Ambientalistas sem explicação para aumento de ninhos de tartaruga em Cabo Verde
Ambientalistas sem explicação para aumento de ninhos de tartaruga em Cabo Verde
Em entrevista à agência Lusa, a bióloga Berta Renom, da Rede Nacional de
Proteção das Tartarugas Marinhas (Taola), afirmou que só na ilha do
Sal, onde para já estão contabilizados os ninhos, foram registados
14.950, o dobro face aos 7.700 de 2017.
“É espetacular”, disse Berta Renom, recordando que já em 2017 o número de ninhos tinha sido o dobro do ano anterior.
Apesar de apenas ter disponíveis os dados referentes à ilha do Sal, a rede Taola sabe que este aumento é “um fenómeno em todas as ilhas” de Cabo Verde, disse a bióloga.
O aumento é bem-vindo, mas cientistas e ambientalistas ainda não têm uma explicação para o fenómeno, embora apontem várias possibilidades.
“Existem flutuações naturais da espécie que se devem, em parte, ao facto de nem todas as fêmeas saírem do mar para colocar os ninhos, optando por se resguardar no mar. Pode ser que este seja um ano em que elas optaram por realizar este percurso”, disse Berta Renom.
Outra hipótese aponta para os efeitos da proteção desta espécie, processo que arrancou há cerca de 20 anos, inicialmente na ilha da Boavista, alargando-se depois a todas as ilhas cabo-verdianas.
O Governo aprovou em 1987 as primeiras leis de proteção das tartarugas marinhas, legislação que permitiu proibir a captura de tartarugas durante a sua época de desova.
“As tartarugas levam 20 anos para atingirem a idade adulta. Pode ser um regresso a Cabo Verde, nomeadamente das primeiras que aqui nasceram e que conseguiram chegar ao mar”, adiantou.
Apesar das várias hipóteses, a comunidade científica e ambientalista não se compromete com uma só explicação, optando por congratular-se com o aumento dos ninhos e pedindo a manutenção das medidas de proteção de uma espécie que continua vulnerável.
Na ilha do Sal, por exemplo, a poluição luminosa ameaça quase um terço dos ninhos. Isto porque as crias de tartaruga vão na direção da luz logo após a eclosão, tendo em conta que o horizonte do mar é mais brilhante devido ao reflexo das estrelas e da lua no mar.
Como a luz das cidades é mais brilhante do que na natureza, as tartarugas ficam muitas vezes desorientadas e vão no sentido das cidades e não do mar, sujeitando-se a todos os perigos nesse trajeto.
Berta Renom alerta ainda para o perigo que representam os cães vadios para estes animais, pois muitas vezes estes comem os ninhos das tartarugas.
Perante ameaças que “não são naturais”, os ambientalistas optam por colocar alguns ninhos em viveiros ou recolocá-los em outros locais na praia.
Este ano, foram colocados em viveiro 1.900 ninhos e 2.900 foram recolocados na praia.
Em resultado, 94.000 tartarugas foram libertadas no mar, as quais dificilmente iriam sobreviver às ameaças.
Uma em cada quatro tartarugas marinhas que desovam nas praias de Cabo Verde são apanhadas para consumo, segundo dados oficiais que indicam que, no ano passado, tanto a captura como o número de ninhos aumentaram.
No final desta “época da tartaruga”, Berta Renom congratulou-se ainda com a criminalização do consumo de carne e ovos de tartaruga, o que veio reforçar as medidas previstas no regime jurídico especial de proteção das tartarugas marinhas.
No entanto, apenas quando os infratores são apanhados em flagrante é que a lei consegue atingir os seus objetivos.
Mas “antes da lei, nem isso acontecia”, disse.
Ainda segundo as contas da Taola, em 2017 foram registados em todo o arquipélago 43.500 ninhos de tartarugas, mais 12.000 do que no ano anterior.
A desova das tartarugas começa em junho e decorre até final de outubro ou início de novembro. A eclosão acontece entre agosto e o final de dezembro.
Segundo a Taola, a tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), é a única que nidifica regularmente em Cabo Verde, embora existam cinco espécies de tartarugas marinhas nas águas do arquipélago, estando todas elas protegidas.
Durante séculos, as tartarugas foram capturadas para a alimentação, para fins ornamentais e artesanato, mas também devido aos mitos que o seu sangue curava doenças. A Semana/Lusa