Venda da TACV por 143 mil contos: Questiona-se onde param 0,587 milhões de euros

O que se questiona é sobretudo a idoneidade e capacidade técnica da empresa ( American Appraisal/ Duff & Phelps, segundo anuncia o governo) que fez a avaliação da TACV, que ficou extremamente baixa. É que, conforme uma fonte deste jornal, só o edifico do Platô da companhia nacional da bandeira poderá custar mais de 600 mil contos.

Ou seja, para os críticos, contabilisticamente falando não há razão para muita festa, porque o Estado de Cabo Verde saiu claramente a perder – apenas conseguiu 143 mil contos de encaixe financeiro - dá para a compra de uma média de três imóveis, com um custo de à volta de 30 mil contos cada. Consideram que o montante arrecadado é muito insignificante para uma companhia nacional de Bandeira, em que só a marca TACV constitui um activo de valor considerável.

Peritos alertam ainda que há a esclarecer por onde param 0,587 milhões de euros (cerca 65 mil contos), se se comparar os 1,3 milhões de euros (143 mil contos) da compra dos 51% de acções da extinta TACV e a avaliação desta feita em 3,7 milhões de euros. Por isso, interrogam os técnicos que o Ministério das Finanças poderão estar perante um erro técnico nos cálculos ou então a eventuais irregularidades registados no processo por esclarecer.


Entretanto, no tocante à esperança de que a nova unidade possa vir a garantir melhores ligações do país com o resto do mundo, minimizando gastos públicos através do Tesouro, o negócio poderá , na óptica de operadores do sector, representar um eventual ganho, como perspectiva o Governo. Mas mesmo assim, alertam que tem que se esperar para ver e crer, como diz o Tomé.


Governo esclarece o negócio


Referindo-se ao negocio em causa, a Unidade de Acompanhamento Empresarial do Estado (UAEE) explica, no comunicado remetido ao A Semanaonline, como está avaliado o valor patrimonial da empresa e a aquisição das 51% de cações da TACV por 1,3 milhões de euros.


« O valor patrimonial da empresa foi estabelecido no montante de 9,2 milhões de euros. 5.48 milhões de euros representavam os ativos imobiliários. O valor patrimonial excluindo os imóveis totaliza assim os 3.7 milhões de euros. No âmbito das negociações feitas, foi possível excluir todos os ativos imobiliários desta transação. O montante acordado para a aquisição de 51% do capital da empresa, entre o Estado e o parceiro estratégico, é de 1,3 milhões de euros. Convém notar que mais 6 milhões de dólares de capital será injetado pelo parceiro estratégico para a capitalização da empresa, totalizando cerca de 7.3 milhões de euros».


O documento realça, no entanto, que o acionista Estado vai continuar o seu desinvestimento na empresa, realizando brevemente a alienação de 10% do seu capital social aos trabalhadores e emigrantes, mantendo-se com 39% das ações da companhia que serão alienadas ainda em 2019 a investidores nacionais e internacionais.


« A fazer fé na mesma fonte, com esta operação, a Cabo Verde Airlines passa a representar um importante instrumento de alavancagem do sector dos transportes, contribuindo consequentemente para o desenvolvimento económico do país. «Com a privatização da TACV, estamos a mudar de paradigma com a redefinição clara dos papéis dos diversos atores: a Cabo Verde Airlines que rege-se por critérios de rentabilidade e sustentabilidade do negócio para crescer e desenvolver-se com impacto positivo sobre a economia do país; a regulação que tem que se ajustar às novas exigências do mercado que deixa de ser dominado pelo Estado; o Estado que deixa de confundir a política de transportes com a gestão da companhia de bandeira, para se focalizar na criação de condições e instrumentos de políticas que tenham em conta o país insular que somos, a diáspora e a necessidade de boas conectividades aéreas e marítimas entre as ilhas e estas com o mundo», lê-se no documento referido.


Possibilidades de novos voos e empregos


Conforme revela a Unidade de Acompanhamento Empresarial do Estado, na eventual renovação da imagem da marca da TACV, serão mantidas as referências a Cabo Verde, por forma a garantir que a companhia mantenha a sua ligação com o nosso país à semelhança do que acontece em muitas paragens, como os casos da Singapore Airlines, American Airlines, Ethiopian Airlines, etc. «No âmbito do contrato assinado, o parceiro estratégico não poderá alienar a suas ações durante um período de 5 anos, tendo para tal de ter autorização do Governo. Passado este período e caso pretenda faze-lo, o governo tem sempre direito de preferência».

O comunicado da UAEE destaca também que os acordos firmados prevêem ainda a possibilidade de voos ponto a ponto Praia/Lisboa, Praia/Boston e São Vicente/Lisboa, desde que sejam rentáveis.

A mesma entidade garante que o governo e o parceiro estratégico acordaram no sentido de trabalharem para o aumento de oportunidades de emprego e de desenvolvimento de competências para as diversas profissões e funções relacionadas com os transportes aéreos, Nomeadamente para os pilotos. «Neste sentido, em parceria com os bancos, o Governo vai acordar uma linha de crédito para a formação de pilotos».

Segundo a UAEE, com a combinação da venda dos 51% do capital social da TACV e essas medidas, o governo foi para além de salvaguardar o interesse nacional: «transformou uma empresa tecnicamente falida, numa empresa que vai levar Cabo Verde ao Mundo e apoiar a aceleração do crescimento económico do pais, criando assim riqueza e novos postos de trabalho», refere o comunicado que vimos citando.


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