China avisa Canadá para deixar de recrutar aliados em disputa com Pequim
O embaixador chinês no Canadá, Lu Shaye, classificou como "facada nas costas", a detenção, no mês passado, da diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, em Vancouver, a pedido das autoridades dos Estados Unidos.
O diplomata ameaçou ainda com retaliações, caso a Huawei seja banida de participar no desenvolvimento da rede de Quinta Geração (5G) do Canadá.
Lu considerou ainda que seria uma "má ideia" a ministra canadiana dos Negócios Estrangeiros, Chrystia Freeland, usar o Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, para recrutar apoio internacional contra a China.
Freeland afirmou que a detenção de dois cidadãos do Canadá pela China, numa alegada retaliação pelo caso de Meng, estará no topo da sua agenda em Davos, e não recuou após os comentários do embaixador.
Meng Wanzhou foi detida a pedido dos Estados Unidos, por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis.
A executiva aguarda agora que as autoridades norte-americanas apresentem um pedido formal de extradição.
O caso gerou uma disputa diplomática entre o Canadá e a China, que, entretanto, deteve dois canadianos, por "prejudicarem a segurança nacional" do país, numa aparente tentativa de pressionar o Canadá para que liberte Meng.
Esta semana, um tribunal chinês condenou ainda à pena de morte o canadiano Robert Lloyd Schellenberg, por tráfico de droga.
Neste caso, a sentença foi proferida após o tribunal ter ordenado a repetição do julgamento, um mês depois da detenção de Meng. Schellenberg foi inicialmente condenado, em 2016, a quinze anos de prisão.
Numa reação às palavras do embaixador chinês, Freeland afirmou que a "detenção de Meng é uma questão de Estado de Direito e do Canadá agir de acordo com as obrigações estipuladas pelos seus tratados internacionais".
"A detenção de Meng não é de forma alguma um julgamento político pelo governo do Canadá. Não é de forma alguma um pronunciamento sobre a nossa relação com a China", disse.
A ministra defendeu que a detenção dos cidadãos canadianos na China "não é uma questão apenas do Canadá, mas da comunidade internacional" também.
"Há um grande e crescente grupo de aliados que compartilham as preocupações do Canadá sobre o Estado de Direito", afirmou
A China rejeitou já as acusações de Freeland de que a detenção dos canadianos representa uma ameaça para todos os países.
"Acho que a sua ministra dos Negócios Estrangeiros se precipitou e falou sem pensar", disse Hua Chunying, porta-voz da diplomacia chinesa, em resposta a uma pergunta de um jornalista canadiano.
Muitos países expressaram apoio ao Canadá. Os EUA consideraram que a pena de morte foi "politicamente motivada" e, na quinta-feira, o governo espanhol divulgou um comunicado expressando a sua preocupação com a sentença de Schellenberg e as detenções dos outros dois canadianos.
O Canadá está ainda a analisar se vai proibir a Huawei de participar no desenvolvimento da sua rede 5G, à semelhança dos EUA, Taiwan, Nova Zelândia ou Austrália.
A Huawei esteve sob investigação pelo Congresso dos Estados Unidos, que num relatório de 2012 considerou que a empresa tem uma relação próxima com o Partido Comunista Chinês, e que facilita a espionagem chinesa.
Fundada em 1987, por Ren Zhenfei, um ex-engenheiro das forças armadas chinesas, a Huawei é hoje o maior fabricante global de equipamentos de rede.
As redes sem fio 5G destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais elétricas, pelo que vários governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como ativos estratégicos para a segurança nacional.
Na semana passada, a agência de contraespionagem da Polónia deteve o diretor de vendas da Huawei, por suspeitas de espionagem.