — há quem também prefira sem embalagem -, no único passo que envolve máquinas em todo o processo.

"Muita gente pergunta se usamos algum químico, mas o nosso queijo é todo natural", descreveu a responsável pela unidade, indicando que o produto comprado na queijaria custa 250 escudos (2,2 euros), enquanto, sem embalar, são 200 escudos (1,8 euros).

Por dia, produzem-se até 19 queijos, mas a ideia é chegar aos 100.

Para isso, Rosalina Cardoso diz que só há uma forma: ter cabras de raça melhorada.

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