Presidente chinês Xi Jinping é o inimigo "mais perigoso" das sociedades abertas, diz George Soros
Num discurso proferido durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, Soros lembrou que, apesar de a China não ser o único regime autoritário do mundo, é o "mais rico, poderoso e tecnologicamente avançado".
"Isto torna Xi Jinping no mais perigoso inimigo das sociedades abertas", disse.
Soros referiu o sistema de crédito social que está a ser desenvolvido pela China e que atribui pontos a cada cidadão segundo o seu comportamento, situação financeira, desempenho profissional ou académico.
O sistema suscitou críticas por se temer que resulte numa evasão de privacidade e em descriminação, ao impedir pessoas com baixa pontuação de acederem a melhores empregos e universidades ou migrarem para cidades mais prósperas.
Soros considerou que, quando se tornar operacional, "dará a Xi controlo total sobre o povo".
O investidor, de 88 anos, cuja fortuna foi feita em apostas em fundos especulativos, incluindo a mais famosa contra a libra esterlina, no início dos anos 1990, costuma usar as suas aparições em Davos para alertar sobre os perigos para a ordem mundial democrática baseada em regras.
No ano passado, criticou as plataformas tecnológicas, o que levou a rede social Facebook a questionar se ele estava a apostar contra o seu valor em bolsa.
Na noite de quinta-feira, Soros detalhou que o seu objetivo era chamar a atenção para a ameaça chinesa.
Um crítico aberto do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Soros considerou que a atual administração norte-americana desenvolveu "uma política coerente" em relação à China.
Trump é "notoriamente imprevisível", afirmou, mas o Governo dos EUA identificou corretamente o regime chinês como um "rival estratégico".
Uma guerra comercial espoletou já entre as duas maiores economias mundiais, com Washington a aumentar as taxas alfandegárias sobre 250 mil milhões de dólares de bens chineses, visando conter as ambições tecnológicas e geopolíticas de Pequim.
No ano passado, quando Xi anunciou o início de uma "nova era" e reforçou o poder interno ao abolir o limite de mandatos para o seu cargo, com o objetivo final de firmar a posição da China como grande potência até meados deste século, Washington definiu o país como a sua "principal ameaça", apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas que ameaça bipolarizar o cenário internacional.
A nova vocação internacionalista da China materializa-se no gigantesco plano de infraestruturas `uma faixa, uma rota`, que visa conectar o sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa, e é vista como uma versão chinesa do `Plano Marshall`, lançado pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, e que permitiu a Washington criar a fundação de alianças que perduram até hoje.
Soros apelou a uma reação norte-americana à iniciativa chinesa, que segundo ele, foi criada para promover os interesses de Pequim e não dos países recetores dos investimentos, exemplificando com os casos do Sri Lanka, Malásia e Paquistão.
"Os ambiciosos projetos de infraestruturas (da China) eram financiados, sobretudo, através de empréstimos caros, não através de subsídios, e funcionários desses países foram frequentemente subornados para aceitá-los", disse.
"Muitos desses projetos mostraram-se antieconómicos", acusou.
Soros pediu à administração dos EUA que tome medidas mais efetivas para lidar com a ameaça chinesa, inclusive suster os fornecedores de equipamentos de telecomunicações ZTE e Huawei, que, segundo ele, podem representar um risco de segurança "inaceitável" para o resto do mundo.
"A China é um importante ator global. Uma política eficaz, em relação à China, não pode ser reduzida a chavões. Temos de ser muito mais sofisticados, detalhados e práticos; e devemos incluir uma resposta económica norte-americana à iniciativa `Uma Faixa, Uma Rota`, afirmou.
Soros sugeriu que existe uma oposição interna a Xi Jinping, e esperança de mudanças na China.
"Sendo Xi o inimigo mais perigoso da sociedade aberta, devemos depositar as nossas esperanças no povo chinês e, especialmente, na comunidade empresarial e numa elite política disposta a defender a tradição confuciana", disse.
Referências a uma nova Guerra Fria são já comuns entre funcionários chineses e norte-americanos.
No mais simbólico discurso sobre a China da atual administração norte-americana, o vice-presidente Mike Pence acusou o país de "agressão económica", "crescente militarismo", e de recorrer à armadilha do endividamento para fazer avançar os seus interesses nos países em desenvolvimento, "contestando as vantagens geopolíticas dos Estados Unidos e tentando mudar a ordem internacional a seu favor".
"As administrações anteriores ignoraram as ações da China - e, em muitos casos, ajudaram (Pequim)", afirmou. "Mas esses dias chegaram ao fim", concluiu.